Tunísia: A exceção da Primavera Árabe vive entre turistas e terroristas
O jejum do próximo Ramadão coincidirá com o verão. Na Tunísia, junho e julho são tórridos e toda a gente se recorda de quando Habib Burguiba apareceu na TV a beber um sumo de laranja e a dizer que o país precisava de trabalhar e isso não era compatível com deixar de comer e beber do nascer ao pôr do Sol. Foi o escândalo, com muitos muçulmanos a achar que o pai da independência tinha ido longe de mais. Nenhum político arriscaria hoje ser tão direto a criticar o jejum, até porque o êxito do país passa por conciliar islão e democracia.
Mas a verdade é que será no verão que se jogará o futuro da menina bonita da Primavera Árabe, esta Tunísia onde tudo começou e que continua a dar esperança aos que acreditaram na Revolução de Jasmim. E esse futuro tem que ver com o regresso dos turistas, do qual dependem dois milhões de tunisinos, se contarmos com as famílias. E isto num país de dez milhões. Ora, ao atacarem o Museu do Bardo, em Tunes, e depois hotéis na praia, os jihadistas quiseram desestabilizar a democracia: matar estrangeiros, criar medo, prejudicar o turismo, implodir a economia, destruir uma transição que até mereceu o Nobel da Paz.
Deve-se a Burguiba, que governou entre 1956 e 1987, as bases da atual Tunísia. Deu o direito de divórcio às mulheres e tornou a educação obrigatória. À frente do país está agora Béji Caid Essebsi, que foi ministro de Burguiba. Eleito em 2014, tinha sido já primeiro-ministro interino quando o ditador Ben Ali fugiu do país, faz no dia 14 cinco anos. Através da aliança com os islamitas moderados, tem-se esforçado por derrotar o terrorismo, mas com os seus 89 anos ninguém acredita que será um líder duradouro. E há quem o critique por promover as ambições do filho à liderança do partido Nidaa Tunes, abrindo brechas no campo democrático numa altura em que se calcula que cinco mil tunisinos estejam a combater pelo Estado Islâmico.
Se há jovens nas fileiras jihadistas, há muitos mais que defendem a democracia. No Bardo, onde os mosaicos romanos homenageiam a história pré-islâmica, até dia 7 uma exposição de arte moderna desafia o futuro. "Aquilo que queremos é dar outra imagem da Tunísia, que não seja a de ontem, das praias, nem a de hoje, do terrorismo", diz Khaled Belage. Só faltam os visitantes.