Passos quer "governo sombra" para pressionar Costa

Líder quer reestruturar Instituto Sá Carneiro e adequá-lo à oposição. Há vários candidatos a eventuais "ministros-sombra"
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Pedro Passos Coelho está a reformular o PSD para tornar a estrutura mais eficaz na oposição. O presidente do partido está a preparar a reativação do "gabinete sombra" e isso passa por uma reestruturação do Instituto Francisco Sá Carneiro, organismo do partido que vai a votos após o Congresso de abril.

De acordo com fonte próxima do processo, "Passos Coelho pretende uma reestruturação do instituto, que só está pendente neste momento porque o conselho de administração vai a votos em breve, mas depois deve ser retomado. Mas a ideia é adaptar a orgânica à oposição e isso pode passar pela reativação do gabinete-sombra".

O "gabinete- sombra" não só faz parte dos estatutos do partido, como os regulamentos do próximo congresso garantem assento aos membros que façam parte desta estrutura. Quando o partido está no governo é natural que não exista, mas com o regresso à oposição já faz sentido a criação de um "governo sombra".

Há décadas que a estrutura não é ativada. Quando Passo Coelho esteve pela primeira vez como líder da oposição (2010/2011), conta o então chefe de gabinete Feliciano Barreiras Duarte, que era o gabinete de estudos do partido (GENE/PSD) que assumia esse papel, "sendo composto pelo José Manuel Canavarro e pelo Carlos Moedas, e por várias outras pessoas que estudavam e organizavam atividades sobre as mais variadas áreas".

Essa seria uma outra hipótese de ensaiar um "governo sombra": via gabinete de estudos. Porém, atualmente o GENE/PSD é praticamente inexistente. Há membros da direção do PSD desiludidos com o trabalho promovido pela estrutura, que é presidida pelo ex-patrão do líder do PSD, Rogério Gomes. Até na elaboração do programa eleitoral para as legislativas de outubro de 2015, o gabinete foi secundarizado e Passos optou por criar grupos de trabalho.

De acordo com fontes sociais-democratas, é precisamente de pessoas desse grupo de trabalho e de figuras que costumam participar que podem surgir nomes para esse "gabinete sombra".
Nos "ministeriáveis" desse governo-sombra estão assim figuras como o ex-presidente do Instituto de Gestão do Crédito Público, João Moreira Rato, o ex-presidente do AICEP, Pedro Reis (também membro da comissão de auditoria financeira do partido e da direção do Instituto Sá Carneiro) ou o ex-ministro David Justino (para a área da Educação).

Para a importante área das Finanças, mais do que a ex-ministra Maria Luís Albuquerque, Passos Coelho conta com os conselhos do antigo secretário de Estado Manuel Rodrigues, que seria sempre um nome a ter em conta num eventual "governo sombra".

Paralelamente, o primeiro vice-presidente do partido foi recentemente eleito presidente da Plataforma para o Crescimento Sustentável (PCS), que é um grupo independente, mas pode ser uma boa base de recrutamento para um eventual governo-sombra do PSD.

Um think-thank "laranja"

Jorge Moreira da Silva preside e coordena assim um think thank, que pretende contribuir para a "afirmação de um modelo de desenvolvimento sustentável do ponto de vista económico, social e ambiental."

Ao DN o primeiro-vice-presidente do PSD, Moreira da Silva diz que "não existe qualquer ligação entre o PSD e a PCS", sendo grupo de reflexão "autónomo, independente e internacional".

Jorge Moreira da Silva destaca que o grupo tem "400 membros, eleitores de vários partidos e na sua esmagadora maioria não filiados em qualquer partido."

Embora autónomo do PSD, muitas das figuras do conselho de administração da são habitués como alvos dos convites do PSD para grupos de reflexão ou debates organizados pelos sociais-democratas. Os ex-governantes do PSD Carlos Pimenta, Carlos Costa Neves, João Taborda da Gama ou a ex-vice-presidente do PSD, Nilza de Sena, são alguns dos administradores. João Moreira Rato ou o presidente do Instituto Sá Carneiro e eurodeputado do PSD Carlos Coelho são outros dos nomes.

Também é possível ver na moção estratégica de Passos Coelho várias das ideias do último relatório da PCS (ver caixa), mas Jorge Moreira da Silva insiste que o grupo é composto por "académicos, profissionais liberais, líderes e quadros do setor público e privado que nos últimos cinco anos têm participado na construção de de um novo modelo de desenvolvimento, com uma visão que transcende o curto-prazo e as tradicionais fronteiras partidárias".

Moreira da Silva destaca que "os partidos são fundamentais em democracia, mas há política além dos partidos". E acrescenta: "O facto de, nos últimos seis anos, ter sido o primeiro vice-presidente do PSD não me impediu, através da plataforma, explorar outros conceitos, outras ruturas e outros compromissos".

A equipa de Passos

No dia-a-dia, Passos também preparou uma equipa, que é no fundo o seu gabinete - naturalmente mais pequeno que o do governo. Na São Caetano, tem um assessor de imprensa puro, António Valle, que já tinha sido seu assessor no partido e no governo. Valle substituiu Rui Batista, que era assessor de imprensa mais próximo de Passos, mas voltou agora à agência Lusa, onde é jornalista. No contacto com a imprensa, Passos não dispensa, no entanto, a experiência de Zeca Mendonça, o histórico assessor do partido.

Passos mantém também um assessor para a área económica, Rodolfo Rebelo (antigo jornalista do DN, que foi para a São Caetano quando Passos se tornou líder em 2010) e um "homem do terreno", João Montenegro, antigo secretário-geral da JSD, que foi diretor da volta das últimas legislativas e já coordenou diversas campanhas eleitorais no terreno. João Montenegro e Rodolfo Rebelo transitaram do executivo, onde trabalhavam no gabinete do primeiro-ministro. Já quanto ao chefe de gabinete, Passos Coelho decidiu alterá-lo. Atualmente, no partido, é José Luís Fernandes, que esteve com Cavaco em Belém e é um histórico funcionário do PSD.

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