Golfe tem impacto de quatro mil milhões de euros na economia
O impacto do golfe na economia do país duplicou desde 2019, atingindo os quatro mil milhões de euros. A atividade é ainda responsável pela criação de 20 mil postos de trabalho. Os dados são avançados ao DN/Dinheiro Vivo pelo Conselho Nacional da Indústria do Golfe (CNIG) e integram um estudo macroeconómico sobre o setor que está a ser ultimado pela entidade. Neste valor inserem-se os serviços adquiridos pelos jogadores da modalidade que, além das receitas diretas dos campos de golfe, somam outros consumos como o aluguer de buggies, a restauração, a hotelaria, o aluguer de viaturas, os transferes, o comércio e a cultura.
A atividade cresce à boleia do fôlego do turismo e 2023 fechou com indicadores recorde, com as receitas diretas, que correspondem exclusivamente ao valor que os jogadores pagam para jogar (green fees) a avançar 4% para os 160 milhões de euros.
Os turistas estrangeiros são responsáveis pela maior fatia das voltas (85%), e o Reino Unido continua a ser o principal mercado, seguindo-se a Suécia, a Alemanha e a França. “Há alguns mercados emergentes como o norte-americano, que continua a crescer, mas tem ainda uma expressão baixa - principalmente no Algarve, está mais presente na zona de Lisboa”, explica o presidente do CNIG.
Apesar de a maioria dos jogadores chegar de fora, Nuno Sepúlveda sublinha a relevância dos residentes. “Continuam a valer 15% das voltas de golfe, mas atuam em alturas e regiões diferentes, mais centrados no Porto, ilhas e Lisboa. É outro tipo de negócio e continua a ser um mercado importante”, aponta.
Para o responsável, é imperativo atrair um maior número de jogadores dos Estados Unidos, Canadá e Ásia mas, para isso, urge resolver desafios e modernizar a oferta do país.
“Estes mercados querem produtos com outro tipo de qualidade e, neste momento, alguns não a têm. No nosso parque [que totaliza 89 campos de golfe], a grande maioria dos campos tem entre 20 e 40 anos. O tempo de vida útil de um campo pode ser 30 anos, por isso, estamos numa altura que muitos destes campos têm que ser renovados e atualizados”, indica.
O presidente do CNIG defende ainda o reposicionamento da oferta hoteleira do país com uma maior aposta em marcas internacionais que “criem uma relação com estes clientes”. E no capítulo do investimento, o representante do golfe pede ao Governo linhas de apoio específicas para o setor. “É uma prioridade. Infelizmente, há poucas ajudas e, por exemplo, no PRR, a palavra ‘golfe’ não é sequer mencionada. Seria importante sermos elegíveis para linhas de financiamento porque, atualmente, é tudo feito à base da iniciativa privada”, lamenta.
“Este negócio traz mercados para o país de altíssima qualidade, estadias longas e fora da época alta. Não traz um mercado de massas em julho ou agosto, mas sim, um mercado qualificado em março, abril, outubro e novembro. É absolutamente estratégico. Portugal não tem tamanho para competir em escala e em volume, mas em qualidade e serviço. E isso faz-se com produtos bons e atualizados”, acrescenta.
Seca ameaça negócios
A questão hídrica e a seca, em particular na Região do Algarve, é outro dos desafios para a sobrevivência do negócio. “Alguns resorts e campos de golfe podem encerrar. Não podemos continuar só à espera de que chova para resolver os problemas da água. Ou o Governo acelera os processos de dessalinização e começa, em conjunto com autarquias, a implementar planos para poupar mais água, ou haverá encerramentos se não chover. Termos um negócio que depende da chuva é um risco muito alto”, refere. Atualmente, há cerca de cinco projetos, entre o Alentejo e o Algarve, que não abrem devido aos problemas da falta de água.
Nuno Sepúlveda rejeita as críticas de que o golfe faz parte do problema na escala de consumo. “Os campos de golfe consomem água, mas também a gerem bastante bem. Nós só pesamos 6% do consumo de água na Região do Algarve. O problema não está nos campos de golfe. Temos feito grandes atualizações nos nossos campos, com relvas que consomem menos de 50% de água. Temos feito utilizações de novas estações de bombagem com maior eficiência de rega e temos sistemas de monitorização da água. Hoje em dia andamos a regar ao milímetro”, atesta. O presidente do CNIG assegura que os empresários “estão dispostos a pagar e a contribuir” para a solução, mas que é ao Governo que cabe a resolução do problema.