Hyolitas reclamam o seu lugar na história da evolução das espécies
Afinal as Hyolitas eram mais parecidas com Brachiopodas (espécie de amêijoa)do que com moluscos! Mas o que eram as Hyolitas, o que são Brachiopodas, e porque é esta revelação tão importante que justifique destaque na revista Nature e várias outras publicações, científicas? Para dar essa resposta temos de recuar na história ... mais ou menos 530 milhões de anos.
Estamos no Paleozoico, no chamado período Cambriano, compreendido entre 542 e 488 milhões de anos atrás. É um período particularmente importante na história da evolução da vida na terra. De certa forma pode ser descrito como o jardim-de-infância do planeta, porque foi nessa era que se deu a primeira grande "explosão" de formas der vida, complexas e sofisticadas.
As Hyolitas datam desse período. Estão entre os primeiros animais conhecidos a desenvolverem um exoesqueleto. São, por isso, uma peça-chave da árvore da vida. Mas a sua real importância há de passar despercebida por muito tempo.
Até há pouco tempo, estes estranhos seres de forma cónica - com a aparência de uma amêijoa -, eram tratadas com desdém pelos próprios cientistas. Ou seja: como estranhos seres, sem lugar aparente na história da evolução.
"Estranhos prodígios", na mais erudita definição de Stephen Jay Gould, paleontólogo e biólogo evolucionista norte-americano, um dos mais conhecidos divulgadores científicos do século XX.
Gould, certo em muitas outras coisas, chegou a desdenhar das conclusões de outro paleontólogo norte-americano, Charles Walcott (1850-1927), que tinha recolhido muitas Hyolitas no Burgess Shale, um local que descobriu nas montanhas rochosas canadianas e que é hoje classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, devido à enorme riqueza de fósseis ali existente.
Walcott teimava em querer integrar estes seres numa das famílias de filos (como moluscos, artrópodes, etc.) conhecidas. Gold ridicularizou esses esforços, rotulando-os como "o calçador de Walcott". Um diferendo de gigantes da paleontologia, portanto - ainda que através da história, já que Gould nasceu quinze anos após a morte de Walcott.
Um caso em que se aplica a máxima de que o respeito aos mais velhos é muito bonito, com veio demonstrar...um rapaz de 20 anos.
Sim, porque não tem mais de 20 anos, e ainda está a acabar os seus estudos de doutoramento na referida Universidade de Toronto, o cientista que veio finalmente devolver às Hyolitas a dignidade que o seu importante papel na história da vida merece.
O jovem paleontólogo chama-se Joseph Moysiuk e liderou a equipa de cientistas, incluindo vários catedráticos da Universidade de Cambridge, que estudou 1500 fósseis de Hyolitas, incluindo muitas recolhidas por Walcott. Juntos, conseguiram descobrir vestígios de tecidos moles entre 254 dos exemplares - o equivalente a um prémio de jogo para um estudioso de fósseis e, através destes, demonstraram que estes animais, longe de serem aberrações, se integravam de facto num grupo de filos bem conhecidos: os Lofoforados (Lophophorata). Um grupo onde se incluem os Brachiopodas.