Ministra da Agricultura anunciou pacote de 500 milhões de euros e reversão dos cortes
Ministra da Agricultura anunciou pacote de 500 milhões de euros e reversão dos cortesMiguel Pereira da Silva / Global Imagens

Partidos foram deixados de fora dos protestos mas defendem mais apoios

Movimento organizou-se em grupos de WhatsApp e todos os 15 mil agricultores quiseram evitar aproveitamento partidário. Mas quase todos os líderes da oposição se manifestam a favor da sua causa e abundam críticas à ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
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Nos 15 grupos de WhatsApp a que o Movimento Civil dos Agricultores de Portugal recorreu para organizar os protestos desta quinta-feira houve consenso absoluto na necessidade de excluir as forças partidárias. “Todos os 15 mil membros votaram, num questionário, e não houve um único a dizer ‘vamos deixar entrar os partidos’”, disse ao DN Nuno Mayer, um dos membros do movimento, nascido à margem da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e da Confederação Nacional dos Agricultores (CNA) .

Apesar da opção por serem “totalmente apartidários”, nos cinco protestos realizaram esta quinta-feira, em partes diferentes do país, surgiram algumas bandeiras, do Chega e de outros partidos, tendo todas “ido parar ao chão”. Mas o Movimento Civil dos Agricultores de Portugal não renega a atenção que a “mobilização espontânea” recebeu dos partidos que querem “canibalizar o descontentamento”. “De certeza que agora são os nossos maiores amigos, mas estamos fartos de palavra vãs”, diz Nuno Mayer.

Tendo garantida a “grande vitória” de ver a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, retroceder e atribuir a “uma comunicação menos feliz” do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) a redução das dotações financeiras a ecorregimes de agricultura biológica e produção integrada em, respetivamente, 35% e 25%, os organizadores dizem que “batem palmas a que o Ministério da Agricultura tenha reconhecido o erro de cálculo, mas é preciso ver para crer, como São Tomé”.

A ministra, que também anunciara um pacote de 500 milhões de euros para diminuir o impacto da seca, apelou esta quinta-feira a “confiar no Governo e nas instâncias europeias”, ainda que tenha admitido que a Política Agrícola Comum, tal qual existe neste momento, “não serve os desafios que os agricultores têm pela frente”, sendo necessário negociar apoios extraordinários com a Comissão Europeia.

Ataques à direita

Com os líderes dos principais partidos envolvidos nos últimos dias da campanha para as eleições regionais nos Açores não faltaram apoios da oposição. O líder social-democrata, Luís Montenegro, acusou o Governo de desrespeitar os agricultores “até ao último minuto do mandato”, garantindo que a Aliança Democrática compreende a frustração de quem encheu várias estradas com máquinas agrícolas em marcha lenta.

“A agricultura precisa de respeito e de proximidade e é isso que faremos”, disse Montenegro, para quem a agricultura é essencial para criar riqueza, assegurar coesão social e territorial e aumentar a autonomia alimentar de Portugal.

Também o seu parceiro de coligação, Nuno Melo, exigiu explicações pela reviravolta nos cortes de apoios à produção. “Ou o Governo falta à verdade para controlar danos ou alguém cometeu um erro gravíssimo no Ministério da Agricultura. Ambas as possibilidades impõem responsabilidades políticas”, defendeu o líder do CDS-PP, para quem Maria do Céu Antunes e Fernando Medina, ministro das Finanças, “faltaram à verdade, apenas para controlarem danos, confrontados com a revolta justa dos agricultores”.

Por seu lado, também nos Açores, o líder do Chega, André Ventura, lançou um apelo, “sobretudo aos partidos que podem vir a formar uma maioria de direita”, para um compromisso pré-eleitoral com o setor agrícola “em que os apoios devidos são pagos a tempo e a horas, de forma clara e cumpridora, e não como aconteceu com o Governo do PS, com atrasos persistentes e permanentes”.

Sem destoar, o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, manifestou “solidariedade com os produtores portugueses”, considerando a agricultura e demais atividades do setor primário “fundamentais para o desenvolvimento do país”. E criticou “uma ministra sobranceira e incompetente que continuou o trabalho de desmantelamento do Ministério da Agricultura”.

Para a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, o Governo “não fez o que podia para apoiar os agricultores que estão a enfrentar custos imensos e que têm uma atividade que tem que ser apoiada e desenvolvida”. E, sendo preciso “apoiar pequenos e médios agricultores, mas também adaptar a agricultura às alterações climáticas”, também realçou ser “sempre curioso perceber porque é que um governo de gestão liberta algumas verbas e não liberta outras”.

A CAP e a CNA, apesar de compreenderem a iniciativa, demarcaram-se dos protestos. Pedro Santos, dirigente da CNA, diz que “não deverá haver nenhuma disrupção nas cadeias de abastecimento”, mas sublinha que “o grande impacto” será do Conselho Europeu, a decorrer em Bruxelas, para que sejam aprovadas alterações à PAC. 

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