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Estarem sempre dispostos a sair do país à procura de melhores condições de vida é uma das grandes qualidades que os portugueses têm, dizia-me há dias um empresário estrangeiro com negócios em Portugal. A ideia é repetida, com justiça, há séculos. Nas próximas semanas, várias companhias aéreas low cost vêm recrutar a Portugal. Só a Ryanair já levou daqui a maior parte dos oito mil jovens que contratou nos últimos oito anos. As condições de recrutamento preocupam os sindicatos, mas os alertas não têm sido impedimento a novas contratações. Com o desemprego a passar os 26% entre os jovens, os incentivos a ficar são poucos e há quem esteja até disposto a pagar para garantir que tem trabalho. As companhias, por outro lado, fazem um investimento seguro: sabem que aqui encontram gente capaz, com vontade de trabalhar e - infelizmente - sem grandes alternativas. A verdade é que sair ainda é demasiadas vezes melhor do que ficar. Com prejuízo para o futuro do país, já que muitos dos melhores optam por procurar oportunidades fora e muitas vezes não regressam, levando as mais-valias que podiam trazer ao país para outras paragens. No ano passado, Portugal perdeu habitantes pelo quinto ano consecutivo. Somos agora 10,34 milhões e apesar de estarem a nascer mais bebés aqui, a média ainda é de pouco mais de um filho por mulher. O que se traduz numa população cada vez mais envelhecida e em dificuldades crescentes para fazer o país arrancar e desenvolver-se, dar o salto para um patamar semelhante ao dos países que atraem os nossos melhores profissionais. Ainda há por cá muita gente boa, competente, capaz de fazer a diferença. Mas se não conseguirmos criar incentivos, se não aprendermos que é preciso dar-lhes condições para crescer em Portugal, corremos o risco de um dia acordar num beco sem saída.

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