É noite em Sintra e a música celta transporta-nos no tempo. "Hoje, os nossos antepassados vêm visitar-nos, porque a membrana que separa os mundos está muito ténue. Eles vêm dizer-nos que não há morte, apenas transformação", explica Pedro Brazão. Ele é membro da Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas - uma das ordens portuguesas ligadas ao oculto, pararreligiosas, que foram investigadas para a série documental que está a passar na RTP2, Portugal Culto e Oculto. Há várias, como a Ordem dos Templários, a Alquimia, a Ordem do Amanhecer Dourado, a maçonaria, a teosofia, ou o movimento New Age. Todas buscam o conhecimento, aquele que dá sentido à vida humana, que permite o encontro do homem com a sua essência..E, para isso, estas ordens não precisam de intermediários. No caso dos Bardos, Ovates e Druidas, o espaço sagrado é a natureza, e, por isso, na noite de Halloween, estão a celebrar uma festa tradicional celta, o Sawan, que marca o final do verão. São mudanças cíclicas celebradas em rituais, como diz Alexandre Gabriel, membro. Estes rituais, para Cecília Garcia - também da OBOD -, são "uma forma de despertar, de nos religarmos a nós e à natureza" e ter assim acesso a um mundo superior.."A união de um corpo, de uma alma e de um espírito", é o que faz a alquimia em nós. O investigador José Medeiros dá mais pistas para chegar à purificação do mundo interior e exterior: "É preciso muita leitura e um trabalho profundo que nos ajuda, no oratório, a conhecermo-nos e, no laboratório, a equilibrarmo-nos.".E, também para a alquimia, as mudanças cíclicas da natureza são "verdadeiros rituais de transmutação do ser humano", explica o professor Gilberto Lascariz. Na biblioteca do Palácio Nacional de Mafra há a "maior coleção de livros sobre alquimia proibidos pela Inquisição"..Mesmo enigmática é a obra alquímica que está implícita na cruz templária. A Ordem dos Templários foi uma ordem ecuménica e muito poderosa. Ana Brum, a sua tenente-general em Portugal, sintetiza: "Os Templários eram guerreiros, mas também monges." Esta ordem foi criada para proteger os lugares da Terra Santa e os peregrinos que viajavam para essas paragens, como forma de salvaguardar a espiritualidade e a união das três religiões que os Templários reconheciam como tendo o antigo testamento em comum. 700 anos depois ainda há monges cavaleiros entre nós. Pedro Coradinho é um deles e explica que "a peregrinação é uma via, é algo que nos leva e nos faz viajar ao nosso interior de uma forma que dificilmente noutras condições conseguiríamos fazer". É assim que os Templários resgatam a energia inicial humanista de apoio ao próximo, para o bem da humanidade..A capacidade de nos comunicarmos com os mundos espirituais só será conseguida pondo em prática o amor e o altruísmo, sendo "o discípulo quem se inicia a si mesmo", na opinião de Maria Azenha, membro da Antiga e Mística Ordem Rosacruz. Para esta ordem, só no equilíbrio entre o espírito e o corpo a humanidade poderá construir um futuro melhor. E, tal como nas "escolas de mistérios" do Antigo Egito, ainda hoje os membros desta ordem estudam assuntos ligados aos mistérios do universo, da natureza e do homem, que no passado terão dado origem à gnose, o tal conhecimento secreto e unificado que permitiria aos Rosacruz chegar ao cristianismo puro das origens. Hoje, para a Antiga e Mística Ordem Rosacruz, como diz Luís Natal Marques, "é muito mais importante perceber as leis que regem o universo do que propriamente discutir se Deus existe ou não existe, e daí a imensa importância que a ordem dá às questões de natureza científica..E o mistério começa onde acaba a ciência. O exemplo vem da teosofia, que significa sabedoria divina. Ana Maria Coelho Sousa, presidente da Sociedade Teosófica Portuguesa, avança com o exemplo da constituição de um átomo. "Foi descoberta por investigação e nessa altura não foi compreendido." Este saber sempre foi transmitido por grandes instrutores - Buda, Zoroastro, Confúcio -, mas apenas a quem tinha capacidade para o compreender. Madalena Cavaleiro é da opinião de que "a ignorância dá origem ao medo e a todos os conflitos". Para a investigadora, transformar o conhecimento em sabedoria "leva-nos a ajudar os outros, a combater a raiz do mal". Para que - como preconiza o investigador Pedro Tavares d"Almeida - no futuro "não haja mais religiões, mas a congregação de todas"..E foi o ecumenismo que trouxe à luz do dia a maçonaria moderna. O século XVII chegava ao fim e a Grã-Bretanha aceitava um iluminismo crente. "É preciso acreditar num princípio superior, em Deus, mas qualquer que seja a religião que a pessoa tenha", contextualiza José Manuel Anes, ex-grão-mestre da Loja Regular de Portugal. Os maçons reúnem-se até hoje em loja, onde cerimónias e rituais lhes conferem uma mística que resgata do mais profundo da sua história a lenda de Iram Abiff, o arquiteto do Templo de Salomão, em Jerusalém. A máxima "conhece-te a ti mesmo" define o espírito maçom. A ignorância é "a mãe de todos os defeitos para a maçonaria", de acordo com o historiador António Ventura..O autoconhecimento através da cabala, magia, astrologia e alquimia conhece uma tentativa de resgate pelo Ocidente oculto do século XIX para estabelecer a sua relação com o divino, sem intermediários. É o conceito da Árvore da Vida: de onde venho? O que faço? Para onde vou? São "formas de transmissão do conhecimento que vão ser recuperadas pela Ordem Hermética do Amanhecer Dourado", como salienta o investigador José Medeiros. Novas linguagens para recriar os sistemas antigos da sabedoria oculta, o que acaba por ser conseguido nos anos 60, quando a música surge com influências marcadas pelo ocultismo. A combinação das práticas orientais com a magia leva a uma nova forma de estar que nos diz que o conhecimento é adquirido através da experiência..O movimento New Age fala de um mundo desorientado, em crise de sentido. "Onde a explosão é mais profunda é no coração humano, nas relações pessoa a pessoa", como afirma o filósofo Eduardo Lourenço. Mas, ao mesmo tempo, a globalização "esconde a transformação do paradigma cultural, numa fusão do Oriente, mais emotivo, com o Ocidente, mais racional, e, assim, transferimos o espaço religioso para o nosso interior", explica Dalila Monteiro, socióloga. "Espero que este movimento acabe com a ideia da dissociação que nos traz uma imensa solidão, uma sensação de não pertença, de vazio e de falta de amor," confessa Shivani, coach do Live Mastery & Loveway. Para quem escolheu outro caminho e se mudou para uma ecoaldeia, como a família do espanhol Guille, "aqui surge o amor, porque estamos habituados a viver em conexão com a unidade que somos".
É noite em Sintra e a música celta transporta-nos no tempo. "Hoje, os nossos antepassados vêm visitar-nos, porque a membrana que separa os mundos está muito ténue. Eles vêm dizer-nos que não há morte, apenas transformação", explica Pedro Brazão. Ele é membro da Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas - uma das ordens portuguesas ligadas ao oculto, pararreligiosas, que foram investigadas para a série documental que está a passar na RTP2, Portugal Culto e Oculto. Há várias, como a Ordem dos Templários, a Alquimia, a Ordem do Amanhecer Dourado, a maçonaria, a teosofia, ou o movimento New Age. Todas buscam o conhecimento, aquele que dá sentido à vida humana, que permite o encontro do homem com a sua essência..E, para isso, estas ordens não precisam de intermediários. No caso dos Bardos, Ovates e Druidas, o espaço sagrado é a natureza, e, por isso, na noite de Halloween, estão a celebrar uma festa tradicional celta, o Sawan, que marca o final do verão. São mudanças cíclicas celebradas em rituais, como diz Alexandre Gabriel, membro. Estes rituais, para Cecília Garcia - também da OBOD -, são "uma forma de despertar, de nos religarmos a nós e à natureza" e ter assim acesso a um mundo superior.."A união de um corpo, de uma alma e de um espírito", é o que faz a alquimia em nós. O investigador José Medeiros dá mais pistas para chegar à purificação do mundo interior e exterior: "É preciso muita leitura e um trabalho profundo que nos ajuda, no oratório, a conhecermo-nos e, no laboratório, a equilibrarmo-nos.".E, também para a alquimia, as mudanças cíclicas da natureza são "verdadeiros rituais de transmutação do ser humano", explica o professor Gilberto Lascariz. Na biblioteca do Palácio Nacional de Mafra há a "maior coleção de livros sobre alquimia proibidos pela Inquisição"..Mesmo enigmática é a obra alquímica que está implícita na cruz templária. A Ordem dos Templários foi uma ordem ecuménica e muito poderosa. Ana Brum, a sua tenente-general em Portugal, sintetiza: "Os Templários eram guerreiros, mas também monges." Esta ordem foi criada para proteger os lugares da Terra Santa e os peregrinos que viajavam para essas paragens, como forma de salvaguardar a espiritualidade e a união das três religiões que os Templários reconheciam como tendo o antigo testamento em comum. 700 anos depois ainda há monges cavaleiros entre nós. Pedro Coradinho é um deles e explica que "a peregrinação é uma via, é algo que nos leva e nos faz viajar ao nosso interior de uma forma que dificilmente noutras condições conseguiríamos fazer". É assim que os Templários resgatam a energia inicial humanista de apoio ao próximo, para o bem da humanidade..A capacidade de nos comunicarmos com os mundos espirituais só será conseguida pondo em prática o amor e o altruísmo, sendo "o discípulo quem se inicia a si mesmo", na opinião de Maria Azenha, membro da Antiga e Mística Ordem Rosacruz. Para esta ordem, só no equilíbrio entre o espírito e o corpo a humanidade poderá construir um futuro melhor. E, tal como nas "escolas de mistérios" do Antigo Egito, ainda hoje os membros desta ordem estudam assuntos ligados aos mistérios do universo, da natureza e do homem, que no passado terão dado origem à gnose, o tal conhecimento secreto e unificado que permitiria aos Rosacruz chegar ao cristianismo puro das origens. Hoje, para a Antiga e Mística Ordem Rosacruz, como diz Luís Natal Marques, "é muito mais importante perceber as leis que regem o universo do que propriamente discutir se Deus existe ou não existe, e daí a imensa importância que a ordem dá às questões de natureza científica..E o mistério começa onde acaba a ciência. O exemplo vem da teosofia, que significa sabedoria divina. Ana Maria Coelho Sousa, presidente da Sociedade Teosófica Portuguesa, avança com o exemplo da constituição de um átomo. "Foi descoberta por investigação e nessa altura não foi compreendido." Este saber sempre foi transmitido por grandes instrutores - Buda, Zoroastro, Confúcio -, mas apenas a quem tinha capacidade para o compreender. Madalena Cavaleiro é da opinião de que "a ignorância dá origem ao medo e a todos os conflitos". Para a investigadora, transformar o conhecimento em sabedoria "leva-nos a ajudar os outros, a combater a raiz do mal". Para que - como preconiza o investigador Pedro Tavares d"Almeida - no futuro "não haja mais religiões, mas a congregação de todas"..E foi o ecumenismo que trouxe à luz do dia a maçonaria moderna. O século XVII chegava ao fim e a Grã-Bretanha aceitava um iluminismo crente. "É preciso acreditar num princípio superior, em Deus, mas qualquer que seja a religião que a pessoa tenha", contextualiza José Manuel Anes, ex-grão-mestre da Loja Regular de Portugal. Os maçons reúnem-se até hoje em loja, onde cerimónias e rituais lhes conferem uma mística que resgata do mais profundo da sua história a lenda de Iram Abiff, o arquiteto do Templo de Salomão, em Jerusalém. A máxima "conhece-te a ti mesmo" define o espírito maçom. A ignorância é "a mãe de todos os defeitos para a maçonaria", de acordo com o historiador António Ventura..O autoconhecimento através da cabala, magia, astrologia e alquimia conhece uma tentativa de resgate pelo Ocidente oculto do século XIX para estabelecer a sua relação com o divino, sem intermediários. É o conceito da Árvore da Vida: de onde venho? O que faço? Para onde vou? São "formas de transmissão do conhecimento que vão ser recuperadas pela Ordem Hermética do Amanhecer Dourado", como salienta o investigador José Medeiros. Novas linguagens para recriar os sistemas antigos da sabedoria oculta, o que acaba por ser conseguido nos anos 60, quando a música surge com influências marcadas pelo ocultismo. A combinação das práticas orientais com a magia leva a uma nova forma de estar que nos diz que o conhecimento é adquirido através da experiência..O movimento New Age fala de um mundo desorientado, em crise de sentido. "Onde a explosão é mais profunda é no coração humano, nas relações pessoa a pessoa", como afirma o filósofo Eduardo Lourenço. Mas, ao mesmo tempo, a globalização "esconde a transformação do paradigma cultural, numa fusão do Oriente, mais emotivo, com o Ocidente, mais racional, e, assim, transferimos o espaço religioso para o nosso interior", explica Dalila Monteiro, socióloga. "Espero que este movimento acabe com a ideia da dissociação que nos traz uma imensa solidão, uma sensação de não pertença, de vazio e de falta de amor," confessa Shivani, coach do Live Mastery & Loveway. Para quem escolheu outro caminho e se mudou para uma ecoaldeia, como a família do espanhol Guille, "aqui surge o amor, porque estamos habituados a viver em conexão com a unidade que somos".