“Seja bem-vinda e um ótimo trabalho”, desejou Lula à sua nova ministra.
“Seja bem-vinda e um ótimo trabalho”, desejou Lula à sua nova ministra.RICARDO STUCKERT /PR

Lula escolhe professora para os Direitos Humanos. Muda um ministro a cada 3 meses

Macaé Evaristo, deputada estadual em Minas Gerais pelo PT, substitui Sílvio Almeida, afastado após acusações de assédio sexual. Sobe para 10 o número de mulheres e seis número de negros no executivo.
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Lula da Silva escolheu Macaé Evaristo, deputada estadual em Minas Gerais pelo Partido dos Trabalhadores (PT), como nova ministra dos Direitos Humanos e Cidadania do Brasil. Evaristo, 59 anos, substitui Sílvio de Almeida, acusado de assédio sexual contra outra ministra, no maior escândalo do Governo Lula até agora.   

“Convidei a deputada estadual Macaé Evaristo para assumir o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Ela aceitou. Assinarei em breve sua nomeação. Seja bem-vinda e um ótimo trabalho”, anunciou Lula na rede social Instagram. Com uma trajetória política ligada à promoção dos direitos das mulheres, ao combate à discriminação racial e ao fortalecimento da educação pública, Macaé Evaristo, negra, é, segundo o perfil na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, alguém que “tem orgulho da sua ancestralidade e pretende seguir lutando contra o racismo estrutural e a favor de políticas públicas voltadas à diversidade e à inclusão das mulheres e das minorias”.

Professora desde os 19 anos, formou-se em Serviço Social e fez mestrado e doutorado em Educação. Na administração pública, foi secretária municipal da Educação de Belo Horizonte até integrar o governo de Dilma Rousseff como titular da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação. Depois foi secretária estadual da Educação de Minas Gerais, antes de ser eleita, em 2022, deputada estadual.

Macaé Evaristo é prima da escritora Conceição Evaristo, que em março se tornou na primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Academia Mineira de Letras.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a nova ministra é ré num processo de sobrefaturamento na compra de uniformes escolares pela prefeitura de Belo Horizonte, em 2011. Ela disse ao jornal sentir-se “consciente do compromisso com a transparência e correta gestão dos recursos públicos”, alegando ainda que a licitação dos uniformes não foi realizada diretamente pela sua pasta.  

A entrada de Macaé Evaristo no ministério dos Direitos Humanos acontece apenas três dias após a demissão de Sílvio de Almeida, acusado de assédio sexual a mulheres, incluindo Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial.

A crise, a mais grave desde a posse de Lula por tocar a proteção de grupos vulneráveis, objeto do próprio ministério e pilar do governo, não está debelada porque Almeida processou o Me Too Brasil, organismo que revelou o caso, e porque há suspeitas de que as denúncias eram conhecidas no Planalto desde 2023.

A oposição, nomeadamente através da senadora Damares Alves, vai potencializando o episódio. “Se algum outro ministro sabia e não denunciou, também é conivente com assédio sexual”, disse em vídeo, ainda antes da demissão. Damares, do partido Republicanos, foi antecessora de Almeida no governo de Jair Bolsonaro, num ministério chamado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Segundo Anielle Franco, que é irmã de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018, o ministro tocou-lhe nas partes íntimas durante uma reunião em que ambos participavam, episódio que Almeida nega com veemência.

Na sequência, a professora Isabel Rodrigues utilizou as redes sociais para publicar um vídeo em que narra ter sido vítima de Almeida, em 2019, quando ele também teria colocado as mãos em suas partes íntimas durante um almoço com outras pessoas.

Com Macaé Evaristo, entretanto, sobe para sete o número de ministros trocados por Lula em 21 meses de governo, o que dá uma média de uma mudança a cada três meses. O executivo tinha 37 pastas em janeiro de 2023, passou a 38 em dezembro daquele ano, com a criação do ministério das Micro e Pequenas Empresas, e a 39, em maio, com a pasta emergencial da Reconstrução do Rio Grande do Sul, após as enchentes naquele estado.

As mudanças mais sonantes até agora foram na Justiça, com Flávio Dino a rumar ao Supremo Tribunal Federal e o ex-juiz daquela corte, Ricardo Lewandowski, a cumprir o caminho inverso, e no Turismo e no Desporto aonde chegaram dois apoiantes de Bolsonaro nas eleições de 2022, de forma a aumentar a base de apoio do governo no Congresso.

Pelo contrário, com Macaé Evaristo, que faz subir para 10 o número de mulheres e para seis o número de negros no executivo, Lula foi sensível às exigências do próprio partido, o PT. “Sucesso, companheira Macaé!”, congratulou-se, nas redes, Gleisi Hoffmann, presidente do PT.

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