Matar o preconceito antes que nasça: O papel da literatura infantil

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Os livros de histórias infantis podem ser estradas, caminhos que abrem as mentes das crianças para o desenvolvimento da empatia e para a compreensão das emoções dos outros. Sem falar evidentemente no seu papel no desenvolvimento da linguagem oral – a linguagem escrita é sempre mais sofisticada que a linguagem oral e fornece um contexto para a compreensão de palavras novas e mais difíceis. Por outro lado, o contacto precoce com os livros infantis favorece a apreensão das características do código escrito e, nesse sentido, favorece a prevenção das dificuldades escolares.

À medida que as escolas se tornaram cada vez mais multiculturais torna-se fundamental promover nas crianças a aceitação de meninos de outras culturas e a compreensão dessas mesmas culturas. A experiência em sala de aula pode ter um efeito profundo na visão que os alunos têm de si próprios, do seu lugar no mundo e do seu papel como cidadãos e a literatura infantil pode desempenhar um papel relevante na moldagem dessas experiências. Deste modo a investigação tem-se concentrado progressivamente em perceber como a literatura infantil pode ser utilizada na educação intercultural de forma a promover a consciência da diversidade e do pluralismo. Está demonstrado que a empatia, a confiança, a identidade étnica e os estereótipos são formados muito cedo na vida e uma quantidade considerável de estudos sugere que abordar a diversidade através de livros de histórias pode reduzir o preconceito ao aumentar a exposição a exemplos não estereotipados. Ao mesmo tempo, o uso de textos culturalmente responsivos parece ancorar o conhecimento culturalmente relevante dos alunos, tais como suas identidades, experiências e normas. Por outro lado, o acesso a livros infantis culturalmente diversos pode ajudar as crianças de minorias a desenvolver sentimentos mais positivos de autoestima, além de melhorar as atitudes dos alunos da maioria cultural em relação aos grupos minoritários raciais e étnicos retratados nesses livros, reduzindo o preconceito. Deste modo promove-se o que alguns autores designam «empatia intercultural» a qual constitui um pré-requisito para uma comunicação cultural eficaz.

Num mundo cada vez mais polarizado entre "aqueles que pertencem ao meu grupo" e "os que pertencem aos grupos dos outros" com todos os processos de categorização negativa inerentes muitas vezes a esta polarização – os outros são sempre os maus- prevenir o desenvolvimento de preconceitos étnicos e de racismo é não apenas contribuir para ambientes escolares mais positivos, mas também para a construção de cidadãos que olham o mundo com menos enviesamentos.

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