No país dos planos

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Muitas vezes, na nossa vida pessoal, o verdadeiro encanto de algumas coisas vem do “não haver planos”. Já cheguei a ter experiências absolutamente incríveis em viagens que fiz e onde optei por não seguir o tradicional mapa das atrações locais, e por causa disso conheci paisagens de tirar o fôlego, encontrei uma praia que ninguém conhece, e estive num café escondido onde conversei com habitantes locais e acabei a noite a cear em suas casas.

Há, de facto, uma considerável dose de encanto quando decidimos não fazer planos, e deixarmo-nos simplesmente levar, mas já quando transpomos esta ideia para a nossa esfera profissional, ou mais ainda para os destinos de um país, o improviso raramente dá bom resultado.

Um qualquer país, e o nosso em particular, precisa de Planos de Ação, enquanto formas organizadas de se alcançar metas e objetivos. Eles são necessários para que se transformem ideias em realidade, mas de uma forma organizada, com uma gestão de tempo e recursos, eficaz e eficiente.

E nisso (ter Planos), verdade seja dita, o nosso país é perito. Temos Planos para todos os gostos. Só nos últimos meses, temos Planos para as Migrações, Planos para a Saúde, Planos para reduzir alunos sem aulas, Planos “+Aulas +Sucesso”, Planos “Tens futuro em Portugal”… e por aí fora. Se a isso juntarmos “Agendas”, “Estratégias”, “Programas” e afins, o número sobe exponencialmente. Só o Programa “Acelerar a Economia”, apresentado pelo Governo no passado mês de julho, contempla muitos outros Planos, Estratégias e Programas.

Não é, assim, por falta de Planos, lato sensu, que o nosso país não avança, mas de tempos a tempos (por vezes não muito), muda-se o Governo, mudam-se as vontades, e mudam-se os Planos. Percebe-se que os Governos têm diferentes visões sobre qual o rumo que deve levar o país, mas há áreas que necessitam de mudanças profundas, e cujos “Planos” não se devem esgotar nas legislaturas.

Não quero ir tão longe quanto um “pacto de regime”, mas vamos chamar-lhe apenas acordos sobre questões estruturais e fundamentais para o país, que devem transcender ciclos eleitorais e diferenças ideológicas.

Sei que as tentativas nesta matéria não passaram disso mesmo e não quero parecer ingénua, mas acredito que todos sairíamos a ganhar se criássemos bases estáveis que assegurassem a continuidade de políticas essenciais para o desenvolvimento e a estabilidade nacional, superando-se divisões partidárias em nome de um interesse maior, que é o interesse nacional.

Mal comparado, a Concertação Social tem essa matriz (quando não-desvirtuada), ao reunir Governo, sindicatos e associações patronais para acordar políticas laborais e desenvolvimento económico. Ao longo dos anos, foi aqui que vários Governos e seus parceiros sociais conseguiram acordos importantes, e todos sabemos a dificuldade que é, empregadores e sindicatos chegarem a acordo, ainda para mais com a “chancela” do Governo.

O meu desejo é que haja maturidade, bom senso, inteligência e liderança para moldar os consensos necessários nas questões estruturais e cruciais do país.

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