O PIB cresceu. Mas o rendimento e o consumo dos portugueses estão melhor?

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Os dados da OCDE, que saíram na última semana, mostram que, em 2023, não só a economia portuguesa ficou melhor, mas os portugueses também tiveram uma melhoria quer do rendimento, quer do consumo. Dos 21 países para os quais a OCDE apresentou dados, Portugal surge como o 3º em que o PIB mais cresceu, mas também entre os três com maior aumento do rendimento e nos cinco com mais crescimento do consumo real das famílias. 

De acordo com a OCDE o rendimento real das famílias cresceu cerca de 4%, entre o terceiro trimestre de 2022 e o mesmo período de 2023, um importante ganho de poder de compra.

Estes dados, referentes ao terceiro trimestre de 2023, juntam-se aos do Eurostat, que apresentou Portugal com maior crescimento da Zona Euro, no quarto trimestre de 2023. Para o total de 2023, Portugal cresceu quase 2 pontos percentuais acima da média da UE27.

Os bons resultados de 2023, seguem-se aos de 2022, em que Portugal já esteve entre os três países da UE27 que mais cresceram, com um crescimento superior a todos os países de leste, algo que se poderá repetir em 2023. A guerra da Ucrânia poderá explicar parte desta evolução. No entanto, em 2021, Portugal já apresentou um crescimento semelhante ou superior a vários países de leste e desde 2016 o país tem crescido acima da média da UE27. 

Nestes dados há quatro notícias que deviam ter captado a nossa atenção:

A primeira é que, no conjunto dos últimos três anos, Portugal surge a crescer mais do que todos os países de leste menos um (Croácia). Em 2023 e 2024, Portugal deverá ficar à frente, em PIB per capita, da Polónia, Roménia e Hungria, países que, há dois ou três anos, muitos diziam que já nos tinham ultrapassado. 

A segunda notícia, é que os dados do último trimestre de 2023, em que Portugal cresceu 0,8 em cadeia, vão levar a que, provavelmente, as estimativas de crescimento para 2024 tenham de ser revistas em alta. Isso reforça a convicção de que 2024 vai ser mais um ano de convergência com a UE. 

A terceira é que, o crescimento de 2022 e 2023, significa que o PIB per capita de 2023 e de 2024, deverá voltar a superar os 80% do PIB da UE27, algo que já não se verifica desde 2010. Os dados de 2023 só devem sair no final de 2024, mas, face ao diferencial de crescimento e à evolução dos preços, é o que deverá acontecer. 

A quarta, é que a forte recuperação pós-pandemia que Portugal conseguiu, nota-se no PIB e nas contas públicas, mas também no impacto real na vida das pessoas. Em 2023, apesar da estagnação na Europa, em Portugal os salários estão a aumentar em termos reais e o rendimento e o consumo dos portugueses estão entre os que mais crescem na OCDE. Portugal conseguiu estes resultados ao mesmo tempo que apresentou os maiores saldos positivos das contas públicas e das contas externas de várias décadas, e em que voltou a ter uma dívida abaixo dos 100% do PIB. 

Estas notícias sugerem que devíamos dar atenção ao que está a correr bem na economia (e não apenas nas finanças), de forma a garantir que as políticas, que sustentam o que corre bem, são mantidas ou até reforçadas.

Nos últimos anos, correram bem as exportações, o investimento privado nacional, a captação de investimento estrangeiro, o crescimento das startups e empresas tecnológicas, a criação de emprego qualificado, para além do equilíbrio das contas públicas, o aumento dos rendimentos e a redução da pobreza. 

Como é que isso foi conseguido? As exportações terem atingido os 50% do PIB, as startups terem criado 70 mil empregos e Portugal ter passado de ser o 18º para ser o 6º país da Europa que atrai mais projetos de Investimento estrangeiro (IDE), significa que a política seguida por vários governos de aumento das qualificações, esforço na promoção das exportações e atração de IDE, de reforço do sistema de ciência, inovação e empreendedorismo e de abertura à imigração e atração de talento, estão a ter resultados positivos na competitividade e no crescimento do país. 

Nada disto exclui a importância das questões da saúde, educação, habitação ou as propostas de redução de impostos ou de melhorias nos serviços públicos. 

Mas não deixa de ser estranho que, nas propostas dos que dizem querer colocar Portugal a crescer mais, quase nada seja dito sobre educação, ciência, inovação, transição digital e empreendedorismo. E que, sobre a atração de trabalhadores, que tem sido tão importante para o crescimento do turismo, da agricultura, da construção, para o reforço da segurança social, ou para as exportações de informática, que mais que triplicaram nos últimos oito anos, as únicas referências venham dos partidos mais radicais, sendo negativas. Estas visões mais paroquiais, são hoje o maior risco para o crescimento português, e por consequência, para a continuação da melhoria das condições de vida dos portugueses.    

Universidade do Minho. Ex-ministro da Economia

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