Com a fome a apertar em Gaza, Biden pressiona para cessar-fogo
As agências das Nações Unidas estão alarmadas com os efeitos da falta de alimentos na Faixa de Gaza, e em particular no norte, onde pelo menos dez crianças morreram de fome. No campo diplomático, os norte-americanos pedem para o Hamas aceitar um cessar-fogo, enquanto a organização islamista disse que a “bola está do lado do inimigo”.
Em resultado de visitas a dois hospitais do norte de Gaza por parte Organização Mundial de Saúde foi reportada a morte de dez crianças no hospital de Kamal Adwan devido a grave carência alimentar. “Níveis graves de desnutrição, crianças a morrer de fome, grave escassez de combustível, alimentos e material médico, edifícios hospitalares destruídos”, escreveu o diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus nas redes sociais.
No dia anterior, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, disse que 15 crianças morreram de subnutrição ou desidratação, e que e que mais uma criança morreu de subnutrição no Hospital Abu Youssef al-Najjar, em Rafah. “Apelamos para Israel garantir que a ajuda humanitária possa ser entregue de forma segura e regular”, disse Ghebreyesus.
Já a a agência humanitária da ONU (OCHA) afirmou que a morte de crianças em Gaza por fome deve ser “um aviso como nenhum outro” e apelou para a comunidade internacional “inundar” o enclave com ajuda. “Se não for agora, quando será a altura de puxar os cordelinhos, de partir o vidro, de inundar Gaza com a ajuda de que necessita?” perguntou Jens Laerke, porta-voz da OCHA.
No mesmo dia, a agência dedicada aos refugiados palestinianos (UNRWA) - que Israel acusa de ter funcionários a trabalhar para o Hamas, bem como de ter desviado ajuda para aquela organização - disse que 17 mil crianças ficaram órfãs, mas que também elas são vítimas. “Bebés que perecem lentamente sob o olhar do mundo. Crianças que morrem devido às bombas, e mais ainda agora devido às consequências do cerco. Estas mortes horríveis são totalmente evitáveis”, afirmou a UNWRA. Na véspera, o seu comissário geral, Philippe Lazzarini, denunciou uma “campanha deliberada e concertada para minar as suas operações e, em última análise, acabar com elas”.
Em resposta à gravidade da situação, os Estados Unidos e a Jordânia, numa operação conjunta com o Egito e França, lançaram pela segunda vez em três dias assistência humanitária via aérea para o norte de Gaza. No X, Joe Biden, o presidente dos EUA, garantiu que o seu país irá “ fazer tudo o que estiver ao seu alcance para levar mais ajuda às pessoas em Gaza que dela necessitam desesperadamente”, enquanto aos jornalistas disse “não haver desculpas” para impedir a entrada de ajuda em Gaza.
Depois de, na véspera, a vice-presidente Kamala Harris ter apelado para um cessar-fogo face às condições “inumanas” dos palestinianos no território, foi a vez do próprio Biden ter voltado ao tema, sugerindo que será “muito, muito perigoso” se as armas não se calarem até ao domingo, altura em que começa o Ramadão.
O presidente norte-americano referia-se às negociações entre os mediadores e o Hamas que decorrem no Cairo. “Tem de haver um cessar-fogo. Se chegarmos à circunstância de isto continuar até ao Ramadão vai ser muito perigoso. Por isso, estamos a tentar arduamente conseguir um cessar-fogo.” Já o chefe da diplomacia, Antony Blinken, dirigiu-se ao Hamas pedindo para que este grupo considerado terrorista pelos EUA aceite um “cessar-fogo imediato”.
A pressão não vem só dos Estados Unidos. O Egito, vizinho de Gaza e de Israel, anfitrião e mediador das negociações, também tem motivos fortes para um cessar-fogo imediato - as receitas do canal do Suez caíram a pique com os ataques dos Houthis aos navios no Mar Vermelho e em Rafah, junto da fronteira, estão acumuladas mais de 1,5 milhões de pessoas.
Israel, que não enviou uma delegação para o Cairo, exige como condição para o acordo que o Hamas forneça uma lista de todos os reféns e seu estado, além de identificar quais seriam libertados no período de seis semanas de cessar-fogo. “As negociações não pararam (...) e a nossa delegação apresentou a sua visão. A bola está agora no campo do inimigo, cabendo aos mediadores dar continuidade ao processo”, disse Bassem Naim, do Hamas, ao The Washington Post.