O lugar n.º 33

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No debate sobre o programa do XXI Governo ficou patente a centralidade que o Parlamento vai assumir no próximo ciclo político. A direita decidiu prolongar a sua compreensível discordância política com o modo como António Costa conseguiu formar governo. Está no seu direito, mas ao insistir na tónica da ilegitimidade está a cometer um duplo erro. Erra, pois a repetição da mesma tecla transforma-se em ruidoso ressentimento, que pode ser tudo menos capital político. Erra, também, ao hostilizar os acordos interpartidários que viabilizaram o caminho para o governo socialista, pois com isso coloca em causa a essência da representação política em que se funda a democracia moderna. Há duas coisas que nenhum dos partidos portugueses - de direita ou de esquerda - pode esquecer. Primeiro. Nas primeiras constituições das democracias representativas (EUA, 1788; França, 1791, ou Portugal, 1822) não existe qualquer referência aos partidos. Os partidos surgiram, apenas, como instrumentos indispensáveis no assegurar da representação daquilo que é a alma da democracia: a vontade geral. Contudo, só a alma é imortal. Os instrumentos são mortais, sobretudo quando se esquecem disso. Segundo. Em 2014, no competente Índex da Democracia, da revista The Economist, Portugal aparece num medíocre lugar n.º 33. Somos uma "democracia imperfeita", com graves problemas no funcionamento do Estado, na participação política (veja-se a abstenção) e na cultura política. Uma crispada oposição de terra queimada, por parte da direita, ou um fútil respaldo parlamentar de mera investidura ao novo governo, do lado das esquerdas, agravarão a frágil, empobrecida e perigosa situação do país e do povo, que todos os partidos têm como única obrigação servir e proteger.

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