Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM
Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM

FNAM fala em “irresponsabilidade do desnorte do Ministério da Saúde”

Federação Nacional dos Médicos refere que foram “precisas oito fatalidades para que a Ministra da Saúde se tenha sentado para ouvir os respetivos profissionais de saúde”, apesar os inúmeros alertas das dificuldades na emergência pré-hospitalar.
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A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) acusa o Ministério da Saúde de se encontrar “sem norte, através de uma nota enviada às redações intitulada “A irresponsabilidade do desnorte do Ministério da Saúde”.

A FNAM refere que foram “precisas oito fatalidades para que a Ministra da Saúde se tenha sentado para ouvir os respetivos profissionais de saúde”, apesar os inúmeros alertas das dificuldades na emergência pré-hospitalar (EPH).

“A Ministra da Saúde poderia ter ouvido, a tempo e horas, o alerta dos profissionais da EPH sobre as insuficiências, bem como as soluções para a melhoria das suas condições de trabalho e acesso a serviços de EPH. Ao escolher não o fazer, contribuiu para este desfecho trágico. A FNAM lamenta as oito vítimas e presta sentidas condolências às famílias”, refere a federação, que recorda que este ano já se “verificaram mais de 40 partos em ambulâncias, além de todas as consequências que se têm feito sentir para os utentes pelas crescentes dificuldades no acesso ao SNS”.

A FNAM considera que o “serviço de excelência” prestado pela emergência pré-hospitalar se deve “à elevada competência e resiliência dos seus profissionais, mas tem sofrido fortes constrangimentos devido à falta de investimento nos seus recursos humanos e materiais, à semelhança de outras frentes no ecossistema do SNS e que o MS escolheu não acautelar”.

A entidade liderada por Joana Bordalo e Sá realça que “Ana Paula Martins, que não negociava nada com o sindicato do setor, garante agora que vai negociar tudo, mas podia e devia ter demonstrado essa disponibilidade a tempo de evitar oito tragédias”.

A FNAM lembra que “Portugal dispunha, até aqui, de excelentes indicadores de desempenho, quer ao nível da emergência pré-hospitalar, quer ao nível dos cuidados de saúde materno-infantil”, mas que “a falta de competência de quem está a conduzir os desígnios do SNS, está a perigar os resultados que levaram décadas a construir”.

A Federação dos Médicos “exige uma negociação séria com os médicos e demais profissionais da saúde - e não medidas de contingência avulsas definidas pela pressão mediática - capaz de levar à prática as propostas dos profissionais, que já demonstraram ser, incontáveis vezes, os portadores das soluções necessárias para recuperar o SNS, o único garante universal da saúde em Portugal”.

Média de chamadas para o 112 em espera na 5ªfeira à tarde baixou para oito

O número médio de chamadas para o 112 em espera na tarde de quinta-feira caiu para oito, em comparação com as 60 registadas na segunda-feira, disse à Lusa fonte do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH).

De acordo com o presidente do STEPH, Rui Lázaro, que na tarde de quinta-feira desconvocou a greve às horas extraordinárias que decorria desde o dia 30 de outubro, entre as 16:00 e as 00:00 de quinta-feira o número médio de chamadas em espera foi de oito.

Por comparação, na segunda-feira, o pior dia dos atrasos no atendimento das chamadas para o 112, pelas 18:00, estavam cerca de 60 chamadas em espera a nível nacional, com uma diminuição do tempo médio de espera em relação ao turno da manhã.

Além da demora no atendimento das chamadas, na segunda-feira a greve obrigou à paragem de 44 meios de socorro no país durante o turno da tarde.

As consequências da demora no atendimento das chamadas de emergência começaram a sentir-se no fim de semana, quando o STEPH denunciou a morte de duas pessoas alegadamente por atrasos na resposta.

Na altura, o Governo anunciou uma auditoria interna ao INEM para avaliar as condições em que ocorreram estas duas mortes, que deverá estar concluída dentro de um mês.

Depois destes, outros casos foram denunciados e, até esta sexta-feira, segundo a imprensa, terão sido sete desde o início da greve às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar.

Face a estas consequências, o INEM anunciou um conjunto de medidas para responder aos atrasos no atendimento das chamadas, incluindo a criação de uma triagem de emergência para chamadas com espera de três ou mais minutos ou a colocação de enfermeiros nos Centros Operacionais de Doentes Urgentes (CODU) para realização de algumas funções até agora garantidas pelos técnicos de emergência pré-hospitalar.

Segundo disse Rui Lázaro à Lusa, em média, os técnicos de emergência pré-hospitalar fazem mais 40% do seu salário semanal (35 horas) em horas extraordinárias.

Na quinta-feira, depois de garantido um protocolo negocial com o Ministério da Saúde, o STEPH desconvocou a greve, que exigia, entre outras matérias, a revisão da carreira e melhores condições salariais.

O sindicato tem vindo a denunciar a falta de atratividade da careira destes técnicos, que iniciam a carreira com um salário que ronda os 920 euros. Os últimos dados divulgados indicam que faltam 800 técnicos de emergência pré-hospitalar no INEM.

Na altura em que convocou a greve, o STEPH disse que tinha tentado chegar a acordo com a tutela e avisado para a iminência da greve, não tendo tido resposta.

Tanto o Ministério Público como a Inspeção Geral das Atividades de Saúde (IGAS) estão a investigar as mortes que ocorreram alegadamente por atrasos na resposta de emergência.

O ministro da Presidência lamentou esta sexta-feira as mortes por alegada falta de socorro do INEM e acusou o PS de inação e de falta investimento no instituto de emergência médica durante oito anos.

"Quaisquer mortes que aconteçam por relação com a atuação do Estado são de lamentar profundamente e merecem avaliação e investigação e essa investigação foi ordenada para perceber os contornos de cada uma delas, para que possamos analisar e decidir em conformidade com cada uma delas", disse António Leitão Amaro, que está a ser ouvido no parlamento no âmbito da discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2025.

A deputada do PS Isabel Moreira questionou o ministro da Presidência sobre a greve às horas extraordinárias dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) que segundo os 'media' terão levado à morte de sete pessoas, lamentando que a ministro da Saúde nada tenha feito para impedir o início da paralisação, uma vez o sindicato lhe deu 10 dias para iniciar negociações.

"A senhora deputada falou de 10 dias, 10 dias não são 3.000 dias, nem 8 anos de inação", disse Leitão Amaro, numa referência aos oito anos de governação socialista, que terminaram em abril.

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