E o Sudão, pá?!
Diluída na maré alta do Médio Oriente, a República do Sudão foi objecto de mais “uma ira de Deus”, umas cheias de fim de Agosto ao jeito das “Águas de Março”, que no leste do país romperam a represa de uma barragem (Arbaat 40 km a norte de Port Sudan), obliterando assim vinte aldeias! Trinta mortos confirmados, mais 150 a 200 desaparecidos, em zona já devastada pela guerra civil desde a Abril de 2023.
Do ponto de vista humanitário, a situação é comparável ao cenário de cheias que assolaram Derna na Líbia, em Setembro do ano passado. 50 mil pessoas sem casa, na zona em que estão contabilizáveis, prevendo-se que estes números vejam subida vertiginosa quando “a lama assentar e o pó levantar”!
Do ponto de vista da guerra, publiquei em Abril do ano passado uma Análise/DN sob o título, “No Sudão nem o Exército Nacional é um Exército Nacional, nem as Forças de Reacção Rápida (FAR) são um Exército Nacional”, o que atomiza numa frase uma das géneses da gula do “semi-general” Hemetti das FAR e do “CEMGFA” Burhan!
A República do Sudão em números, é “toda uma Palestina sem o barulho das luzes… vezes dez”! Antes da guerra, a instabilidade política de longo termo, bem como a pressão económica, registava 16 milhões de pessoas dependentes de ajuda humanitária. Desde Abril do ano passado, quase 25 milhões de pessoas, mais de metade do país encontra-se em “Dire Straits” (Apuros Diversos);
12 milhões de refugiados, sendo que 10 milhões (um Portugal inteiro mais Olivença, imagine) permanecem no território, fazendo dos mesmos a maior concentração interna de refugiados do mundo;
A estas deslocações em massa das populações, equivalem sempre, ou quase sempre, matanças em massa, quer por questões étnicas e/ou por mera contabilidade, quando a água no poço não chega para todos (população e gado). É aliás o “critério água”, que leva os grupos mais fortes e mais numerosos e eliminarem as outras bocas de outros grupos, sendo o acto relatado nos media que contam e influenciam, enquanto “critério étnico”, quando não o é! O Darfur foi e é isto. Entre quem tem direito a beber primeiro, as minhas 50 cabras ou as tuas 55? Não ganha quem tem mais cabras, ganha quem tem mais força, quem tem mais armas. E neste inóspito “far-west oriental”, onde não há imagem não há notícia e assim se impõem e legitimam “as boas armas”, génese da luta entre um latifundiário poderoso, o “semi-general” e um militar de carreira, que carregava a maleta do presidente Omar Bashir, antes de o destronar!
O “Soudan”, que em árabe significa negro, preto (falo de cores), há muito em tormenta, precisa de uma aberta da luz das televisões, das rádios e dos satélites, para sair desta “escuridão transparente”, já que parece que olhamos e nada vemos!
“Bon Courage Soudan”!
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Escreve de acordo com a antiga ortografia