Lisboa é a cidade mais cara para universitários.
Pedro, de 19 anos, natural do Porto, vive em Lisboa há um ano, desde que entrou no curso de Engenharia Agronómica, e até ser contactado pelo DN nunca tinha parado para pensar quanto é que gasta por mês. Faz rapidamente as contas: "Cerca de 830 euros, se incluir a prestação das propinas. Fica caríssimo, é uma despesa muito elevada". Este é um dos exemplos do que pode custar a vida de um universitário em Lisboa, a cidade onde, de acordo com as estimativas dadas ao DN, os estudantes precisam de mais dinheiro para viver. Na capital, e um pouco por todo o País, há ainda o problema da falta de quartos e dos preços cada vez mais elevados devido ao turismo.
Regressando ao caso de Pedro, o estudante "não tinha a mínima noção que gastava tanto", já que são os pais que pagam diretamente algumas despesas. "São 350 euros para alojamento, com limpeza duas vezes por semana; 150 para alimentação; 30 para transportes; 92 para as viagens a casa; 30 para ginásio; 80 para jantares e noite; cerca de 100 euros de propinas".
Entre as cidades que acolhem mais estudantes universitários em Portugal, Lisboa é a mais cara. Luís Ferreira, vice-reitor da Universidade de Lisboa, diz ao DN que o aluguer dos quartos, que se situava em média entre os 200 e os 350 euros por mês, subiu bastante. "Estamos a ficar preocupados. Esta semana pediram 400 e 450 euros a alguns estudantes pelos quartos", adianta, acrescentando que os jovens estão a ter dificuldade em conseguir alojamento. Uma situação que não é alheia ao crescimento do turismo na cidade. A esta despesa acrescem, em média, 225 euros para refeições, 35 para transportes e entre 100 a 150 euros para outros gastos, como material e viagens a casa. Um valor mensal que pode oscilar entre 660 e os 860 euros.
A Universidade tem cerca de 1400 camas em residências universitárias, onde os bolseiros são prioritários - em 2016, dos 356 mil estudantes universitários 19.5% eram bolseiros -, mas Luís Ferreira admite que "são precisos mais quartos". Entre os cerca de 48 mil estudantes que este ano entraram nas universidades, "cerca de 30% são deslocados, embora muitos sejam da Grande Lisboa".
Filipa Silva, de 17 anos, viajou ontem de Ílhavo para Lisboa, onde vai frequentar a Faculdade de Medicina Veterinária, naquela que será a primeira aventura fora da casa dos pais. "Tive sorte, consegui um quarto num anexo. O contacto surgiu numa conversa de café", conta ao DN a jovem, que vai viver na Ajuda por 300 euros mensais. "É um pouco afastado, por isso é que é mais em conta. No centro custavam 400 e 450 euros", explica o pai, Manuel. À espera de levar muitas refeições de casa dos pais, a jovem estima gastar entre 500 a 600 por mês, mais o valor das propinas.
Já Alexandre Neto, de 20 anos, aluno do 3º ano de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, partilhou um T3 nas Olaias com dois colegas nos últimos dois anos, no qual pagava 340 euros por mês. "Agora consegui um quarto por 250 em Arroios". No total, estima passar a gastar, em média, cerca de 550 euros por mês - sensivelmente o mesmo que o ordenado mínimo nacional -, um valor ao qual acresce o montante das propinas. "Era bom que tivéssemos menos custos. Tenho noção que há colegas que sentem uma grande dificuldade para suportar as despesas", diz o estudante, natural de Silves.
Coimbra pede 622 euros por mês
A oferta no ensino superior é cada vez mais ampla - seja de universidades como de politécnicos -, o que permite a muitos estudantes ficar perto de casa, mas isso nem sempre é possível. Um aluno de fora que vá para a Universidade de Coimbra e partilhe um apartamento necessitará de 500 a 620 euros por mês para alojamento, alimentação, transportes, materiais escolares e outras despesas básicas. Custos que nem todas as famílias podem suportar. "Recebemos pedidos de ajuda, mas há respostas. Temos parcerias com a ação social e entidades privadas, que nos permitem ajudar", adianta ao DN Alexandre Amado, presidente da Associação Académica. Porém, lamenta, "há estudantes forçados a abandonar o ensino superior ou a trabalhar para pagar os estudos".
A vida no Porto e em Aveiro
Tendo como base as estimativas cedidas ao DN pela Universidade do Porto, um estudante universitário precisará, em média, de 450 (quarto a 130 euros e 150 de alimentação) a 622 euros (quarto de 250 euros e 200 para alimentação) para viver na invicta. Valor que não inclui a propina anual: 999 euros.
Em Aveiro, com rendas entre os 130 e os 200 euros, a Universidade estima que o custo de vida oscile entre os 450 e os 600 euros. Contudo, Xavier Vieira, presidente da Associação Académica, diz que "a componente turística está muito vincada na cidade, o que fez subir o número de alojamentos locais, fazendo com que diminuísse o número de quartos e casas disponíveis. Ao mesmo tempo, subiram ligeiramente os preços das rendas, que vão agora até aos 250 euros".
Na cidade, "onde a oferta de residências é um exemplo (cerca de mil), muitos dos estudantes universitários são de uma zona geográfica próxima", o que faz com que esse "congestionamento" não tenha um impacto ainda maior. Relativamente ao custo médio de vida na cidade, Xavier destaca que "felizmente, a UA tem instrumentos de ação social que fazem com que não haja abandono precoce".
Faltam camas em Évora
Os colocados em Évora deparam-se agora com o mesmo problema que os alunos da UA. "As casas que eram usadas por estudantes estão a passar para alojamento local. Estamos a ficar com falta de casas. Já há quartos a custar 350 euros", lamenta Beatriz Azaruja, presidente da Associação Académica da Universidade de Évora. Com as residências lotadas, a representante adianta que "será difícil ter quartos para todos".
Dada a configuração da cidade, Beatriz elimina das contas a parcela dos transportes. "Se comer na cantina, as refeições são a 2.65 euros, mas temos tapas maravilhosas na cidade, portanto acredito que muitos estudantes gastem 250 euros em alimentação", adianta. Atendendo às estimativas, facilmente chegam aos 610 euros por mês. "Se trouxer comida de casa, gasta menos e não tem custos com deslocações. Em termos de qualidade de vida, Évora é superior às grandes metrópoles. É uma cidade que vale a pena".