Regresso ao passado com Narciso ou a nova aposta em Luísa

Diz a tradição que em Matosinhos quem ganha são independentes, mas o combate eleitoral vai ser renhido e nas ruas já se fazem apostas sobre quem sairá vencedor a 1 de outubro: ou o antigo presidente da autarquia, Narciso Miranda, ou a candidata do PS, Luisa Salgueiro
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O combate pela "cadeira do poder" em Matosinhos tem todos os ingredientes para ser renhido. Nas ruas e nos estabelecimentos comerciais do concelho vizinho do Porto já se fazem "apostas", com Narciso Miranda - que liderou a autarquia durante 29 anos - como um dos possíveis vencedores. Contudo, não existe, aos olhos da população, um claro vencedor. Luísa Salgueiro (PS), é outro nome que reúne consenso e é bem conhecida no concelho.

A deputada socialista, que era a escolha do falecido Guilherme Pinto, foi vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos, entre 1997 e 2009, com os pelouros da Ação Social, Habitação, Saúde e Juventude. A candidata já fez saber que pretende dar continuidade às opções políticas do Executivo independente e ao "legado" de Guilherme Pinto. Com o objetivo da maioria absoluta, Luísa Salgueiro, que tem apontado o rival Narciso como catalisador de um "regresso ao passado", acredita que conseguirá unir todos os socialistas de Matosinhos.

Luísa Salgueiro viu a popularidade subir em flecha nos últimos meses, beneficiando da polémica protagonizada pelo eurodeputado do PS, Manuel dos Santos, que a insultou na rede social Twitter, chamando-a de "cigana".

Luísa Salgueiro conta também com o apoio de "históricos" militantes do PS. António Campos, António Arnaut e Fernando Costa, atuais militantes número um, dois e três, respetivamente, formalizaram o seu "apoio e solidariedade" à candidata socialista". Fernando Costa, fundador do PS, afirmou que "apoia Luísa Salgueiro devido às perspetivas de desenvolvimento geradas pela sua competência, pelas suas propostas de criação de emprego e pela preocupação com a ação social, sobretudo no que toca à terceira idade e ao envelhecimento ativo".

Embora seja vista como uma das fortes candidatas à autarquia matosinhense, Luísa Salgueiro não terá a vida "facilitada" nas eleições. A socialista, apoiada por Guilherme Pinto em vida, não conta com os seus eleitores.

O grupo de independentes eleitos pelo Movimento Guilherme Pinto por Matosinhos, em 2013, recusou integrar as candidaturas do PS aos órgãos autárquicos e garantiu o seu apoio a Narciso Miranda. O grupo defende os "princípios da independência autárquica criada por Guilherme Pinto", que se afastou do PS dizendo querer fugir à "ditadura dos partidos".

Se aquele a quem nunca deixaram de chamar "presidente", Narciso Miranda (que conta com muitos dos eleitores de Guilherme Pinto) ganhar a corrida, a vitória apagaria a tentativa falhada em 2009, ano em que também concorreu como independente e perdeu a luta.

O "Senhor de Matosinhos" conseguiu pouco mais de 32 por cento dos votos, numa eleição ganha com maioria por Guilherme Pinto. Concorrer como independente valeu a Narciso a expulsão do partido de que foi militante por quase duas décadas. Na semana passada, em conferência de imprensa, Narciso Miranda garantiu um retomar de projetos que estavam "na gaveta há 12 anos", nomeadamente as obras no nó da AEP e na A28.

Quem também concorre como independente é António Parada, o candidato que, em 2013, foi cabeça de lista pelo PS, saiu como grande derrotado frente a Guilherme Pinto, tendo obtido pouco mais de 25 por cento dos votos. O socialista conta, contudo, com o apoio formal do CDS-PP, que diz rever-se nos projetos que António Parada tem para Matosinhos e que passam pela aposta no emprego, turismo, educação, coesão social e cultura. António Parada, ex-adjunto do secretário de Estado das Pescas, apresenta-se como uma alternativa a Luísa Salgueiro. E foi a escolha da deputada como candidata socialista que despoletou a rutura de Parada com o partido. Após 35 anos de militância, decidiu desfiliar-se a 21 de abril em rotura com a Federação Distrital, nomeadamente com o seu presidente, pela forma como conduziu o processo de escolha do candidato à CM Matosinhos.

O PSD não parece entrar de "igual para igual" com os adversários na luta pela CM Matosinhos. É pelo menos esta a convicção da população e as previsões das sondagens não oficiais. O candidato social democrata, Jorge Magalhães, foi contestado por algumas áreas do PSD local, mas está na corrida. O nome do candidato a Matosinhos fez já "correr muita tinta", arrastando-se por vários meses e depois de a concelhia do PSD ter anunciado e aprovado, por cinco vezes em reuniões diferentes, o independente Joaquim Jorge, biólogo e fundador do Clube dos Pensadores (programa de debates com convidados de diferentes áreas, que se realiza em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto). De referir que os sociais-democratas nunca conseguiram derrotar o PS em eleições autárquicas.

Em Matosinhos, diz a tradição que ganham os candidatos independentes. Contudo, tudo está em aberto e não há nenhum candidato que parta, claramente, como grande favorito a uma das câmaras mais importantes da zona Norte do país. Em 2013, a abstenção registou mais de 50 por cento. Resta saber se as dúvidas que persistem sobre qual a melhor escolha para o concelho vão, ou não, afastar, de novo, os eleitores das urnas.

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