Paulo Raimundo foi eleito secretário-geral do PCP em novembro.
Paulo Raimundo foi eleito secretário-geral do PCP em novembro.António Cotrim/Lusa

Independentes apelam ao voto na CDU

Ex-militantes comunistas e bloquistas, anarquistas e independentes em geral defendem a importância de votar no PCP.
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São 167 independentes, alguns deles que chegaram a militar no BE, outros próximos do anarquismo ou ex-militantes que se afastaram do PCP. Todos assinam um texto de apelo ao voto na CDU, no qual assumem que nem sempre alinham com os comunistas, mas defendem que a sua presença parlamentar é fundamental.

“Não somos militantes do PCP, nem do PEV, e não partilhamos todas as suas posições. Mas sabemos da importância e seriedade das suas propostas em áreas fundamentais. Propostas que enfrentam interesses entranhados, do imobiliário à banca, e que são feitas em nome de um país que se quer solidário e autónomo”, lê-se no texto, que é assinado por ativistas sociais, como os rappers Flávio Almada e Xulajji, por jornalistas como José António Cerejo ou Emídio Fernando, mas também por nomes ligados à cultura ou à ciência.

Rui Zink, que foi muito crítico da posição dos comunistas na Guerra da Ucrânia, não tem agora dúvidas em dar-lhes o seu voto. “No Parlamento, o PCP é conhecido pela sua competência e eu gostei da geringonça”, diz o escritor ao DN, que acredita ser hoje ainda mais importante defender o espaço que ocupam os comunistas. “Por jogar o seu jogo e não cair nas armadilhas do soundbite, o PCP tem sido silenciado. O verdadeiro cordão de silêncio é à volta do PCP e isso é objetivo. Só isso já me faz gostar dele”, argumenta Zink.

Rita Silva, que chegou a ser estar nas listas para a vereação em Lisboa pelo BE e que se tem dedicado ao ativismo pela habitação, também vai votar CDU no dia 10 de março. “Eu não milito atualmente em nenhum partido, mas estou muito comprometida com a luta social e sei que os partidos não são todos iguais e que o nosso voto faz diferença”, defende a ativista, que acha que “votar na CDU pode ajudar a ter mais políticas que defendem as pessoas comuns, quem trabalha, e não dar a maioria absoluta ao PS, mas, de forma estratégica, puxá-lo para a esquerda o mais possível, para evitar o mais possível acordos à direita ou deixá-lo no centrão, que é o PS amigo das políticas neoliberais que não nos são favoráveis”.

José António Cerejo, antigo jornalista do Público, assume pela primeira vez de forma pública o apoio a um partido. “Tomei agora esta posição porque acho que o momento é especial, mas também porque estou reformado.” Para Cerejo, o voto na CDU é uma forma de contrariar “os ventos dominantes” da política neoliberal. “Embora eu discorde em muitas coisas do partido, faz muita falta a voz do PCP na Assembleia da República”, afirma.

O texto que os 167 sem filiação partidária assinam defende que “a diminuição da representação parlamentar do PCP tornou a vida mais difícil para as classes populares”, mas também que dar força aos comunistas é uma forma de procurar caminhos alternativos à lógica dominante e de não voltar à ideia do voto no mal menor. “A injustiça e as desigualdades económicas e sociais não se resolverão numa simples competição mediática de apuramento do carisma ou competência retóricas desta ou daquela liderança”, dizem. Para já, têm um mote, roubado ao recentemente falecido poeta Manuel Gusmão: apresentam-se como a “esperança que não fica à espera”.

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