Portugal conseguiu defender-se do ataque informático

Administração pública e empresas só tiveram perturbações devido a medidas preventivas, não foram danificadas pelo WannaCry
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Os serviços da administração pública, e também das empresas portuguesas em geral, não foram atingidos pelo WannaCry, o ransomware que foi o centro de um ataque informático de grandes dimensões à escala internacional. "A situação é calma. Houve perturbações de funcionamento em alguns organismos mas apenas pela ação para mitigar os problemas. Foram desativados serviços para garantir que não havia danos", disse ao DN Pedro Veiga, presidente do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), entidade que teve operacionais a trabalhar 24 horas por dia desde sexta-feira até ontem. O ciberataque já afetou 150 países e 200 mil sistemas informáticos.

É provável que existam computadores portugueses infetados mas a nível de grandes organizações não houve danos de vulto, ao invés do que aconteceu em Inglaterra, com os hospitais a serem atingidos. Em Portugal, as perturbações referem-se à suspensão temporária de serviços como e-mail em organizações públicas, como foi o caso das unidades do Serviço Nacional de Saúde. Os computadores foram todos desligados no domingo e quando reiniciados ficaram com uso limitado do e-mail, no caso dos que ainda não tinham aplicadas todas as medidas de segurança. Mas não houve registo de nenhum problema, segundo os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, que mantêm para hoje a mesma recomendação no acesso aos e-mails. Também na Justiça e Finanças foram tomadas precauções mas não há registo de nenhum incidente que afete os serviços.

"As medidas de mitigação foram tomadas por haver receio de que no início da semana os ataques se intensificassem. Mas não aconteceu, há acalmia, o que não quer dizer que tenha acabado", explicou Pedro Veiga, assegurando que o CNCS mantém um alerta amarelo, para usar uma linguagem da meteorologia. Para o responsável da cibersegurança nacional, está a ser um exercício real que "permite verificar que os níveis de preparação que se tem vindo a ensaiar e a executar são adequados".

Também a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna informou ontem que em Fátima não houve problemas. "Tratou-se de um ataque informático global, não foram sentidos ou reportados quaisquer impactos no âmbito da segurança da operação [Fátima 2017] e as autoridades nacionais competentes estão a acompanhar toda a situação em estreita comunicação e articulação com as autoridades internacionais", disse Helena Fazenda na conferência de imprensa de balanço da Operação de Segurança Fátima 2017.

A Europol avisa que os ataques não devem ter terminado. Diz ter atingido "um nível sem precedentes" e vai exigir "uma investigação internacional complexa para identificar os culpados". A tarefa não é fácil, como reconheceu o diretor da Unidade de Combate ao Cibercrime da Polícia Judiciária, Carlos Cabreiro. Adiantou que a PJ está a cooperar com o CNCS e com a própria Europol no sentido de serem tomadas todas "as precauções" possíveis para enfrentar o ciberataque, cujo grau de sofisticação é "difícil de medir", embora seja "persistente e de grande dimensão".

"Não se sabe a origem. É algo que estamos a apurar", disse à Lusa Carlos Cabreiro, referindo que o ataque se processou através da distribuição maciça de malware (software que se infiltra num computador alheio de forma ilícita, causando danos, alterações ou roubo de informações)

A possibilidade de novos ataques foi também ontem motivo de alerta pela multinacional de serviços tecnológicos Claranet, que aconselhou os utilizadores a terem os sistemas atualizados, não abrir anexos desconhecidos e desligar da energia todo o equipamento suspeito de estar infetado.

A Comissão Europeia garantiu que nenhuma instituição comunitária foi afetada, mas, através do seu porta-voz, Margaritis Schinas, sublinhou que "o uso de ciberataques com fins criminosos é uma ameaça crescente que exige uma resposta coordenada e global por parte da UE".

Putin culpa americanos

O ransomware teve ontem mais casos na Ásia, sobretudo na China e no Japão, com milhares de computadores a serem atacados. Na China chegou a mais de 29 mil instituições, obrigando a medidas extraordinárias. Também o sistema bancário foi atingido e Vladimir Putin acusou ontem os serviços secretos norte-americanos de serem a fonte dos problemas. "Creio que a direção da Microsoft assinalou os serviços secretos dos Estados Unidos como a fonte principal do vírus. A Rússia não tem nada a ver com isto", disse Putin, para quem "nada de bom nisto e é preocupante".

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