Rei morto, rei posto

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Se bem aprendi a conhecer o Dr. Macedo, sei que ele não se deixou iludir. Os encómios que encheram o espaço de opinião publicada e dos partidos políticos, com a honrosa exceção do PCP e o nim do Bloco, não são maiores nem mais genuínos do que os que foram dispensados ao Dr. Domingues. Estamos no reino da política e do comentário político. Não é hipocrisia, é o ar que se respira com a maior das naturalidades e grande convicção.

O Dr. Macedo tem seguramente a mesma competência de gestão que se reconhece ao Dr. Domingues e tem como vantagem a grande experiência política que adquiriu desde os tempos em que a Dr.ª Ferreira Leite o chamou para pôr em ordem a máquina fiscal. O Dr. Domingues não foi de grandes discursos e o Dr. Macedo é de poucas falas, mas o Dr. Macedo jamais aceitará que lhe façam o que fizeram ao Dr. Domingues.

O ainda presidente da Caixa, elogiado como primeira escolha do governo, é agora trucidado nas páginas dos jornais por ter "um estilo de gestão demasiado autocentrado", enquanto o futuro presidente é elogiado como "escolha natural". Parece que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, os donos disto tudo, não gostaram de ver o Dr. Domingues "sentir-se superior ao poder político". O esperado ajuste de contas foi feito por fontes oficiais na edição do Expresso. Podia ter sido noutro jornal qualquer, DN incluído, não é o mensageiro que está em causa. Mas a verdade desta história fica prejudicada, porque o Dr. Domingues não quer jogar um jogo mediático que tem como perdido à partida.

Sendo o Dr. Domingues um desconhecido da causa mediática, é fácil derrotá-lo, quando ele decide nem sequer ir a jogo. Não coleccionou amigos entre os fazedores de opinião, não faz festas em que participa metade da corte de Lisboa, nem se vislumbra que interesse possa ter para essa mesma causa num futuro próximo. Coisa diferente se passa com o Dr. Macedo. Ele não é um político de partidos, mas sabe muito de política, tem amigos, conhece os recantos à corte e não conseguirão fazer dele gato-sapato.

Com o Dr. Domingues fora da Caixa ganhou-se a paz e, com a escolha do Dr. Macedo, o governo voltou a conseguir uma vitória política. Rei morto, rei posto. Tenha Paulo Macedo a vontade e a coragem de liderar o banco público em nome dos cidadãos contribuintes. A verdade é que, quando se ouve dizer que a administração está a ser escolhida em conversas entre o futuro líder e o governo, se percebe que a política recuperou espaço no futuro da Caixa e não se pode esperar o melhor dos mundos. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa puderam fazer o que entenderam com António Domingues, agora já não têm margem de recuo. O que acontecer é da responsabilidade directa dos dois.

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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