Os ingleses são os principais turistas na região durante os meses de calor.
Os ingleses são os principais turistas na região durante os meses de calor.ALGARVEPHOTOPRESS / Global Imagens

Portugueses trocam Algarve pelo estrangeiro, mas preços e turistas internacionais compensam

Ocupação está acima dos 90%, com o preço médio por noite a subir 10% face a 2023. Britânicos, franceses, irlandeses e alemães dominam, mas norte-americanos estão a aumentar.
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Longe vão os tempos em que o Algarve ocupava a prioridade das preferências dos portugueses na hora de programar as férias de verão.

Depois da pandemia, é para fora de portas que o mercado nacional está a rumar durante os meses mais quentes do ano. O quadro, que se tem afirmado desde o ano passado, reflete-se já nas reservas dos hotéis da região, que garantem que a procura do mercado interno continua a arrefecer. “As reservas de portugueses têm estado um pouco abaixo dos anos anteriores. Neste momento, julho e agosto estão um pouco abaixo na procura do mercado nacional. Esta situação deve-se ao aumento da oferta de operações de charters internacionais”, enquadra o diretor de marketing e vendas do Vila Galé, Pedro Ribeiro. A verdade é que os portugueses estão a optar cada vez mais por passar férias fora de portas. Só no primeiro trimestre deste ano as viagens dos residentes no território nacional caíram 10%, revelou, na passada sexta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE). Por outro lado, as viagens com destino ao estrangeiro cresceram 9,2% entre janeiro e março.

 Para o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA) este é um cenário “natural”, que resulta da confiança nas viagens internacionais no pós-pandemia. “É natural que os portugueses aproveitem o período maior de férias para visitar destinos mais distantes. O Algarve está logo ali e, portanto, num qualquer fim de semana ou feriado aproveitam para ir lá”, explica André Gomes.

As promoções para destinos no estrangeiro têm seduzido o mercado nacional este ano, que, ao fazer contas, tem optado por trocar o Sul de Portugal por outros países. O cenário não representa motivo de ameaça para o líder da RTA. “Reconhecemos que temos muitos destinos concorrentes que são muito mais agressivos nas campanhas que fazem de baixa de preços para poderem atrair mais turistas, mas a nossa aposta não tem sido essa. Não apostamos em políticas agressivas de baixas de preços para captar mais turistas numa altura em que, de facto, as nossas ocupações já estão quase sempre muito perto dos 100%”, atesta André Gomes.

O responsável salienta, no entanto, que o Algarve está bem servido de portugueses, que pesam cerca de 30% na atividade da região. Ainda assim, acredita que este número poderá ser superior àquele que é explanado nas estatísticas oficiais. “O INE não contabiliza os Alojamentos Locais (AL) inferiores a 10 camas. Na região do Algarve temos mais de 44 mil registos de AL e não tenho dúvidas de que 80% destes correspondem a unidades com menos de 10 camas. Estamos a falar de um largo número de milhões de turistas, nacionais em particular, que não estão a ser contabilizados. Podemos dizer, de facto, que para as outras regiões o cenário é igual, é verdade. Mas as outras regiões não têm o peso do AL nem da procura que o Algarve tem, nomeadamente na época alta.”

Preços atingem recorde

Do lado dos hoteleiros as projeções para a época alta fazem-se com otimismo até setembro e o abrandamento da procura nacional tem sido compensada pelos principais mercados emissores da região, como os ingleses, franceses, irlandeses, alemães e também pelo crescente interesse dos norte-americanos. Os hotéis estão cheios e as ocupações acima de 90%.

“A procura para agosto mantém-se forte e esperamos que aumente nas reservas de última hora. Para setembro registamos, neste momento, uma procura muito forte de todos os segmentos, reforçando o prolongamento da procura de verão para este mês”, adianta Helder Marcelino, diretor de negócios em Portugal da Minor Hotels, grupo que detém os hotéis Tivoli.

Os hoteleiros assumem que os preços médios por noite aumentaram este verão entre 5% e 10%. “As tarifas em território nacional continuam a ser atrativas para o mercado externo, uma vez que a capacidade financeira de outros mercados, nomeadamente dos Estados Unidos, entre outros, se destaca no número de noites que despendem no destino. O que, por arrasto, traz valor para outros setores da indústria, como seja a restauração”, aponta Inês Junqueira, porta-voz da Amazing Evolution, empresa que gere o hotel White Shell Beach Villas.

A subida dos preços deverá ser menos expressiva em comparação com o ano passado e há uma explicação para este avanço mais modesto. Em 2023 as tarifas deram um salto histórico na região, com o rendimento médio por quarto ocupado (ADR) a atingir, em agosto, o valor mais alto de sempre, fixando-se nos 194,83 euros, segundo os dados do INE. Ou seja, passar uma noite num alojamento turístico da região algarvia custou mais 23% face ao mesmo mês de 2019. Este ano as tarifas continuam a atingir máximos, com o ADR a chegar aos 107,3 euros (+8%) em maio, de acordo com os últimos dados do INE. Embora ainda não haja números oficiais disponíveis para os meses de junho e julho, é possível concluir, para já, que este verão será de novos recordes no capítulo dos preços. O porta-voz do Vila Galé, o segundo maior grupo hoteleiro do país, alerta, no entanto, para um “aumento de custos devido à inflação”, o que se poderá refletir “na margem operacional” das unidades.

Ainda assim, os proveitos totais - que somam ao alojamento outros gastos inerentes à estada dos turistas, como restauração, lavandaria, entre outros serviços - das unidades da região cresceram 9,1% até ao quinto mês do ano, totalizando 413 milhões de euros. O Algarve foi a segunda área do país com mais proveitos, ficando apenas atrás da Grande Lisboa. “Os preços têm de acompanhar a qualidade do serviço prestado e, portanto, se há uma aposta da região na valorização dos seus serviços e trabalhadores, também, obviamente, tem de haver uma correspondência com o aumento do preço do serviço”, defende o presidente da RTA. Ainda assim, André Gomes reitera que não acredita que exista “margem para a região continuar a ter crescimento de preços como aconteceu nos últimos dois, três anos”.

rute.simao@dinheirovivo.pt

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