Trump vai deportar ou prender dois a três milhões de ilegais

Presidente eleito confirma à CBS ideia de vedação entre EUA e México. UE debate futuro pós-vitória de Trump
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Donald Trump presidente pode afinal não ser muito diferente de Donald Trump candidato. Isto a avaliar pelas declarações feitas pelo milionário republicano ao programa 60 Minutes da televisão CBS. Em conversa com a jornalista veterana Leslie Stahl, o presidente eleito anunciou que vai deportar entre dois e três milhões de imigrantes ilegais do território americano e que não desistiu da sua ideia de erguer um novo muro ao longo da fronteira EUA-México. A somar a isto, Trump, de 70 anos, demonstrou neste fim de semana que privilegia os contactos com membros de partidos populistas europeus em detrimento dos líderes dos países e das instituições da União Europeia. A sua vitória nas presidenciais de dia 8 motivou ontem, aliás, um jantar informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 28 Estados da UE em Bruxelas. O site Politico classificou o encontro como "o jantar do pânico".

"O que vamos fazer é identificar pessoas que sejam criminosas ou que tenham cadastro, que sejam membros de gangues, que sejam traficantes de droga. Muitas delas, provavelmente dois milhões ou até possivelmente três milhões, vão ser expulsas do nosso país ou vão ter de ser presas. Mas vamos deportá--las do nosso país, pois encontram-se aqui ilegalmente", declarou Trump no 60 Minutes, numa entrevista ontem transmitida na íntegra pelo programa. Nos EUA há cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais e muitos são do México. Trump não especificou o que fará com os imigrantes que simplesmente não têm papéis, mas confirmou uma das suas promessas de campanha mais polémicas: erguer um muro ao longo da fronteira com o país vizinho de língua espanhola (cerca de mil dos 3100 quilómetros de fronteira entre os dois países já estão divididos por um muro e por uma vedação).

Uma espécie de vedação

"Antes de agirmos com determinação é preciso garantir a segurança da nossa fronteira", declarou aquele que, a 20 de janeiro, será o sucessor de Barack Obama. Questionado pela jornalista se garantir a segurança da fronteira significa erguer o tal muro, o milionário sem experiência política disse: "Pode haver uma espécie de vedação." Durante a campanha eleitoral, Trump acusou os mexicanos de enviarem "criminosos e violadores" para o território dos Estados Unidos, prometendo mesmo fazer que seja o país vizinho a pagar o muro. O governo do México sempre disse que não pagará nada.

Falando numa outra televisão americana, a CNN, o líder da Câmara dos Representantes, o republicano Paul Ryan, tentou pôr água na fervura no que diz respeito às declarações do presidente eleito sobre as deportações. "Eu penso que devemos esclarecer as pessoas de que não é aí que nos focamos. O foco é a segurança da fronteira. Não estamos a planear criar uma força de deportação. Donald Trump não está a planear uma coisa dessas", declarou ontem Ryan, que num primeiro momento se tinha virado contra o republicano durante a campanha para as presidenciais, mas agora que ele derrotou a democrata Hillary Clinton tenta de novo cair nas suas graças.

Prioridade a Farage e Le Pen

A incerteza introduzida pela eleição de Donald Trump levou os líderes europeus a convidarem o republicano, desde a primeira hora, para um debate UE-EUA. Logo no dia 9, a seguir à votação, os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Jean-Claude Juncker e Donald Tusk, endereçaram uma carta a Trump a convidá-lo a vir à Europa o quanto antes para discutir o futuro das relações transatlânticas. Em causa estão sobretudo a negociação do acordo de comércio livre entre as duas partes e o empenho americano na defesa dos europeus através da NATO. Que seja público, até hoje, Juncker e Tusk não obtiveram de Trump qualquer tipo de feedback. O mesmo não se pode dizer de dois dos mais conhecidos dirigentes populistas da União Europeia, Nigel Farage e Marine Le Pen.

"Somos só turistas", disse Farage, líder do UKIP, quando no sábado foi questionado pelos jornalistas sobre a sua presença na Trump Tower em Nova Iorque. Mais tarde o eurodeputado eurocético britânico publicou na sua conta de Twitter uma fotografia com Trump e as seguintes frases: "Foi uma honra estar com Donald Trump. Estava descontraído e cheio de boas ideias. Estou confiante de que será um bom presidente." A chefe de campanha do republicano, Kellyanne Conway, afirmou depois que os dois homens apreciam "a companhia um do outro, tendo tido a oportunidade de falar de liberdade e de vitória e sobre o que isso significa para o mundo". Farage e o seu partido defendem a saída do Reino Unido da UE. Trump esteve em solo britânico a apoiá-lo quando ganhou o brexit e o eurocético retribuiu marcando presença nos seus comícios.

Quem também se sente encorajada com a vitória de Trump é a líder da Frente Nacional francesa. A vitória do republicano "tornou possível o que até agora se afigurava como impossível", afirmou Le Pen em entrevista à BBC, televisão pública britânica. E acrescentou que o resultado de Trump é "uma vitória do povo contra as elites" e que é possível fazê-lo também em França nas presidenciais de 2017. A entrevista está a gerar polémica, uma vez que coincidiu com o chamado Dia da Lembrança, que homenageia soldados britânicos mortos nas duas guerras mundiais. Entretanto a sobrinha de Marine Le Pen, Marion, disse no Twitter ter recebido um convite do possível chefe de gabinete de Donald Trump, Stephen Bannon, para trabalharem em conjunto. Alarmados com tudo isto, os chefes da diplomacia dos 28 tiveram ontem um jantar informal em Bruxelas para falar da UE pós-vitória de Trump.

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