O Tape Aviru dos guaranis, 500 anos depois

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Se existe algo que caracteriza  o meu país, o Paraguai, e de que este se orgulha é o enorme legado do seu povo autóctone, os guaranis. Não só a sua língua sobreviveu à conquista, mas também a sua visão do mundo, os seus conhecimentos de botânica e muitos outros saberes que foram transmitidos de geração em geração em diferentes artes e ofícios, como a cerâmica e o artesanato têxtil, para citar alguns. Os guaranis, que ocuparam um vasto território na América do Sul, não deixaram para trás, como outros povos ameríndios, grandes estruturas edificadas. Eram povos nómadas, e foi justamente essa característica que fez com que deixassem o seu rasto em todo o continente sul-americano interligado por uma rede de caminhos, dando nomes a sítios naturais, lugares e cidades dos países que constituem hoje o MERCOSUL. O Tape Aviru é essa rede de caminhos por onde viajavam os povos nativos. Atravessava a grande mata atlântica de leste a oeste, saindo do litoral de Santa Catarina, Brasil, atravessando território paraguaio e boliviano, até chegar ao sopé da Cordilheira dos Andes. Entre os séculos XVI e XVII, foi percorrida por vários exploradores europeus. Em 1923, o escritor português Mário Monteiro publicou o livro intitulado Aleixo Garcia, descobridor português do Paraguai e da Bolívia em 1524/1525, glória desconhecida de Portugal. Este trabalho é resultado de investigações e de uma viagem inesquecível ao Cone Sul, seguindo os passos de Aleixo. Este explorador português é reconhecido como o primeiro europeu a percorrer os trilhos do Tape Aviru em 1524, há exatamente 500 anos, saindo do litoral de Santa Catarina até chegar ao atual território do Paraguai e da Bolívia, chegando depois aos Andes em busca de metais. O Tape Aviru representa hoje um grande potencial para as comunidades locais desenvolverem o ecoturismo, as caminhadas e o turismo cultural.

A próxima participação da ministra do Turismo do Paraguai, Angie Duarte de Melillo, nos Workshops Internacionais de Turismo Religioso em Ourém, Fátima, nos dias 22 e 23 de fevereiro, sendo o Paraguai um país convidado, é uma oportunidade para continuar a construir pontes com Portugal, ligando os dois países através da cultura, da história e do turismo, promovendo a cooperação com a troca de experiências e boas práticas. Neste evento especializado apresentaremos as rotas jesuítas e franciscanas, que passam por pitorescas cidades do Paraguai, entre serras e paisagens campestres, onde se destacam a hospitalidade e a gastronomia local e onde o visitante poderá apreciar igrejas com belos retábulos barrocos, como o do templo de San Buenaventura de Yaguarón, obra do português José de Sousa Cavadas, ou sentir a experiência de ser transportado no tempo visitando as Missões de Jesus e Trinidad, declaradas Património Mundial pela UNESCO. Vale a pena cultivar permanentemente a rica história que nos entrelaça com as gentes da Península Ibérica, para nutrir e fortalecer os nossos vínculos. Em relação aos 500 anos da chegada de Aleixo Garcia ao Paraguai é importante lembrar também que 2024 é o ano do V Centenário do nascimento do maior escritor de língua portuguesa Luis Vaz de Camões e do V Centenário da morte do grande navegador e explorador, o português Vasco da Gama. Nesse sentido, gostaria de encerrar este artigo com um trecho do livro do referido escritor português Mário Monteiro, que reproduz parte de uma carta que lhe foi endereçada pelo intelectual paraguaio Juan Stefanich datada de 28 de julho de 1916, em Assunção - “…Portugal ! Os seus audazes ​​marinheiros abriram a rota dos mares tempestuosos nas brumas do passado e traçaram na quilha dos seus navios o fabuloso poema da alma lusitana. Camões cantou as suas façanhas. E nas estrofes épicas da canção imortal, as três glórias juntas voarão pelo mundo: a glória do soldado, a glória do poeta e a glória da sua pátria: Portugal…”.

Embaixador do Paraguai

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