Vão morrer longe
O Governo israelita não está interessado na paz, não quer um acordo para libertar reféns e acabar com a guerra em Gaza, nem quer desescalar o conflito ali ou no norte, com o Hezbollah. Netanyahu e os radicais judaicos seus aliados trabalharam durante décadas para eliminar a Fatah e apoiaram a criação do monstro que é o Hamas, apostando na radicalização e polarização da “questão palestiniana”. Netanyahu e o seu Governo de radicais, para quem uma “solução de dois Estados” é anátema, aproveitam o massacre do 7 de Outubro para promover a guerra em busca da “vitória total”.
Além disso, Netanyahu quer desesperadamente permanecer no cargo, para evitar que o processo judicial de corrupção contra ele continue e leve à sua [provável] condenação.
As lideranças palestinianas estão hoje radicalizadas e continuam a recusar uma “solução de dois Estados”. Preferem continuar a batalhar pela destruição de Israel, a educar os filhos para “o martírio” e a criar milícias terroristas.
A presente liderança do Irão financia movimentos terroristas como o Hamas, o Hezbollah, o AnsarAllah, num pano de fundo de crescente impopularidade do regime teocrático. Um inquérito do Gamaan, de fevereiro de 2024, junto da população adulta iraniana, mostra que, num referendo onde se perguntasse: “República Islâmica: sim ou não?”, apenas 16,5% dos inquiridos declaravam apoiar a manutenção de uma república islâmica; 74,6% dão resposta negativa.
O assassinato, em Teerão, do líder do Hamas oferece o pretexto para a liderança iraniana cavalgar a retórica histriónica antiocidental, usando os inimigos externos como fator de relegitimação de um regime impopular, tentando desviar as atenções da repressão interna; mas cuidando de não dar origem a uma nova guerra que poderia aumentar ainda mais o descontentamento popular e ser fatal para o regime teocrático radical.
Curiosamente, no mesmo inquérito do Gamaan, também se perguntou aos inquiridos quem consideravam ser o principal responsável no conflito Israel-Hamas, com cerca de 35% culpando o Hamas como o principal responsável pelo conflito, 20% Israel, e 31% ambas as partes.
Nem Israel, nem o Hamas, nem o Irão querem a paz. Parte da opinião pública ocidental exige que se façam esforços nesse sentido, outra parte está farta deste peditório. O Governo americano, em vésperas de eleições, quer capitalizar para a candidatura Democrata um acordo qualquer - de tréguas, de cessar-fogo, whatever - com que possa esgrimir politicamente.
A radicalização e a polarização certamente continuarão a campear na política israelita e palestiniana. Em breve todos perderemos a pachorra para tanta excitação com o que não tem solução e quereremos que as partes nesse conflito vão morrer longe.