Os táxis pararam e a Uber chegou ao top da app store
Além do efeito desejado - chegar à fala com responsáveis políticos e do governo -, o protesto de ontem dos táxis teve a consequência indireta de aumentar o protagonismo da Uber, precisamente o alvo de toda a ira do setor. Ao longo da manhã de ontem, confirmou ao DN um dos motoristas da plataforma (ver entrevista), o volume de pedidos de serviço s Uber subiu significativamente. E a aplicação desta plataforma acabou por ser a segunda mais descarregada ao longo do dia na app store.
Os responsáveis da Uber recusaram divulgar os dados dos pedidos de deslocações de ontem no seu portal, preferindo cingir-se a uma declaração focada nos protestos, que disseram "respeitar", e nas agressões de que terão sido alvo alguns dos motoristas ao seu serviço, no Porto, perante as quais reclamaram que as autoridades "garantam a segurança de utilizadores, motoristas e do público em geral".
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Para os taxistas, as marchas em Lisboa, Porto e Faro - que terão mobilizado entre 4000 e mais de 6000 carros - tiveram momentos distintos. Numa primeira fase, o protesto parecia ter ficado muito longe das previsões. Pelo menos no que toca ao impacto.
Junto ao Parlamento - onde chegaram após quatro horas de marcha lenta -, e já depois de se terem reunido com o presidente da Assembleia da República e com membros dos vários grupos parlamentares, os representantes dos taxistas concordaram, ao início da tarde, no balanço negativo das reuniões, das quais esperavam ter saído com garantias de suspensão da atividade da plataforma de transportes na internet. Mesmo depois de terem recebido o "apoio político" do Bloco de Esquerda e a promessa de que o grupo parlamentar socialista irá chamar à comissão de Economia responsáveis das autoridades dos transportes, trabalho e concorrência para debater o tema Uber.
"Da minha parte, tenho de vos dizer que levo as minhas mãos vazias, zero, nada", afirmou o presidente da ANTRAL, Florêncio Almeida. O presidente da FPT, Carlos Ramos, fez o mesmo balanço: "Trouxemos uma mão-cheia de nada", lamentou. De acordo com os representantes dos taxistas, nas reuniões com os grupos parlamentares do PCP, do Bloco de Esquerda e do PSD foi-lhes manifestada solidariedade e os partidos "pediram para esperar um mês para terem uma posição", tempo que coincide com a petição apresentada pelos taxistas. Para o presidente da FPT, "a solidariedade mostrada por estes partidos é muito pouco face à gravidade dos problemas que o setor atravessa hoje".
Mais satisfeitos saíram os taxistas do Porto da reunião com o autarca daquela cidade. O vice-presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), José Monteiro, disse que Rui Moreira se mostrou "recetivo" e que se comprometeu a transmitir à tutela as preocupações do setor dos táxis.
"Temos a sua solidariedade e esperamos que através da sua influência política consiga ter alguns resultados palpáveis. Acredito no presidente da câmara enquanto homem e solidário com o setor", afirmou o vice-presidente da ANTRAL, José Monteiro, no final de uma reunião com Rui Moreira. Entretanto, também a Câmara de Lisboa se solidarizou com o setor.
Finalmente, ao final da tarde, surgiu a reunião exigida no Ministério da Ambiente, que terá terminado com novo encontro marcado - para a próxima sexta-feira - e o compromisso de que os taxistas serão ouvidos no âmbito do grupo de trabalho para o setor dos transportes que o governo está a criar.
Antes, já o Ministro do Ambiente, João Matos Ferreira, defendera estar nas mãos dos táxis o regresso às negociações, lembrando que tinham sido estes a afirmar que só se voltariam a sentar à mesa com o governo quando a atividade da Uber fosse suspensa. "Não está nas mãos do Ministério do Ambiente fazer a Uber parar. Está certamente também nas mãos do Ministério do Ambiente fiscalizar todos os modos de transporte que se não processam de acordo com a lei que existe em Portugal. E é isso que temos feito", defendeu.
O ministro voltou a defender a necessidade de se rever o setor dos transportes. E assumiu que isso passa pela situação específica do setor do táxi, cujo "peso regulamentar muito forte" considerou "anacrónico" em relação "aquilo que é hoje o desempenho do setor". Mas também acrescentou que a revisão passa por "olhar para o regulamento da sua atividade, sabendo que há novas formas de mobilidade", como a Uber, "e que estas devem ser serenamente discutidas".