Sorte dos alemães: vão escolher entre o muito bom e o bom mais

Publicado a: 
Atualizado a: 

Fala-se demasiado da Alternativa para a Alemanha, essa AfD nascida há meia dúzia de anos para contestar o euro e que entretanto se transformou em movimento anti-imigrantes, aparecendo assim nas sondagens com hipóteses de chegar aos 10% nas eleições de setembro à custa dos medos da população. Mas mesmo que a AfD consiga ficar com o terceiro maior grupo parlamentar, o que não é de descartar, o futuro da maior economia da União Europeia continuará a ser chefiado por Angela Merkel, uma chanceler democrata-cristã competente e com preocupações sociais, ou então, embora menos provável, por Martin Schulz, o ex-presidente do Parlamento Europeu que agora se aventura na política doméstica como candidato dos sociais-democratas à chefia do governo de Berlim.

Aplaudida e depois criticada pela sua política de portas abertas aos refugiados, Merkel perdeu parte da sua popularidade, mas é dado como quase certo que a sua CDU--CSU será de novo a força mais votada, com uns 30% a 35% de votos. Já o SPD anda pouco acima dos 20% nas sondagens, razão pela qual o seu líder, Sigmar Gabriel, decidiu não ser neste ano o candidato a chanceler e oferecendo a missão a Schulz. Este chega de Estrasburgo com uma aura de dinamismo que pode ser útil ao SPD, que já por uma vez pagou nas urnas por ser o parceiro menor da coligação governamental, não conseguindo apresentar-se como alternativa.

A grande incógnita sobre o efeito AfD é se os seus resultados vão provocar um Bundestag tão fragmentado que a única solução de governo volte a ser a atual Grande Coligação, que dura desde 2013 e já tinha sido experimentada no primeiro mandato de Merkel (2005-2009). Excluída está a fórmula CDU-CSU mais FDP, que funcionou no segundo mandato da chanceler, pois mesmo que os liberais desta vez ultrapassem a fasquia dos 5% que dá entrada no Parlamento alemão a sua representação nunca será suficiente. No ar fica a possibilidade de duas coligações nunca tentadas a nível nacional : a dos democratas-cristãos com os Verdes e a dos sociais-democratas como os Verdes e os pós-comunistas do Die Linke, mas ambas são hoje improváveis tanto pela aritmética eleitoral como por falta de vontade política.

Chegamos então à conclusão de que aos alemães resta oferecer a Merkel um quarto mandato, para tentar bater o recorde de Helmut Kohl, ou dar a Schulz a chance de mostrar o que vale como chanceler. Sorte pois a dos alemães, pois vão poder votar no muito bom ou no bom mais, com a vantagem a ser para Merkel na avaliação apenas porque tem provas dadas de governação em condições difíceis, como a crise da dívida soberana que dividiu a Europa ou o fluxo de refugiados, que obrigou a Alemanha a acolher um milhão de pessoas enquanto outros países nem uns milhares querem aceitar.

A dupla Merkel-Schulz à frente do governo de Berlim não seria mau cenário daqui a uns meses, se o antigo livreiro que fala cinco línguas não imitasse outros candidatos recentes do SPD que derrotados optaram por afastar-se. É que a cientista criada na Alemanha comunista tanto pode querer mesmo bater recordes de longevidade no poder como, pelo contrário, começar a pensar na sua sucessão na CDU-CSU (quem? Wolfgang Schäuble?) e assim a reabrir a competitividade na política alemã. Quem sabe se não será só daqui a quatro anos que chegará a verdadeira oportunidade para Schulz?

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt