Há mais vida para além de Trump!
A inflação e a imigração ditaram a derrota de Kamala Harris nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Queixam-se os agricultores do elevado custo das suas ferramentas agrícolas. Os tratores estão pela hora da morte. O combustível diesel subiu de preço como nunca se tinha verificado nos Estados Unidos. O norte-americano médio lamenta o custo da alimentação, para já não falar dos valores exorbitantes para alugar ou comprar um apartamento. A par da inflação, a imigração desregulada e a enorme pressão que a mesma coloca na sociedade norte-americana ditou a derrota do partido democrata nestas eleições.
A juntar à componente económica e à imigração, um certo elitismo dos democratas e uma falha na escolha dos temas a apresentar na campanha eleitoral levou a uma vitória, algo surpreendente, de Donald Trump. A defesa do aborto e as propostas de Kamala Harris em temas mais fraturantes, radicais, em detrimento da economia, não motivaram o eleitorado norte-americano.
Que os tempos não vão ser fáceis é uma evidência à qual não podemos fugir. Donald Trump é ignorante, boçal, não tem uma gota de espírito democrático, tem fortes tendências ditatoriais e é dotado de uma arrogância perigosa para quem tem de gerir os destinos da (ainda) maior potência mundial.
O futuro ditará o destino da Nato. É possível que a pressão da União Europeia não permita o fim da organização, mas Trump pode sempre estrangular, financeiramente, a Nato prejudicando a sua prestação. A União Europeia terá de gerir a sua própria defesa militar dado que, com Trump, o guarda chuva norte-americano poderá deslocar-se para outras paragens.
É um tempo de incerteza o que vamos viver no futuro. Um excesso de protecionismo da economia norte-americana tenderá a desregular os equilíbrios mundiais que gerem a globalização que, com todos os seus defeitos, vai possibilitando o crescimento económico de alguns países, financeiramente, mais débeis.
Trump desejará perpetuar-se no poder. Vamos ver se as, habitualmente, seguras e credíveis instituições norte-americanas vão ter força suficiente para impedir o desvirtuamento dos princípios democráticos vigentes, impedindo-o de instalar nos Estados Unidos mecanismos ditatoriais.
A questão ambiental pode vir a sofrer um perigoso retrocesso, se atendermos ao pensamento (?) político de Trump ao incentivar a continuidade na prospeção de hidrocarbonetos.
A política externa estadunidense vai, seguramente, sofrer alterações perigosas para todo o mundo. O que acontecerá à Ucrânia? O fim dos apoios militares e financeiros dos Estados Unidos aquele país vai constituir um perigo para a segurança da Europa. Putin sai reforçado com a resultado destas eleições. Uma nova ordem mundial pode conhecer significativos avanços com uma mais acentuada preponderância de Moscovo e Pequim na geopolítica mundial.
No Médio Oriente a questão israelita poderá agravar-se com uma escalada no terreno que terá agora o aval de Trump, que não se coibirá de dar um maior apoio aos falcões de Israel.
Talvez o partido democrata perceba, agora, os graves erros que cometeu em todo este processo. A inexistência de uma renovação nos seus quadros, a persistência inicial na escolha de Biden como candidato e a tardia opção na escolha de um candidato forte que pudesse fazer frente a Trump levou a uma profunda derrota dos democratas.
O Mundo vai ficar mais perigoso, sobre isso não tenhamos dúvidas. O populismo ganhou uma nova força com o resultado destas eleições norte-americanas.
Esperemos que a sensatez e razoabilidade continuem nos países onde os valores democráticos são uma realidade. A União Europeia vai ter um papel mais importante na definição dos equilíbrios mundiais. Oxalá esteja à altura de o desempenhar.
Haverá sempre mais vida para além de Trump.