"Missão Armaggedon": projeto quer evitar impacto de asteroide

ESA e NASA estão a preparar o projeto AIDA, que prevê colisão de uma sonda contra um asteroide, enquanto outra vai ficar a ver.
Publicado a
Atualizado a

Acontece muitas vezes que, antes de a realidade se impor, já Hollywood tinha lá chegado. É exatamente isso que se passa com o projeto AIDA, de Asteroid Impact & Deflection Assessment, uma missão conjunta da NASA e da ESA (as agências espaciais americana e europeia, respetivamente), que marcaram para 2020 e 2022 o envio de duas sondas a um complexo de asteroides, o Didymos e a sua pequena lua Didymoon. A primeira nave, a da ESA, vai estudá-los. A segunda, a da NASA, vai lançar-se sobre a lua minúscula para testar a hipótese de a sua trajetória poder ser desviada.

Não é igual a Armageddon - o filme-catástrofe de Michael Bay, de 1998, em que Bruce Willis, à última hora, para salvar a humanidade, acaba por ter de lançar a própria nave contra um asteroide, para lhe desviar o rumo e assim evitar que ele colida com a Terra -, mas o recurso de base é idêntico.

[youtube:mIuHeY3jfIo]

A missão AIDA, cuja definição estava a ser traçada desde o início da década por ambas as agências espaciais, foi discutida na semana passada, em Nantes, França, durante o Congresso Europeu de Ciências Planetárias, onde Patrick Michael, o responsável na ESA pelo projeto, o apresentou, citado no site especializado Tech Times, como "a primeira missão que vai estudar um sistema binário de asteroides, bem como a primeira que vai testar a possibilidade de desviar a trajetória de um asteroide através da colisão com uma nave espacial".

Perceber melhor os asteroides

A necessidade de no futuro ter de se proteger a Terra de um eventual impacto catastrófico com um destes corpos que povoam o sistema solar é um dos motivos invocados pelos responsáveis para as duas agências espaciais se empenharem em conjunto numa missão deste tipo. "Precisamos de perceber muito melhor os asteroides, se queremos proteger a Terra de eventuais colisões catastróficas", afirmou Patrick Michael na sua intervenção em Nantes, sublinhando que "é preciso conhecer melhor os materiais de que são feitos, a sua estrutura e também a forma como respondem a impactos".

Patrick Michael é o responsável na ESA pela parte europeia do projeto, designada Asteroid Impact Mission, ou AIM, que prevê o lançamento de uma nave em 2020 para estudar em detalhe o Di-dymos e a sua pequena lua. A NASA ficará, por seu turno, responsável pelo segmento Asteroid Redirection Test, ou DART, que prevê então, em 2022, o lançamento de uma segunda nave contra a lua de Didymos, a uma velocidade de mais de 22 mil quilómetros por hora, para estudar o resultado: se a sua trajetória é desviada e, em caso afirmativo, quanto, e em que direção. A AIM estará a observar tudo de perto.

"Com esta missão conjunta vamos conseguir perceber qual o tipo de força de que precisaríamos para desviar um eventual asteroide em rota de colisão com a Terra e, assim, ganhar novo conhecimento tecnológico para podermos aplicá-lo numa situação que possa vir a ocorrer no futuro", explicou por seu turno Ian Carnelli, da ESA, na sessão do congresso que discutiu a missão.

O que está previsto no plano conjunto é que a sonda do segmento europeu AIM vai registar também todos os dados da colisão entre a nave americana e a lua de Didymos, observando a par e passo as consequências desse impacto na trajetória do pequeno corpo celeste.

... Vão as naves à "montanha"

O sistema binário Didymos, descoberto em 1996 pelo astrónomo Joseph Montani, usando o telescópio Spacewatch, tem a particularidade de ser constituído por um asteroide de maior dimensão, com um diâmetro de 800 metros, que tem na sua órbita um outro mais pequeno, com 160 metros de diâmetro, a tal pequena lua que será o alvo da nave da NASA em 2022, e que já foi relativamente bem caracterizada a partir da Terra, com telescópios.

A missão pretende preparar caminho, caso alguma ação deste tipo seja necessária no futuro, defendem a ESA e a NASA. Porque, afirmam as duas agências espaciais, colisões desse tipo, algumas de grande dimensão, estão bem documentadas no passado da Terra. É aliás hoje consensual que foi um desses impactos, há 65 milhões de anos, que varreu da Terra os dinossauros, bem como muitas das espécies suas contemporâneas.

Agora, em vez de esperarem que volte a acontecer, a ESA e a NASA preferem passar à ação e, enquanto não vem nenhum asteroide, vão as suas naves até lá.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt