Rui Rio "sem vontade" de voltar à vida política, nem mesmo para as Presidenciais
O ex-presidente do PSD e antigo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, afastou ao DN a disponibilidade para regressar à vida política ativa, descartando o cenário de uma eventual candidatura à Presidência da República, que chegou a equacionar em 2015.
Em conversa com o DN à margem de um debate sobre o estado da democracia, este último sábado (30), no Porto, Rio deixou claro que não tem “grande vontade” de voltar a ocupar cargos públicos. “O meu estado de espírito neste momento, e no que prevejo para o futuro próximo, é não ter grande vontade de voltar a ocupar qualquer cargo político. O mundo dá muitas voltas, mas, sinceramente, é esse o meu estado de espírito”, afirmou, sublinhando: “Não podem ficar zangados comigo por isso. Já dei muitos anos à política.”
Ainda sobre as eleições presidenciais, Rio foi cauteloso quando confrontado com a estratégia do PSD e a vontade assumida por Luís Montenegro de apoiar um militante do partido, preferindo não comentar. Já a possível candidatura de um militar, como o almirante Gouveia e Melo, não lhe levanta reservas: “Sinceramente, acho normal”.
Costa, Marcelo e uma "oportunidade de ouro que se perdeu"
Sem querer comentar o Orçamento do Estado que foi aprovado na última sexta-feira, o ex-presidente do PSD voltou a lamentar a falta de reformas estruturais no país, sobretudo na Justiça, o seu cavalo de batalha preferencial dos últimos anos. Para o social-democrata, o país continua a desperdiçar oportunidades para realizar mudanças necessárias, mas ressalvou que o contexto atual é menos favorável para reformas profundas em comparação com o período em que esteve à frente do PSD como líder da oposição. E responsabilizou o então primeiro-ministro socialista António Costa, bem como Marcelo Rebelo de Sousa, pela oportunidade perdida.
“Hoje continuamos a perder oportunidade, porque ela já devia ter sido feita ontem, mas não com o mesmo valor da oportunidade que perdemos há 4, 5 ou 6 anos. Nessa altura, o PS tinha uma maioria absoluta e eu, enquanto líder da oposição, estava disponível para , juntamente com o Governo e com o Presidente da República, fazer as reformas de que o país necessita, a começar, desde logo, com o que mais falamos, que é a Justiça. Essa foi a oportunidade de ouro que se perdeu, porque tínhamos um líder de oposição disponível, o que é dificílimo de conseguir para as reformas. Os governos normalmente querem fazer reformas e o Presidente da República também normalmente quer que se façam, o líder de oposição é que tradicionalmente não está para os ajustes, porque corre o risco de ser diminuído, digamos assim, no seu desempenho da oposição. E portanto, as pessoas que pensam mais no seu próprio partido e em si próprios do que no país, raramente estão disponíveis para isto. Nessa altura eu estava disponível, quem não esteve foram o Presidente da República e o Primeiro-Ministro.”
Agora, com uma oposição fragmentada entre PS e Chega, e uma conjuntura mais complexa, considera que o cenário é mais complicado para reformas do Estado. "O contexto é diferente. Não só o líder de oposição não tem a disponibilidade que eu tinha como, digamos, que há um líder de oposição e um segundo líder de oposição. A oposição está mais fragmentada do que estava. Portanto, é mais difícil", disse.
Por último, com a Câmara do Porto, onde foi presidente da autarquia durante mais de uma década, mesmo ao lado, Rio deixou transparecer que não é propriamente fã do trabalho do seu sucessor, Rui Moreira, que está a chegar ao limite de mandatos. Com eleições autárquicas no próximo ano, Rui Rio admite ver "algumas coisas com descontentamento", mas também aqui prefere "não aprofundar". Uma certeza deixa: não é hoje um portuense mais satisfeito do que há 11 anos, quando passou a pasta. "Isso, naturalmente, não".