Blindados da Revolução dos Cravos voltam a circular
PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

Blindados da Revolução dos Cravos voltam a circular

Veículo blindado de 1942 tem estado a ser restaurado com recurso a quase mil peças para receber nova vida por ocasião do 50.º aniversário do 25 de Abril.
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Chassis, motor, pneus... quase mil peças foram montadas para restaurar este veículo blindado de 1942 equipado com canhão e dar-lhe uma segunda vida por ocasião do 50º aniversário da Revolução dos Cravos em Portugal.

"É emocionante ver o veículo em que estava naquele dia. Sabia que depois disso Portugal não seria o mesmo", recorda José Afonso de Oliveira, psicólogo reformado de 73 anos.

Em 25 de abril de 1974, liderou a tripulação de um Humber de fabrico britânico numa das colunas que convergiram para Lisboa para depor uma ditadura de 48 anos.

PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

"Eles poderiam ter-me prendido, mas o regime já estava a morrer", disse à AFP este ex-subtenente, um dos 5 mil soldados que participaram no golpe de Estado.

Poucos dias antes das comemorações desse dia histórico, Oliveira visita a oficina onde há dois anos um pequeno grupo de entusiastas restaura veículos blindados da época.

"É um verdadeiro quebra-cabeças", afirma António Carvalho, engenheiro de 41 anos que dedica parte do seu tempo livre a este restauro.

O Humber permanece desarmado. As peças continuam à espera da montagem nas prateleiras desta oficina militar nos arredores de Lisboa.

Reconstituição histórica

"Felizmente, um inglês ajuda-nos, enviando-nos manuais e peças raras através da embaixada de Portugal em Londres", explica este homem apaixonado por história, membro da Associação Portuguesa de Veículos Militares Antigos.

Para os eventos oficiais da próxima quinta-feira, 15 veículos vão participar na reconstrução histórica da coluna liderada por um dos heróis da Revolução dos Cravos, o capitão José Salgueiro Maia, falecido em 1992.

No mesmo armazém encontra-se uma réplica da Chaimite "Bula", um dos veículos blindados de fabrico português que ficou famoso por transportar Marcello Caetano, o ditador deposto que substituíra Salazar alguns anos antes.

Os veículos de transporte de tropas, utilizados nas guerras coloniais que Portugal travou na África entre 1961 e 1974, tornaram-se ícones de um golpe de Estado sem derramamento de sangue.

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O outro símbolo, o cravo vermelho, era apenas uma flor sazonal oferecida espontaneamente aos soldados que a colocavam nas espingardas.

Ao chegarem a Lisboa, a situação tornou-se tensa quando se depararam com uma unidade militar leal ao regime. "Quase atiraram sobre nós", diz António Gonçalves, outro soldado daquele grupo de insurgentes.

"Recebemos ordens para responder ao fogo, se necessário", mas os homens que se encontravam na frente finalmente renderam-se, conta este ex-soldado de 74 anos.

Depois de uma primeira parada na Praça do Comércio, nas margens do rio Tejo, a coluna dirigiu-se ao quartel onde Caetano se refugiara com alguns dos seus ministros.

Cercados por milhares de pessoas que vieram apoiá-los, os militares iniciaram negociações com os representantes do regime, que estavam sitiados. E Caetano sairia por fim na "Bula", nome de uma aldeia na Guiné-Bissau e considerada por muitos a viatura "mais emblemática" do 25 de Abril.

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