Surto de hepatite A em Lisboa, alerta DGS

Mais de 100 pessoas, a maioria homens gay, foram diagnosticadas na região de Lisboa desde janeiro. O surto veio da Holanda
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Treze países europeus registam um aumento do número de pessoas com hepatite A, Portugal incluído. Desde o início do ano foram diagnosticados 105 casos, na região de Lisboa e Vale do Tejo. "Atividade epidémica", classificou o diretor-geral da Saúde, Francisco George, esta quarta-feira, em entrevista à SIC. Amanhã será divulgado um alerta para os profissionais de saúde.

Os casos diagnosticados são quase todos em homens, maioritariamente homossexuais. "Este surto tem por base a transmissão sexual", explicou Isabel Aldir, diretora do programa para hepatites virais da Direção Geral de Saúde, ao DN. Segundo as autoridades de saúde, tudo começou num festival de verão, na Holanda.

Práticas como o chemsex (atividade sexual sob o efeito de substâncias químicas) podem "facilitar que esta, e outras doenças, se transmitam porque o indivíduo sob a ação destas substâncias perde a noção do risco, incluindo práticas sexuais com múltiplos parceiros sem proteção", segundo Isabel Aldir.

"A transmissão do vírus é fecal-oral. O vírus elimina-se pelas fezes e para ser ingerido é preciso ter um veículo", explicou Francisco George. Neste contexto, frisa, "as práticas de sexo oral têm um risco especial".

Os cidadãos devem "adotar práticas sexuais seguras", isto é, o uso do preservativo, segundo Isabel Aldir. A diretora do programa de hepatites virais da DGS alerta para o facto de esta doença poder transmitir-se por outras vias, facilmente controláveis "com uma lavagem correta das mãos quando se vai ao quarto de banho ou preparar refeições".

Espanha preocupada

O surto de Hepatite A terá começado em Amesterdão, num festival de verão. O Reino Unido foi o primeiro país a alertar as autoridades europeias de saúde, de acordo com a SIC. Mas também há casos reportados às autoridades europeias oriundos de França, Finlândia e Espanha.

O país vizinho "está com um número substancial de casos", segundo Isabel Aldir, e a ser alvo de particular atenção porque em julho vai decorrer um evento mundial da comunidade gay.

Mais 99 casos do que há um ano

Apesar do número de casos ter vindo a reduzir, não é raro haver uma situação de surto limitada, com três ou quatro casos, explica Isabel Aldir. Mas números atuais sobressaem. Foram registados até hoje, dia 28, 105 casos sobretudo em Lisboa, mais 99 do que no primeiro trimestre do ano passado. "Mais do que nos últimos 40 anos", disse Francisco George à SIC.

Apesar da Lisboa ser a zona onde se registaram mais casos, e das grandes cidades estarem mais expostas, pela densidade populacional, a diretora do programa para hepatites virais alerta: "Nada nos diz que dentro de uma semana a situação não será distinta, as pessoas movem-se, é um processo dinâmico". "Não devemos ter a veleidade de achar que vai ficar circunscrita a Lisboa".

Quais são os sintomas?

O período de incubação do vírus é de cerca de um mês. "A doença é assintomática, o indivíduo já pode transmitir a terceiros sem que haja qualquer sintomatologia", alerta Isabel Aldir.

Os sintomas da doença são os habituais nas hepatites: cansaço, fadiga, falta de apetite, estado de náuseas e enjoo, alteração da coloração [amarelada], urina mais carregada e, pontualmente, febrícula. "O cansaço e icterícia são os mais frequentes", diz Isabel Aldir, lembrando que, junto dos avós, era assim que a doença era conhecida.

Até aos anos 70, altura em que começa o processo de saneamento, a hepatite A era uma doença comum. Depois disso, passou a existir uma incidência baixa.

As autoridades europeias recomendam a vacinação na comunidade gay.

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