Derrota explicada com culpas para o PS e para o "populismo"

Ex-ministra ficou "muito aquém" dos objetivos, assumiu a candidatura. Direção do PS e subvenções derrotaram-na
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Consequência imediata do resultado eleitoral de Maria de Belém (4,24%): será a candidata a ter de pagar por inteiro a sua campanha. Como ficou abaixo dos 5%, o Estado não lhe paga a subvenção pública devida.

O resultado não foi só mau - foi muito pior do que o esperado. Com os seus 4,2% (cerca de 196 mil votos), Maria de Belém não só ficou a quilómetros de Sampaio da Nóvoa (22,8%) como teve menos de metade dos votos de Marisa Matias (10,1%).

À hora em que este texto era escrito, a ex-ministra da Saúde tinha uma vantagem de menos de 20 mil votos face ao outro grande derrotado da noite eleitoral, Edgar Silva (196 mil votos contra 182 mil).

A candidatura despachou a noite eleitoral o mais depressa que pôde. Às 21.45 Maria de Belém deixou a sede da candidatura, na zona de Picoas, em Lisboa. Recusando mais uma vez, como na declaração em que assumiu a derrota, responder às perguntas dos jornalistas. Até o seu marido insistiu para que respondesse ("ó Maria, responde lá..."), mas em vão.

Só tiveram de passar 40 minutos sobre as primeiras projeções (20.00 no continente) para Maria de Belém descer até à exígua sala de imprensa da sua sede (onde o seu amigo padre Vítor Melícias foi acompanhando o desenrolar dos resultados). "Assumindo a derrota eleitoral, procurei durante a campanha dar o meu contributo para o debate político e o aprofundamento da democracia", afirmou. Acrescentando depois que a abstenção "precariza a democracia" e que procurou dar o seu "contributo" na campanha para um debate político "mais aprofundado". "Estivemos à altura, sem demagogia nem populismos", disse.

A intervenção de ataque tinha ficado por conta do porta-voz da candidatura, José Vera Jardim, pouco depois das 20.00. A candidata ficou "muito aquém" dos objetivos - ir à segunda volta e derrotar Marcelo - e isso deveu-se, em parte, à "vaga de populismo demagógico" que os outros candidatos exploraram contra Maria de Belém nos últimos dias da campanha, a propósito do caso das subvenções vitalícias.

Além do mais, acrescentou o porta-voz, "não se pode ignorar" que muitos "dirigentes do PS e membros do governo" saíram em apoio de Nóvoa, e isso foi "interpretado como um apoio oficioso" do partido à candidatura do ex-reitor. Ora este "apoio oficioso" foi "ao arrepio da posição" oficial assumida pela direção do PS perante as presidenciais - equidistância entre Belém e Nóvoa. "Uma coisa é certa: Maria de Belém fez uma campanha pela dignidade e com dignidade", concluiu.

Mais tarde, na sede nacional do PS, a número dois do PS, Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta, responderia garantindo que a direção do partido se comportara, como prometido, de forma equidistante entre Belém e Nóvoa. Aos dois deixou uma mensagem: "O PS não quer deixar de lhes deixar uma mensagem de reconhecimento pelo combate que travaram com empenho, em circunstâncias particularmente difíceis."

Derrotada, a candidatura esforçou-se por fazer passar a ideia de que nem só Maria de Belém perdeu na noite de ontem - António Costa também (e, sendo assim, feitas as contas, esta é a terceira derrota eleitoral consecutiva do líder do PS, depois das regionais da Madeira, em março de 2015, e das eleições legislativas, em outubro de 2015).

Manuel Alegre foi um dos protagonistas desse esforço. Disse que o resultado destas eleições representa "uma derrota da esquerda toda" e isso é "evidentemente uma derrota do PS" - "não "vale a pena estar com habilidades". O histórico socialista - um dos poucos apoiantes da ascensão de Costa à liderança do PS que esteve com Maria de Belém - afirmou ainda que a candidata foi vítima de uma "campanha ignóbil", à qual respondeu com "pedagogia democrática".

Alberto Martins seguiu a mesma linha de pensamento. O resultado é "uma grande derrota para a esquerda" e "para o PS". O partido deve "fazer uma análise crítica das consequências disto" porque "quando se é derrotado é porque não se jogou para a vitória, isso aconteceu, houve um erro do PS." "Parece que não aprendemos com os erros do passado", concluiu.

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