Borrell (esquerda) com o francês Stephane Sejourne e o luxemburguês Xavier Bettel, em Bruxelas
Borrell (esquerda) com o francês Stephane Sejourne e o luxemburguês Xavier Bettel, em BruxelasEPA

Ministros da UE boicotam reunião em Budapeste para “castigar” Orbán

A medida “simbólica” pretende assinalar o descontentamento sobre as posições da Hungria face à guerra na Ucrânia e a recente deslocação de Viktor Orbán a Moscovo para se reunir com Vladimir Putin
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O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, anunciou, em Bruxelas, que a próxima reunião informal do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE) não se realizará em Budapeste, mas sim na capital belga. A decisão foi adotada após intensas discussões sobre a proposta de Budapeste de realizar a reunião informal na capital húngara. A proposta gerou controvérsia devido à política externa da Hungria, em particular às declarações do Primeiro-Ministro húngaro, Viktor Orbán, vistas como contrárias à política da União Europeia.

De acordo com Borrell, a alteração do local da reunião é uma medida com “consequências simbólicas” para mostrar descontentamento com a posição da Hungria, especialmente em relação à guerra na Ucrânia e às declarações que desqualificaram a política da UE como “pró-guerra”. 

Lembrando que os 27 estão obrigados pelos tratados à “cooperação leal e implementação das posições comuns em matéria de política externa”, o chefe da diplomacia europeia reiterou que a posição de Bruxelas face à guerra na Ucrânia é a de condenar a agressão de Moscovo, considerando que “Putin é o único a favor da guerra”.

“Depois de ouvir todos e passar horas a discutir e a tentar entender as razões de uns e de outros, tive de tomar uma decisão. E considerei que, se 25 Estados-membros estavam fortemente contra esta posição, (...)  temos de enviar um sinal, mesmo que seja um sinal simbólico, de que ser contra a política externa da União Europeia e desqualificar a política da União Europeia como parte pró-guerra tem de ter algumas consequências”, enfatizou Borrell. A reunião fica agendada para a última semana de agosto.

Portugal esteve representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que sublinhou que Orbán não tem “nenhum título europeu” e que a presidência do Conselho da União Europeia “não implica nenhum poder na política externa”. Porém, “o facto de ter agido desta maneira”, tendo viajado para Moscovo para encontrar Putin numa suposta missão de paz, no início de julho, “enquanto a Hungria detém a presidência do Conselho da União Europeia, cria uma contradição entre a sua visão sobre o conflito Rússia-Ucrânia e a visão da União Europeia”.

Destacando que a posição de condenação da UE à guerra de agressão lançada pelo regime de Vladimir Putin contra a Ucrânia “está mais do que estabelecida”, e que “há imensas posições do Conselho Europeu, do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia que não deixam margem para dúvidas”, Rangel destacou que o expectável é que “o primeiro-ministro do país que tem a presidência tome posições públicas que reflitam o consenso existente na União”.

“Como Orbán não o fez, foi criticado”, relatou o ministro, detalhando que “Portugal, por exemplo, criticou várias vezes a diligência da Hungria junto da Rússia, que estabelece uma relação directa que, no quadro das decisões prévias da União Europeia, não deveria ter ocorrido”.

Médio Oriente

Borrell alertou também para a degradação da situação na Faixa de Gaza, onde se assiste a “uma catástrofe humanitária, causada pelo homem, de dimensões insuportáveis”, com “17.000 órfãos e quase 40.000 pessoas mortas”.

“Para reconstruir Gaza, serão necessários dez anos para remover os escombros”, avisou, lamentando que “infelizmente, o cessar-fogo que o Presidente Biden tem proposto não está a ocorrer”. E, com a continuação do conflito, corre-se o risco deste alastrar à região.

“Estamos perante uma situação catastrófica”, afirmou Josep Borrell, admitindo a preocupação entre os ministros, que concordaram que é necessário aumentar a ajuda humanitária a Gaza, através de um empréstimo de 200 milhões de euros, “em condições vantajosas”.

Outros temas

Josep Borrell anunciou também a “primeira medida” de assistência do Fundo Europeu de Paz para a Arménia, no valor de cerca de 10 milhões de euros. Além disso, os 27 concordaram com o lançamento de um diálogo para a liberalização de vistos com a Arménia.

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