Evitar o Isistão

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Kadhafi nasceu e morreu em Sirte, mas quem lá manda hoje é o ISIS. Estamos todos a olhar para a Síria mas há dias Obama pediu ao National Security Council informações sobre uma extensão dos bombardeamentos à Líbia. Isto é a continuação da "guerra ao terror" de Bush com outros meios: drones em vez de tropas. A principal preocupação? Que os bombardeamentos não tenham ação paralela na estabilização das zonas não controladas pelo ISIS. A vantagem da Líbia em relação à Síria é não ter a teia de interesses divergentes entre grandes potências, a desvantagem é não estar dotada de orgânica estatal enraizada que permita partir daí para a reconstrução do país. Mais do que para os EUA, a Líbia é um desafio estratégico para a UE, que devia assumir mais responsabilidades. Primeiro, os europeus têm mais interesses em risco, desde a relação comercial à energética, passando pela diabólica rota migratória mediterrânica. A UE precisa, por isso, de estar presente na formação da decisão de uma missão anti-ISIS na Líbia, para não ser vítima dos erros cometidos pós-Kadhafi e da falência da coordenação entre a missão militar (NATO) e uma de estabilização (UE). Além disso, precisa de manter vivo o plano da ONU, envolvendo outras partes nas soluções de poder e repartição de riqueza. Pode ser aglutinadora se agir de forma institucional em vez de ser encabeçada por Estados com interesses evidentes na Líbia. A UE tem à sua disposição, até pela proximidade geográfica, mas sobretudo pelo perfil de honest broker, instrumentos capazes de dotar a Líbia de um roteiro onde várias dimensões possam ser integradas com lógica, da inclusão tribal ao auxílio à administração local, da diversificação económica à formação policial, do combate à economia paralela à inclusão da mulher no processo político. Será sempre demorado mas nada é pior do que a situação a que se chegou.

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