Um Adam nunca será um Farrokh, nem tem de ser

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O Freddie Mercury que surgia em palco era tanto uma figura cativante como uma voz poderosa. Era também um homem nascido num mundo que já não existe e numa comunidade que cada vez se torna mais rara. Por isso, Adam Lambert nunca será uma cópia do vocalista original dos Queen, porque é inimitável alguém que nasce com o nome Farrokh Bulsara, em Zanzibar, filho de funcionários da coroa britânica, e é enviado para estudar na Índia antes de se tornar um adolescente do Middlesex que gosta de rock. O nome artístico, ou de guerra, disfarça a origem, mas olhando bem para o rosto de Mercury os traços persas lá estavam. Sim, persas, porque a sua família pertencia à minúscula comunidade parsi, zoroastristas que há mais de mil anos fugiram do Irão islamizado para uma Índia aberta às religiões. Bombaim tornara-se a grande cidade dos parsis, e muitos fizeram fortuna nela como os Tata, mas Mercury só foi lá para estudar antes de seguir os pais e se instalar nessa Inglaterra onde casamentos combinados com primas já não faziam sentido. Lambert, esse, tem uma grande voz. Brian May garante que vê nele alguém capaz de igualar o falecido Mercury na relação com o público. Já não é pouco para o americano com uma mãe judia, pormenor que traz um historial a lembrar o dos parsis, mas, sem se forçar demasiado, seria como comparar Indiana e Índia. Comecei por dizer que Mercury pertencia a um mundo que desapareceu, o do império britânico. Também era de um outro tempo que já passou, em que um artista, mesmo famoso, tinha de esconder a homossexualidade. Lambert sobe ao palco sem segredos. Teve um companheiro assumido. Quando começar hoje a cantar em Lisboa serão inevitáveis as comparações com Mercury. Passemos à frente. É uma sorte que a música dos Queen seja interpretada por alguém como este jovem que foi descoberto no American Idol. Feche os olhos e ouça a magia. Its a kind of magic.

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