O discurso do rei

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A primeira votação de investidura já tinha mostrado o nível de animosidade entre Sánchez, Iglesias e Rajoy, já para não falar nas incompatibilidades programáticas. No atual quadro apenas o Ciudadanos de Albert Rivera tem estado à altura. Quatro meses depois das legislativas, a lição a tirar é esta: Rajoy está à espera de que o governo lhe caia nas mãos por exaustão de Sánchez e por sentido patriótico de Rivera. Ontem, falhada a maioria simples, consta que o caminho será este: Rajoy iniciará nova negociação com PSOE e Ciudadanos, na expectativa de ter a benevolência de Rivera e beneficiar da dupla derrota de Sánchez. Conta com o prazo extra de 60 dias inscrito na Constituição e só depois, falhada nova investidura, o rei convocará eleições.

Neste cenário, esticado o prazo ao limite, Espanha poderá ter estado seis meses sem um novo governo, o que não sendo inédito na UE não deixa de desgastar ainda mais a sua classe política e expor a frágil qualidade do sentido de compromisso num Parlamento mais fragmentado do que nunca. Mas, ao contrário do que muitos gostariam, o rei está hoje no centro do debate político e constitucional como poucas vezes na história democrática espanhola. Felipe VI, ao ver que o nível de incompatibilidades se mantém antes mesmo dessa segunda ronda negocial se iniciar, pode até nem mandatar Rajoy, optando por encurtar prazos e convocar novas eleições.

Seria, aliás, uma forma de reforçar a coroa no sistema político e um contributo para evitar que novos rompimentos negociais tornassem ainda mais áspera a visão que os eleitores têm dos principais partidos. Se assim for, põe-se outra questão: irão Rajoy e Sánchez a jogo ou reconhecem os seus falhanços? Vontade não falta a uns tantos para tirá-los do caminho. E, num cenário de luta interna apressada, o Ciudadanos é o que mais ganha. Ainda bem.

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