Laboratório do Centro Tecnológico do Calçado, a entidade que lançou a iniciativa Compromisso Verde para apoiar o setor na transição energética. 
Laboratório do Centro Tecnológico do Calçado, a entidade que lançou a iniciativa Compromisso Verde para apoiar o setor na transição energética. Pedro Granadeiro/Global Imagens

Peso das emissões totais na faturação do setor do calçado caiu 15% em sete anos

Das 140 empresas da fileira que aderiram ao Compromisso Verde, 70 já foram auditadas pelo Centro Tecnológico do Calçado. Planos de ação arrancam em setembro.
Publicado a
Atualizado a

A fileira do calçado quer cortar para metade as emissões de CO2 até 2030 e tem já envolvidas no Compromisso Verde, o seu pacto para a descarbonização, 140 empresas, representativas de aproximadamente mil milhões de euros de exportações. Um ano depois do lançamento desta iniciativa, então subscrita por 120 entidades, há já dados quantificados de cerca de uma centena delas e diagnósticos concluídos para cerca de 70. A implementação de planos de ação deverá arrancar a partir de setembro.

O Compromisso Verde previa a realização, a cargo do Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP), de diagnósticos de cada um dos subscritores e a elaboração, igualmente gratuita, de planos de ação. E segundo o coordenador da iniciativa, Rui Moreira, estes planos vão ser “remetidos e analisados” com as empresas ao longo do segundo semestre, pelo que a sua implementação, que depende sempre da iniciativa e disponibilidade de cada organização, deverá iniciar-se a partir de setembro. Mas há já dados interessantes. Por exemplo, em 2015 só uma empresa tinha já instalado painéis fotovoltaicos, em 2022 mais de 50% das 70 entidades estudadas - 41 fábricas, para ser mais exato - tinham já unidades de produção para autoconsumo instaladas, com uma taxa de utilização média de energias renováveis de 15%. Sendo que o valor máximo encontrado foi de 44,4%, o que significa, diz este responsável, que “há oportunidade para crescimento” desta taxa, através do investimento em unidades de produção para autoconsumo, em comunidades de energia renovável ou pela aquisição contratualizada de eletricidade verde. “As empresas estão à procura de outras tecnologias, de modo a aumentar a taxa de utilização, através de baterias de armazenamento de energia, por exemplo, que é uma tecnologia que já existe mas que ainda não é muito usada, por razões de investimento versus benefício. Mas, mais tarde ou mais cedo, isso vai acontecer”, acredita Rui Moreira.

Quanto às emissões de gases com efeito de estufa (GEE), os dados já recolhidos permitem perceber que 78,5% das emissões totais da fileira, que envolve os produtores de calçado, de componentes e de marroquinaria, são do âmbito 3, ou seja, são emissões indiretas, designadamente de fornecedores. Já no âmbito 1 e 2, aquelas que cada empresa controla por si só, “em termos absolutos, e comparando 2015 e 2022, as emissões permanecem praticamente inalteradas, com o crescimento nas emissões de âmbito 2 a serem compensadas pelo decréscimo nas emissões de âmbito 1”, explica o responsável, que acrescenta que, embora as emissões totais cresçam 28% no período em análise, tal se deve ao crescimento da atividade, o que permite perceber que na análise do peso das emissões no volume de negócios houve um “decréscimo significativo”: de 15,3% nas emissões totais, de 32,7% nas de âmbito 1 e 2, que a empresa consegue controlar, e mesmo nas que não controla, as de âmbito 3, houve uma diminuição de 11,6%.

“As ações a desenvolver numa primeira fase vão estar centradas na redução de emissões âmbito 1 + 2, salientando-se a substituição gradual da frota automóvel e/ou a utilização de biocombustíveis, bem como medidas de eficiência energética ao nível de infraestruturas e de substituição de equipamentos”, avança Rui Moreira, lembrando que, dado que o processo industrial na generalidade das organizações utiliza energia elétrica, a instalação de painéis fotovoltaicos seria a alternativa óbvia, “desde que reunidas as condições necessárias para otimizar o investimento”. Como mais de metade da amostra possui já estas unidades, o tipo de ações e investimentos, designadamente através da substituição de equipamentos por outros mais eficientes, a aquisição de energia comprovadamente de fontes renováveis ou a implementação de ações de compensação de emissões, pressupõe o chamado sequestro de carbono.

Rui Moreira garante que as empresas “estão focadas” nesta temática da descarbonização, não só por questões de custo, mas também de mercado. “Muitas firmas trabalham com grandes marcas internacionais, que têm compromissos em relação às emissões da sua cadeia de fornecedores. A reputação é um ativo e a capacidade que as fábricas têm de mostrar que têm um bom desempenho a nível de emissões é relevante e conta na escolha dos fornecedores”, frisa.

Sobre o facto de haver apenas 140 empresas envolvidas neste projeto, quando a fileira tem mais de 1900, o responsável do CTCP garante que este é um número relevante. “As 70 empresas para as quais já terminámos o diagnóstico representam 25% do total de exportações e 15% do número de trabalhadores”, lembrando que as firmas exportadoras são as que sentem mais a necessidade e o impacto de trabalhar nestes temas da sustentabilidade. Quando o universo total das 140 estiverem monitorizadas e com plano de ação definidos, representarão mais de 50% das exportações totais, acredita. 

ilidia.pinto@dinheirovivo.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt