Pisa: Alunos portugueses satisfeitos com a vida mas ansiosos

Depois de ter tido os melhores resultados de sempre em literacia científica e leitura nos testes PISA 2015, da OCDE, Portugal apresenta bons indicadores no que diz respeito ao bem-estar dos estudantes.
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Ligeiramente mais satisfeitos com a vida, mais motivados, menos sujeitos a bullying, mas mais ansiosos quando chegam aos testes. É assim que surgem os estudantes portugueses de 15 anos avaliados pelo PISA 2015 (Programme for International Student Assessment), quando comparados com os alunos dos restantes países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Depois de ter ficado à frente da média no desempenho a ciências e leitura, Portugal volta a apresentar bons resultados em matérias de bem-estar.

"A conclusão mais importante é que os alunos portugueses estão bem posicionados na escala que mede o bem-estar físico, psicológico, social e cognitivo", destacou ao DN João Marôco, investigador que coordena a participação portuguesa no PISA. Numa escala de zero a 10, a satisfação média dos estudantes da OCDE situa-se nos 7.3, um número que é ligeiramente superior em Portugal (7.4). De acordo com o relatório apresentado hoje, 8.9 % dos estudantes portugueses não estão satisfeitos com a vida, 18.7% avaliaram a satisfação entre 5 e 6, 41.4% entre 7 a 8 e 31% entre 9 e 10.

Apesar de o País ter passado por "uma situação económica mais ou menos complicada", João Marôco, do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), diz que houve um grande investimento das famílias no apoio ao "desenvolvimento intelectual e cultural dos jovens", que se estende também às escolas. Por parte das famílias, destaca, "há uma preocupação bastante elevada não só com a saúde física, mas também com o bem-estar emocional e psicológico dos seus educandos".Este acompanhamento próximo que é feito pelos educadores está bem presente nos dados do PISA: 92% dos estudantes portugueses falam com os pais depois da escola, quando a média da OCDE é de 86.1%. Outro dado positivo é que 94.7% faz uma refeição todos os dias ou quase todos os dias com os pais.

No que diz respeito à motivação, "os nossos alunos estão mais motivados para aprender e continuar os estudos do que a média da OCDE". Em Portugal, 65% dos alunos têm interesse em ser os melhores da turma, quando a média é 59.2%.

Quando o tema é o bullying, o País surge uma vez mais melhor do que a média da OCDE, já que os alunos portugueses se sentem menos incomodados pelos colegas do que na maior parte dos países. Questionados sobre se tinham sofrido algum tipo de bullying num passado recente, 11.8% dos inquiridos respondeu que sim, menos quase 7% do que a média (18.7%). Para João Marôco, "é um indicador do bom ambiente que se vive nas escolas portuguesas".

É em matéria de ansiedade que Portugal se encontra pior. Mesmo que se sintam bem preparados para os testes, 69% dos estudantes portugueses dizem sentir-se muito ansiosos antes dos momentos de avaliação, uma percentagem bastante superior à média (55.5%). Só na Nova Zelândia e no Reino Unido se encontram jovens mais ansiosos antes dos testes. "É uma ansiedade que tem a ver sobretudo com as avaliações. Não propriamente com as aulas ou com as atividades escolares, mas com as avaliações e com a perceção que os jovens têm da exigência dos professores", explica João Marôco. Se se contar com os participantes fora da OCDE, à frente de Portugal surgem também países como o Brasil, a Colômbia, a Costa Rica, a República Dominicana, o Peru e Singapura.
Para João Marôco, a ansiedade antes dos testes está relacionada com aquilo "que os pais falam em casa", já que muitos educadores associam as avaliações aos exames finais do 12º ano e "ficou uma representação negativa do que são provas de avaliação global ou exames". O investigador considera que "ansiedade é algo que os jovens levam de casa, porque os pais fizeram o percurso praticamente sem exames finais". Esta é, portanto, "uma questão que é preciso trabalhar", pois "há uma perceção negativa do que é ser avaliado, quando a avaliação devia ser um elemento natural do percurso académico de um aluno durante ensino básico e secundário".
A ansiedade em momentos de avaliação está relacionada "com questões sócio culturais". Contudo, destaca João Marôco, "de uma forma geral, os alunos que dizem que estão mais ansiosos com a avaliação têm tendência a ter melhores resultados".

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