Quando a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha, a 3 de setembro de 1939, o escritor francês Romain Rolland tinha 73 anos e morava em Vézelay com a mulher. Os seus últimos anos de vida foram marcados pelas doenças crónicas com dificuldade em andar e respirar, pelas questões financeiras, pelo isolamento intelectual e pelo afastamento dos amigos. Parecia que o seu idealismo tinha sido inútil, que os seus esforços em causas humanitárias, políticas e culturais tinham sido um falhanço. E, no entanto, Rolland mantinha-se otimista sobre os seus ideais e o futuro. Os amigos aconselharam-no a deixar a França e a procurar exílio nos Estados Unidos, mas ele achou que não tinha forças para a viagem e, além disso, também se sentia muito distante culturalmente da América. Apesar de a doença o impedir de fazer uma oposição ativa ao nazismo, ele continuou a trabalhar. A escrever. A pensar..Romain Rolland previu a Segunda Guerra Mundial e o fanatismo católico e nacionalista da França de Vichy, incluindo as suas políticas em relação aos judeus e intelectuais. E apesar disso sempre acreditou que o ódio entre pessoas e nações poderia ser superado e que a eventual reconciliação da humanidade ainda poderia ocorrer. Defendia o "pessimismo da inteligência, o otimismo da vontade", ou seja, ter a inteligência para perceber a realidade e os movimentos políticos à sua volta mas nunca desistir de contrariar essa realidade. Encarava a reflexão já como uma forma de ação. O que implicava compromisso individual, que é o que, no fundo, caracteriza um intelectual. Para ele era um pleonasmo dizer "um intelectual engajado". Como se pudesse haver outro tipo..Muitos dos seus amigos não sobreviveram à Segunda Guerra Mundial. Entre eles, o seu biógrafo e tradutor, Stefan Zweig, que se suicidou em 1942, incapaz de tolerar os horrores do exílio, da guerra e do desaparecimento da sua ideia de Europa. O filósofo, escritor e tradutor austro-húngaro, de origem judaica, tinha sido um dos grandes aliados de Rolland durante a Grande Guerra, na busca de uma via pacifista para o conflito. Eles já tinham visto como a Europa podia destruir-se a si própria. Mas, em 1934, após a subida de Hitler ao poder, os seus caminhos iriam distanciar-se. Zweig mudou-se com a mulher de Salzburgo para a Inglaterra. Em 1940, o casal atravessou o Atlântico para os Estados Unidos e, por fim, instalou-se no Brasil. Em 1942, deprimido com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na Europa e sem esperança no futuro da humanidade, Zweig escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a mulher, Lotte, com uma dose fatal de comprimidos..O fim do idealismo.Entre as guerras, os dois escritores mantiveram a amizade e uma intensa correspondência, trocando ideias sobre o futuro da Europa e o papel da literatura na revitalização dos valores europeus. A sua amizade vinha de longe. Zweig, que era quinze anos mais novo do que Rolland, tinha lido em 1907 os primeiros volumes de Jean-Christophe e ficara rendido. Começaram a corresponder-se em 1910. Entre 1910 e 1940 Rolland e Zweig trocaram 945 cartas..Em 1911, Zweig visitou Rolland no seu apartamento em Montparnasse. A conversa fluiu rapidamente. Os dois homens eram apaixonados por música e partilhavam o mesmo ideal humanista. "Eu vi pela primeira vez os seus olhos azuis, brilhantes, os olhos do homem mais claro mas também o mais benevolente que conheci", diria mais tarde Zweig sobre esse encontro..Romain Rolland foi contra a Grande Guerra desde muito cedo. Percebeu rapidamente que se tratava de um suicídio da Europa: "É horrível viver no meio desta humanidade demente e assistir impotente ao colapso da civilização". Escreveu o manifesto pacifista Au-dessus de la mêlée (Acima da Confrontação) ainda em 1914 e publicou vários outros artigos pacifistas. Foram esses textos que lhe valeram o Prémio Nobel da Literatura, atribuído em dezembro de 1916 "como um tributo ao elevado idealismo da sua produção literária e à simpatia e ao amor à verdade com os quais ele descreveu diferentes tipos de seres humanos"..Por seu lado, Stefan Zweig tinha aderido à causa germânica no início da guerra, mas, tal como outros intelectuais do seu tempo, e muito influenciado por Rolland, perante o sangue derramado injustificadamente tornou-se um pacifista. A cada missiva, as posições dos dois vão-se tornando cada vez mais próximas. No final no conflito, defendia a união da Europa e a existência de um pacto de não agressão entre os países do continente..A guerra de 1914-1918 veio pôr fim à crença de que o mundo estava em constante e imparável progresso com destino a uma harmonia total. O tão aclamado triunfo da razão e da ciência não resistiu à irracionalidade das disputas raciais, nacionalistas e ideológicas. A experiência da guerra marcou uma geração de escritores como Humphrey Cobb (autor de Paths of Glory, que Kubrick transformou no filme Horizontes de Glória), Arnold Zweig, John dos Passos, Ernest Hemingway (Adeus às Armas), Erich Maria Remarque (A Oeste nada de Novo e Tempo para Amar, Tempo para Morrer), o português André Brun (A Malta das Trincheiras) e outros que contaram as suas experiências no campo de batalha. Não se tratava de defender nenhum dos lados mas, antes, de mostrar as atrocidades da guerra para que, de alguma forma, elas não se repetissem..Logo a seguir à assinatura da paz, Roman Rolland publicou a peça Liluli (1919), que era uma crítica feroz às fantasias imperialistas e ao pensamento conformista dos anos de guerra. Ali está uma civilização marchando freneticamente para a aniquilação, seguindo um ideal nacionalista, sem praticamente oposição. Na peça, os intelectuais europeus são o coro de ideólogos do massacre. Na novela Pierre e Luce (1920), Rolland revelou a universalidade da guerra através das experiências de adolescentes inocentes e apaixonados. O autor mostra a Grande Guerra como um imenso massacre sem sentido que banalizou a morte e tornou as pessoas insensíveis à perda..Finalmente, o romance meditativo Clérambault (1920) resume o seu pensamento antimilitarista, condenando todas as formas de violência, incluindo o uso da força pelos revolucionários. Com o subtítulo A História de Uma Consciência Livre durante a Guerra, o livro abordava o dilema do pós-guerra dos intelectuais pacifistas. "Consciência livre" era a independência da mente, a capacidade do intelectual de ser autónomo, de "ficar sozinho e pensar sozinho para todos"..Este é também o momento em que a amizade com Zweig se aprofunda mais. Encontram-se várias vezes. Celebram juntos o aniversário de Richard Strauss e o centenário da morte de Beethoven, encontram-se com Freud. Sonham com uma Europa unida e sem guerras. O livro Romain Rolland. O Homem e a Sua Obra foi publicado por Stefan Zweig em 1921, que, no ano seguinte, se transforma numa celebridade graças ao romance Amok. É traduzido em todo o mundo, viaja, dá conferências e continua a escrever, incansável..O abismo outra vez.O escritor francês Henri Barbusse tinha 41 anos quando, em 1914, se alistou, com todo o seu idealismo, para combater na guerra contra a Alemanha. Esteve lá durante 17 meses e voltou das trincheiras com muito para contar. Em dezembro de 1916 publicou Le Feu, ficção baseada nessas memórias e que expunha o lado mais cruel e brutal da guerra, descrevendo as péssimas condições de vida dos soldados na frente de batalha e as suas mortes sangrentas. Foi um dos primeiros romances sobre o tema, publicado ainda durante o conflito, e ganhou o Prémio Goncourt..Forte opositor da guerra e do militarismo, Barbusse juntou à preocupação pacifista a militância comunista. Em 1919, juntamente com Anatole France, fundou o grupo Clarté (claridade), ligado ao movimento Internacional Socialista e no qual participaram nomes como o francês Raymond Lefebvre. O manifesto escrito por Barbusse clamava pela luz vinda do abismo da guerra e pedia a libertação da humanidade dos preconceitos mantidos pela sociedade burguesa e pela religião..Rolland e Zweig acompanharam o início da Clarté, mas acabam por se afastar do movimento. Embora a sombra do socialismo nunca desapareça (sobretudo no caso de Rolland, que, perante a ameaça nazi, na década de 1930, se aproxima da Rússia), os dois amigos optam por outro caminho - o da não violência. Nesta altura, Rolland já era bastante influenciado pelas ideias de Gandhi, cuja biografia publicou em 1924. Acredita que a paz irá sobrepor-se a todas as disputas e lembra a parábola de Lao Tzu em que a água, o elemento fluído, a longo prazo se revela mais forte do que a pedra. Stefan Zweig é mais cético. E além do mais é extremamente marcado pela sua experiência judia. Enquanto Rolland acredita na renovação da humanidade, Zweig parece sublinhar a incapacidade de o homem aprender com os seus erros..As divergências entre os dois amigos tornam-se mais visíveis. Zweig acaba por deixar a Europa, certo de que a guerra seria inevitável. No exílio, escreve as suas memórias, O Mundo de Ontem, sem escamotear todo o seu desencanto e a profunda tristeza que sente perante o rumo da Europa. "Saúdo todos os meus amigos! Que possam ainda vislumbrar a aurora matinal após a longa noite! Eu, demasiado impaciente, vou-me embora antes", escreveu na nota de despedida. O seu suicídio simboliza a desistência de uma geração que tinha acreditado na possibilidade de uma paz duradoura..Em agosto de 1944, Paris foi libertada pelos Aliados. Romain Rolland morreu a 30 de dezembro desse ano. Apesar de um grupo de intelectuais ter pedido que o seu corpo fosse para o Panteão, os desejos de Rolland eram outros: pediu para ser enterrado com uma cerimónia privada e não religiosa em Burgundy, junto aos seus pais.
Quando a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha, a 3 de setembro de 1939, o escritor francês Romain Rolland tinha 73 anos e morava em Vézelay com a mulher. Os seus últimos anos de vida foram marcados pelas doenças crónicas com dificuldade em andar e respirar, pelas questões financeiras, pelo isolamento intelectual e pelo afastamento dos amigos. Parecia que o seu idealismo tinha sido inútil, que os seus esforços em causas humanitárias, políticas e culturais tinham sido um falhanço. E, no entanto, Rolland mantinha-se otimista sobre os seus ideais e o futuro. Os amigos aconselharam-no a deixar a França e a procurar exílio nos Estados Unidos, mas ele achou que não tinha forças para a viagem e, além disso, também se sentia muito distante culturalmente da América. Apesar de a doença o impedir de fazer uma oposição ativa ao nazismo, ele continuou a trabalhar. A escrever. A pensar..Romain Rolland previu a Segunda Guerra Mundial e o fanatismo católico e nacionalista da França de Vichy, incluindo as suas políticas em relação aos judeus e intelectuais. E apesar disso sempre acreditou que o ódio entre pessoas e nações poderia ser superado e que a eventual reconciliação da humanidade ainda poderia ocorrer. Defendia o "pessimismo da inteligência, o otimismo da vontade", ou seja, ter a inteligência para perceber a realidade e os movimentos políticos à sua volta mas nunca desistir de contrariar essa realidade. Encarava a reflexão já como uma forma de ação. O que implicava compromisso individual, que é o que, no fundo, caracteriza um intelectual. Para ele era um pleonasmo dizer "um intelectual engajado". Como se pudesse haver outro tipo..Muitos dos seus amigos não sobreviveram à Segunda Guerra Mundial. Entre eles, o seu biógrafo e tradutor, Stefan Zweig, que se suicidou em 1942, incapaz de tolerar os horrores do exílio, da guerra e do desaparecimento da sua ideia de Europa. O filósofo, escritor e tradutor austro-húngaro, de origem judaica, tinha sido um dos grandes aliados de Rolland durante a Grande Guerra, na busca de uma via pacifista para o conflito. Eles já tinham visto como a Europa podia destruir-se a si própria. Mas, em 1934, após a subida de Hitler ao poder, os seus caminhos iriam distanciar-se. Zweig mudou-se com a mulher de Salzburgo para a Inglaterra. Em 1940, o casal atravessou o Atlântico para os Estados Unidos e, por fim, instalou-se no Brasil. Em 1942, deprimido com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na Europa e sem esperança no futuro da humanidade, Zweig escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a mulher, Lotte, com uma dose fatal de comprimidos..O fim do idealismo.Entre as guerras, os dois escritores mantiveram a amizade e uma intensa correspondência, trocando ideias sobre o futuro da Europa e o papel da literatura na revitalização dos valores europeus. A sua amizade vinha de longe. Zweig, que era quinze anos mais novo do que Rolland, tinha lido em 1907 os primeiros volumes de Jean-Christophe e ficara rendido. Começaram a corresponder-se em 1910. Entre 1910 e 1940 Rolland e Zweig trocaram 945 cartas..Em 1911, Zweig visitou Rolland no seu apartamento em Montparnasse. A conversa fluiu rapidamente. Os dois homens eram apaixonados por música e partilhavam o mesmo ideal humanista. "Eu vi pela primeira vez os seus olhos azuis, brilhantes, os olhos do homem mais claro mas também o mais benevolente que conheci", diria mais tarde Zweig sobre esse encontro..Romain Rolland foi contra a Grande Guerra desde muito cedo. Percebeu rapidamente que se tratava de um suicídio da Europa: "É horrível viver no meio desta humanidade demente e assistir impotente ao colapso da civilização". Escreveu o manifesto pacifista Au-dessus de la mêlée (Acima da Confrontação) ainda em 1914 e publicou vários outros artigos pacifistas. Foram esses textos que lhe valeram o Prémio Nobel da Literatura, atribuído em dezembro de 1916 "como um tributo ao elevado idealismo da sua produção literária e à simpatia e ao amor à verdade com os quais ele descreveu diferentes tipos de seres humanos"..Por seu lado, Stefan Zweig tinha aderido à causa germânica no início da guerra, mas, tal como outros intelectuais do seu tempo, e muito influenciado por Rolland, perante o sangue derramado injustificadamente tornou-se um pacifista. A cada missiva, as posições dos dois vão-se tornando cada vez mais próximas. No final no conflito, defendia a união da Europa e a existência de um pacto de não agressão entre os países do continente..A guerra de 1914-1918 veio pôr fim à crença de que o mundo estava em constante e imparável progresso com destino a uma harmonia total. O tão aclamado triunfo da razão e da ciência não resistiu à irracionalidade das disputas raciais, nacionalistas e ideológicas. A experiência da guerra marcou uma geração de escritores como Humphrey Cobb (autor de Paths of Glory, que Kubrick transformou no filme Horizontes de Glória), Arnold Zweig, John dos Passos, Ernest Hemingway (Adeus às Armas), Erich Maria Remarque (A Oeste nada de Novo e Tempo para Amar, Tempo para Morrer), o português André Brun (A Malta das Trincheiras) e outros que contaram as suas experiências no campo de batalha. Não se tratava de defender nenhum dos lados mas, antes, de mostrar as atrocidades da guerra para que, de alguma forma, elas não se repetissem..Logo a seguir à assinatura da paz, Roman Rolland publicou a peça Liluli (1919), que era uma crítica feroz às fantasias imperialistas e ao pensamento conformista dos anos de guerra. Ali está uma civilização marchando freneticamente para a aniquilação, seguindo um ideal nacionalista, sem praticamente oposição. Na peça, os intelectuais europeus são o coro de ideólogos do massacre. Na novela Pierre e Luce (1920), Rolland revelou a universalidade da guerra através das experiências de adolescentes inocentes e apaixonados. O autor mostra a Grande Guerra como um imenso massacre sem sentido que banalizou a morte e tornou as pessoas insensíveis à perda..Finalmente, o romance meditativo Clérambault (1920) resume o seu pensamento antimilitarista, condenando todas as formas de violência, incluindo o uso da força pelos revolucionários. Com o subtítulo A História de Uma Consciência Livre durante a Guerra, o livro abordava o dilema do pós-guerra dos intelectuais pacifistas. "Consciência livre" era a independência da mente, a capacidade do intelectual de ser autónomo, de "ficar sozinho e pensar sozinho para todos"..Este é também o momento em que a amizade com Zweig se aprofunda mais. Encontram-se várias vezes. Celebram juntos o aniversário de Richard Strauss e o centenário da morte de Beethoven, encontram-se com Freud. Sonham com uma Europa unida e sem guerras. O livro Romain Rolland. O Homem e a Sua Obra foi publicado por Stefan Zweig em 1921, que, no ano seguinte, se transforma numa celebridade graças ao romance Amok. É traduzido em todo o mundo, viaja, dá conferências e continua a escrever, incansável..O abismo outra vez.O escritor francês Henri Barbusse tinha 41 anos quando, em 1914, se alistou, com todo o seu idealismo, para combater na guerra contra a Alemanha. Esteve lá durante 17 meses e voltou das trincheiras com muito para contar. Em dezembro de 1916 publicou Le Feu, ficção baseada nessas memórias e que expunha o lado mais cruel e brutal da guerra, descrevendo as péssimas condições de vida dos soldados na frente de batalha e as suas mortes sangrentas. Foi um dos primeiros romances sobre o tema, publicado ainda durante o conflito, e ganhou o Prémio Goncourt..Forte opositor da guerra e do militarismo, Barbusse juntou à preocupação pacifista a militância comunista. Em 1919, juntamente com Anatole France, fundou o grupo Clarté (claridade), ligado ao movimento Internacional Socialista e no qual participaram nomes como o francês Raymond Lefebvre. O manifesto escrito por Barbusse clamava pela luz vinda do abismo da guerra e pedia a libertação da humanidade dos preconceitos mantidos pela sociedade burguesa e pela religião..Rolland e Zweig acompanharam o início da Clarté, mas acabam por se afastar do movimento. Embora a sombra do socialismo nunca desapareça (sobretudo no caso de Rolland, que, perante a ameaça nazi, na década de 1930, se aproxima da Rússia), os dois amigos optam por outro caminho - o da não violência. Nesta altura, Rolland já era bastante influenciado pelas ideias de Gandhi, cuja biografia publicou em 1924. Acredita que a paz irá sobrepor-se a todas as disputas e lembra a parábola de Lao Tzu em que a água, o elemento fluído, a longo prazo se revela mais forte do que a pedra. Stefan Zweig é mais cético. E além do mais é extremamente marcado pela sua experiência judia. Enquanto Rolland acredita na renovação da humanidade, Zweig parece sublinhar a incapacidade de o homem aprender com os seus erros..As divergências entre os dois amigos tornam-se mais visíveis. Zweig acaba por deixar a Europa, certo de que a guerra seria inevitável. No exílio, escreve as suas memórias, O Mundo de Ontem, sem escamotear todo o seu desencanto e a profunda tristeza que sente perante o rumo da Europa. "Saúdo todos os meus amigos! Que possam ainda vislumbrar a aurora matinal após a longa noite! Eu, demasiado impaciente, vou-me embora antes", escreveu na nota de despedida. O seu suicídio simboliza a desistência de uma geração que tinha acreditado na possibilidade de uma paz duradoura..Em agosto de 1944, Paris foi libertada pelos Aliados. Romain Rolland morreu a 30 de dezembro desse ano. Apesar de um grupo de intelectuais ter pedido que o seu corpo fosse para o Panteão, os desejos de Rolland eram outros: pediu para ser enterrado com uma cerimónia privada e não religiosa em Burgundy, junto aos seus pais.