“É inaceitável que continuem a encerrar serviços por falta de médicos”. Foi desta forma que a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam) comentou ao DN o facto de continuar a haver serviços de urgência que estão a encerrar temporariamente por falta de profissionais. E, ainda por cima, “com a agravante de haver ocultação de informação”, afirma Joana Bordalo Sá, referindo-se ao facto de o Ministério da Saúde ter deixado de publicar os mapas com esta indicação. E se houver “consequências nefastas, a ministra da Saúde será a responsável por estas nos doentes”. Para Joana Bordalo e Sá toda esta situação faz “adivinhar um verão caótico”..Ana Paula Martins quis fazer mudanças, decidindo que os mapas sobre o funcionamento dos serviços de urgência não seriam mais publicados no Portal do SNS, como era feito pela Direção Executiva em funções até maio. Em vez disto, a ministra pediu aos utentes que ligassem para as linhas SNS24 e SOS Grávida que seriam as portas de entrada no SNS durante o período de verão. Quem ligasse seria referenciado para as urgências da especialidade que estariam a funcionar na sua área..Até quarta-feira, dia em que a ministra foi ouvida no Parlamento sobre o Plano de Emergência de Transformação da Saúde (PETS), a linha SOS Grávida tinha recebido uma média diária de 275 chamadas, sendo a esmagadora maioria dos casos encaminhados para observação em unidades das áreas de residência. Para a titular da pasta esta situação é bem melhor do que “as grávidas terem de ir à internet para ver o serviço que estava aberto ou terem de ligar para o INEM para as ir buscar à porta de uma urgência fechada”, explicou aos deputados. .Mas as críticas sobre esta alteração não se fizeram esperar, sobretudo do lado dos sindicatos e da própria Ordem dos Médicos, com o argumento de “falta de transparência”. “É inaceitável que empurrem os doentes e as grávidas para uma linha telefónica e que os limitem, como alternativa, ao recurso a uma teleconsulta, como já acontece com o serviço de urgência pediátrica no interior do país”, sublinhou ao DN a presidente da Fnam. .Até agora, alguns profissionais, nomeadamente o representante da Ordem dos Médicos, têm considerado que o facto de os utentes terem de ligar para uma linha telefónica não pode invalidar a publicação dos mapas das escalas das urgências. Carlos Cortes defende ser “informação útil para os utentes e para os profissionais”. E os mapas vão voltar a ser publicados. A ministra anunciou no Parlamento que a informação seria disponibilizada durante o dia de ontem, mas tal não aconteceu..Segundo foi explicado ao DN por fonte do ministério, “a informação disponibilizada no sistema pelos hospitais está a ser validada e os mapas só serão publicados quando tivermos a certeza que os dados estão atualizados e coerentes com a realidade. E isto está a demorar mais tempo do que se antecipou”. À partida, só esta sexta-feira é que esta informação deverá começar a estar disponível no site do SNS..Mas, ao contrário do que era feito, estes mapas devem ser atualizados semanalmente e não mensalmente, embora, mesmo assim, a ministra considere que é informação que vai estar “permanentemente desatualizada”, porque algumas situações de escalas em aberto poderão ser, entretanto, resolvidas com os médicos do quadro ou com contratações de prestação de serviços..Por isto mesmo, a ministra voltou a pedir aos utentes que continuem a ligar para as linhas SNS24 e SOS Grávida. “Os tais mapas que já eram feitos vão estar online para informação. Contudo, por favor, liguem primeiro para a Linha SNS e SOS Grávida. Admito que haja uma ou outra situação menos rápida no encaminhamento, mas não é tanto na linha para as grávidas, é mais na linha geral”, disse, destacando que daqui serão encaminhados para “os serviços de observação hospitalar adequados”..Para a Federação Nacional dos Médicos a necessidade de encerrar serviços de urgência por falta de clínicos “só acontece porque a discussão de salários, carreira e condições de trabalho no SNS ficou para último plano em termos de prioridades para o Governo”. Ou seja, sublinha a presidente, “estão a tentar remediar com alternativas que podem ter consequências nefastas para os utentes. E adivinha-se um verão caótico”. .Joana Bordalo e Sá reitera que “as soluções da Fnam já foram apresentadas e a receita mantém-se: é urgente negociar salários de base justos e condições de trabalho dignas, para que haja médicos de norte a sul, do litoral ao interior e nas ilhas, tanto nos centros de saúde como nos hospitais do SNS”..Há duas semanas o Governo apresentou o PETS com medidas que apostam em incentivos para tentar resolver situações mais imediatas, mas a Fnam argumenta que “os médicos não querem viver à custa de horas extra, não estão disponíveis para fazer mais do que as 150 horas extra anuais a que estão obrigados, nem querem retribuição à custa de incentivos que pressupõem mais tempo de trabalho ou suplementos à custa de perda de direitos”. .As próximas reuniões com os sindicatos estão marcadas para a última semana de junho e estes esperam que em cima da mesa esteja a questão das grelhas salariais, o que não aconteceu no último encontro, senão não haverá “protocolo negocial”..O Movimento de Médicos em Luta avançou com uma carta aberta à ministra fazendo saber que, se não for alcançada uma proposta de protocolo negocial aceitável, os médicos voltarão às minutas de recusa de fazerem mais do que as 150 horas ou do que as 250 horas previstas na lei. O DN tentou ouvir ainda o Sindicato Independente dos Médicos sobre as questões das urgências e a antevisão para o verão, mas não foi possível até à publicação deste texto..