Agricultura em Odemira: o que traz, o que implica, o que deixa?

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Muito se tem debatido sobre o impacto da agricultura no Sudoeste Alentejano, mas as conclusões divergem conforme os objetivos e a perspetiva de quem aborda o tema. A imagem mais projetada até ao momento tende a apontar para um saldo negativo para o território como consequência da atividade. Tal perceção resulta da maior visibilidade e ruído daqueles que associam a agricultura aos mais diversos problemas, ainda que, em muitos casos, as suas bases factuais possam ser limitadas ou incorretas.

Não é de todo essa a visão dos profissionais do setor. Apesar de estarem seguros quanto à importância da inovação e do desenvolvimento que a agricultura moderna trouxe para a região, têm sido mais reservados nas suas comunicações pela necessidade que sentem de ter uma base estatística mais sólida para divulgar o impacto macroeconómico da sua atuação. Este contexto vai evoluir muito brevemente, com novas iniciativas da AHSA destinadas a uma análise mais precisa e imparcial das atividades das empresas da região. Tais esforços deverão aprofundar o conhecimento sobre o setor e trazer maior rigor e transparência na avaliação do seu impacto no território. Não temos dúvidas de que qualquer atividade económica gera diversos efeitos – por vezes contraditórios – nos locais onde opera. Tal exige, pois, uma visão equilibrada e informada sobre o seu verdadeiro alcance.

É importante reconhecer o potencial da agricultura como motor de desenvolvimento regional, contribuindo para a criação de empregos e a valorização dos recursos locais. Sublinhe-se que a agricultura trouxe a Odemira, além de capital nacional e estrangeiro, uma significativa atividade económica, atração de mão de obra, muitas vezes altamente qualificada, ocupação de casas anteriormente vazias, aumento dos nascimentos, contribuições para a segurança social, derrama para a autarquia e uma variedade de impostos diretos e indiretos. É indispensável também constatar que gerou uma faturação acrescida de cerca de 400 milhões de euros, maioritariamente derivados da exportação e tão importantes para contrabalançar as elevadas importações, como as de cereais, de que o país carece. Essa capacidade de gerar riqueza demonstra a resiliência do setor agrícola, que se reinventa constantemente para atender às exigências do mercado global.

Trouxe também, no entanto, vários desafios. Entre estes, a qualidade e a capacidade dos serviços públicos de saúde, educação e finanças, que já enfrentavam dificuldades em responder à população local há 10 ou 15 anos, agravando-se com a chegada de cerca de 10 mil novos trabalhadores e moradores.

Quanto à habitação, as casas, antes vazias, passaram em alguns casos a estar sobrelotadas, levando a inegáveis situações de vida indigna que não podemos aceitar. Reconhecemos, igualmente, o aumento das necessidades de água em todos os setores de atividade, enquanto a rede de distribuição do perímetro foi envelhecendo sem a devida manutenção e os investimentos necessários. Por fim, é também óbvio que uma parte do campo, outrora expectante e inexplorada, passou a exibir manchas de túneis e estufas que desagradam à vista de alguns, mas que sustentam muitas mais pessoas. Todos estes desafios representam oportunidades para fortalecer as infraestruturas e os serviços, promovendo um ambiente mais sustentável e acolhedor para todos os cidadãos.

No final do dia, é fundamental fazer contas, ter uma visão clara para o território e para o país e decidir, face aos desafios e oportunidades que a agricultura apresenta, se devemos limitar o seu crescimento ou, pelo contrário, desenvolver e melhorar as condições da região, permitindo a sua expansão. A AHSA não tem dúvidas de que esta é a opção correta, mas pretende reunir dados numéricos imparciais que permitam que essa ideia seja partilhada pela maioria. Com uma abordagem colaborativa entre os stakeholders, podemos cultivar um futuro mais promissor para o setor agrícola e para a comunidade, garantindo que todos possam beneficiar. 

O objetivo é assegurar não apenas a sustentabilidade da agricultura, mas também que o potencial inexplorado desta bolsa de riqueza da Natureza seja colocado ao serviço do sonho de um país melhor, mais próspero e menos desigual.

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