Hepatite C. Metade dos doentes curados até ao final do ano

Nos hospitais estão inscritos 13 mil doentes. Taxa de sucesso da medicação é de 95%. Ritmo de novos tratamentos tem abrandado
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"É uma felicidade enorme recebermos alguém que mostra as análises e diz: "Estou curado". E mais do que isso, "abri uma empresa e tenho 200 trabalhadores". Acho que foi um grande investimento e é um daqueles momentos em que devemos ter orgulho de sermos portugueses e de fazer parte de uma instituição que deu este contributo com o apoio do governo", conta Carlos Martins, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), que no ano passado tratou mil doentes. Até ao momento, no país, iniciaram-se 7676 tratamentos.

Os resultados têm sido muito positivos, referem os especialistas, a cumprir as previsões apontadas pelos ensaios clínicos: a taxa de doentes curados tem oscilado sempre entre os 95% e os 96%. Os número atuais refletem isso mesmo. Dos 2810 tratamentos finalizados, 2702 estão curados e 108 não. O que dá 4% de insucesso. Atendendo aos resultados e ao número de tratamentos já iniciados, poderão estar curados entre o final deste ano e fevereiro do próximo 7300 doentes, ou seja cerca de metade dos pacientes que estão inscritos nos hospitais do SNS.

No final de dezembro tinham iniciado tratamento 5322 doentes. Atualmente a contagem, atualizada pela última vez na segunda-feira passada, está em 7676, o que dá uma média de 400 novos tratamentos por mês. A este ritmo, chegar-se-á ao final do prazo do acordo - foi assinado por dois anos, por isso fevereiro do próximo ano - com cerca de 10 500 doentes a serem tratados. Paulo Macedo, na altura à frente do Ministério da Saúde, adiantou que podiam ser tratados até 13 mil pessoas, mas estimava que nem todos precisassem de medicação. Previa que fossem tratados por ano cinco mil doentes.

"Os tratamentos duram três a seis meses e são precisos esperar mais três [após o fim da medicação] para ter o resultado final. Acredito que até ao final do ano poderemos ter 10 mil tratamentos iniciados. Esperamos que dentro seis a nove meses tenhamos cerca de oito mil portugueses curados. Os resultados são extraordinários, semelhantes aos dos ensaios clínicos. Não há quase nenhum doente que não fique curado", diz Rui Tato Marinho, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, salientando o progresso que a investigação permitiu pela primeira vez matar um vírus. "Apesar da eliminação do vírus, numa pessoa com cirrose o risco de cancro mantém-se", alerta.
Antes de fevereiro de 2015, o hospital de Santa Maria tinha 84 doentes em tratamento. "Antes do acordo éramos o centro hospitalar com mais doentes em tratamento. Mas tenho de salientar que dos doentes em tratamento, entre 50 a 60 foram tratados em ensaios clínicos. Foi um investimento partilhado com a indústria", explica Carlos Martins, presidente do CHLN.

"Em 2014 tratámos 200 doentes com hepatite C, em 2015 foram cinco vezes mais: aproximadamente mil. Este ano, as estimativas apontam para 1200 doentes tratados", reforça o responsável, explicando que em relação os custos com a medicação, que são feitos de forma centralizada pela Administração Central do Sistema de Saúde sem afetar os orçamentos dos hospitais, no ano passado tiveram algum impacto, mas que este ano o saldo está equilibrado. "Não terá grande impacto nas contas e esperamos continuar a saber que estamos a devolver a vida a muitas pessoas e muitos cidadãos à sua atividade profissional."

Ritmo a diminuir

Luís Mendão, presidente do Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA (GAT), também refere que "as taxas de sucesso são esplêndidas" e que do ponto de vista da eficácia "os resultados são muito bons". Mas aponta: "Se não houver um novo impulso para iniciar novo tratamento com rapidez, podermos ter dificuldades em cumprir o acordo que era de tratar até 13 mil doentes e com isso não conseguirmos o melhor preço por tratamento."

Questionado, o Infarmed adianta que o acordo "tem vigência de dois anos e considera um universo de 13 000 doentes. Ainda não foi concluído o período de vigência pelo que não se pode afirmar que o acordo não será cumprido. Podemos adiantar que o mesmo corre como estipulado, sendo que o processo de renegociação previsto e já anunciado publicamente, ainda se encontra numa fase precoce".

A perceção, reforça Luís Mendão, "é que há um abrandamento significativo de tratamentos iniciados. Não sabemos se há uma diminuição dos tratamentos pedidos. Existem locais, como o Algarve, onde há mais pessoas com tratamento aprovado, mas que ainda não o iniciaram. Tem de se esclarecer a razão. Falta a integração dos doentes que estão no sistema prisional e existem dificuldades para as pessoas que usam drogas e que estão em tratamento de substituição. Também não temos dados sobre novos doentes que estão a chegar aos hospitais. As estimativas apontam para 40 mil pessoas com hepatite C.

A criação do programa prioritário é um sinal positivo", diz.
Tato Marinho acrescenta que a incapacidade logística em alguns locais pode explicar o abrandamento, como a falta de equipamento para avaliar o grau de fibrose do fígado e sem o qual não se pode iniciar o tratamento.

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