"Acho que é uma desgraça que essa informação tenha sido divulgada. São tudo notícias falsas. Isso não aconteceu. Foram opositores, pessoas doentes que o divulgaram." Donald Trump negou ontem na primeira conferência de imprensa desde que foi eleito presidente dos EUA a veracidade das informações que fazem parte do chamado dossiê russo, que denuncia a existência de alegadas ligações do milionário republicano a Moscovo e de material comprometedor que pode ser utilizado pela Rússia para o chantagear. O dossiê foi divulgado pelos media, apesar de a sua informação não ter sido confirmada..O dossiê de 35 páginas divulgado pelo site BuzzFeed e a CNN foi escrito por um antigo membro dos serviços de informação britânicos, considerado uma fonte viável pelos norte-americanos em relação à Rússia. Os documentos, de no máximo três páginas, estão datados de 20 de junho a 20 de outubro do ano passado, e alegam que Moscovo partilha informações com Trump "há pelo menos cinco anos", com o objetivo de "encorajar divisões na aliança ocidental". Além disso, mencionam a existência de kompromat, isto é, material comprometedor recolhido com a intenção de chantagear a figura pública ou político. Neste caso, seria um vídeo de Trump num quarto de hotel de Moscovo com prostitutas..O dossiê terá sido encomendado por adversários de Trump nas primárias republicanas, mas quando ele ganhou surgiu um cliente democrata. O autor do relatório, que não é identificado, terá passado a informação também ao FBI e, mais tarde, à revista Mother Jones (que falou da sua existência em finais de outubro). O tema é falado nos corredores de Washington e entre os jornalistas há vários meses..Em novembro, caiu nas mãos do senador republicano John McCain. "Depois de examinar o conteúdo, e incapaz de emitir um julgamento sobre a sua veracidade, entreguei a informação ao diretor do FBI [James Comey]", confirmou ontem McCain num comunicado, dizendo que foi a sua única ligação ao caso. Desconhece-se em que fase estará a investigação. O dossiê acaba nos media depois de um resumo ter sido incluído num briefing de segurança ao presidente, presidente eleito e líderes republicano e democrata do Congresso, entre outros..Na conferência de imprensa, tal como antes no Twitter, Trump criticou as agência de informação dos EUA por terem divulgado a informação - que classificou de "notícias falsas". E comparou a situação a algo "que a Alemanha nazi teria feito". Mais cedo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também tinha considerado "ficção" a existência de informações comprometedoras contra Trump, denunciando uma "invenção completa". Em relação aos media que os divulgaram, Trump também não poupou críticas, e chegou mesmo a mandar calar o jornalista da CNN presente na conferência de imprensa, não o deixando fazer-lhe perguntas..A Rússia acabou por dominar o encontro com os media, no lóbi da Trump Tower, com o presidente eleito a admitir que Moscovo foi responsável pelo ataque informático ao Partido Democrata, na campanha. Algo que os russos sempre negaram. "Em relação à pirataria informática, acho que é a Rússia. Mas também somos alvo de pirataria de outros países e outras pessoas e posso dizer isso", disse, apontando também o dedo à China ou ao Japão. Sobre o presidente russo, Vladimir Putin, Trump deixou claro: "Se Putin gasta de Donald Trump, considero isso positivo, não um problema.".A conferência de imprensa tinha sido marcada inicialmente para falar dos negócios de Trump e da forma como este vai evitar acusações de conflitos de interesses. "Os meus dois filhos, Donald Jr. e Eric, vão liderar a sociedade" que Trump criou para gerir o seu império. "Eles vão geri-la de forma muito profissional. Nem vão falar comigo", afirmou o presidente eleito, dizendo que Ivanka, a filha, também se vai separar dos negócios. O seu marido será um dos conselheiros presidenciais.