O pacificador asturiano que assume as rédeas do PSOE

Javier Fernández, referência entre os socialistas, é o líder da comissão gestora que fica à frente do partido até ao congresso.
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Com os socialistas espanhóis dividido ao meio, Javier Fernández, o presidente da comissão gestora do PSOE, consegue quase uma impossibilidade: não tem especiais anticorpos em nenhum dos bandos. Sanchistas e críticos parecem em paz e satisfeitos com a escolha do presidente das Astúrias para guiar o partido até à escolha do próximo secretário-geral e ao congresso extraordinário.

Fernández, apesar de ter dito que lhe parecia "extemporânea" a proposta de Sánchez de convocar um congresso, foi dos poucos que não proferiram ostensivamente nenhuma profissão de fé durante o cisma que foi esfrangalhando os socialistas. "Fala de forma pausada, olha de frente o interlocutor e mantém sempre uma simpatia misturada com timidez. É um homem respeitado dentro do partido, um referente ético de firmes convicções e um dos homens mais consultados sempre que o PSOE muda de alguma maneira." O retrato laudatório não é traçado por nenhum admirador, mas sim pelo El País. Ainda assim, sublinha o La Vanguardia, o líder da comissão gestora é próximo de Susana Díaz, a presidente da Andaluzia, que é uma das principais vozes no bando dos críticos.

Depois do caos que foi a reunião do comité federal do PSOE no sábado - que terminou com a demissão de Pedro Sánchez do cargo de secretário-geral - Fernández primeiro terá dito que não, mas acabou por aceitar a tarefa de presidir à comissão gestora.

Nascido em 1948, em Mieres, um pequeno município no interior das Astúrias, Javier Fernández despertou cedo para a realidade política e cresceu numa família de tradição socialista, mineiros da parte materna e siderúrgicos pelo lado paterno. Conta a plataforma noticiosa La Información que a Guerra Civil de Espanha deixou marcas profundas na sua família. A mãe ficou órfã aos 11 anos e o pai passou vários anos num campo de concentração na zona ocidental das Astúrias. Foi preso quando tinha apenas 16 anos. As memórias de infância e de juventude de Javier Fernández estão também marcadas pelas viagens a França para visitar os tios, obrigados a exilar-se do outro lado dos Pirenéus depois da vitória dos franquistas.

Engenheiro de minas, tinha 37 anos quando se filiou no PSOE, em meados da década de 1980. Desde 2000 que lidera a federação asturiana do partido e em 2012 ascendeu finalmente à chefia do principado. Depois de ter sido o candidato mais votado, com 32%, foi investido com votos a favor da Esquerda Unida (IU) e da União Progresso e Democracia e abstenções do Fórum Astúrias (FA) e do Partido Popular (PP). Em 2015 revalidou o cargo, com o apoio da IU. Podemos e Ciudadanos abstiveram-se e PP e FA votaram em Mercedes Fernández, a candidata do Partido Popular.

Esta é a terceira vez que o PSOE se vê nas mãos de uma comissão gestora. A primeira aconteceu em 1979, quando Felipe González decidiu deixar a secretaria-geral por sentir que tinha falhado na ambição de empurrar o partido no caminho da social-democracia afastando-o dos dogmas marxistas. No congresso extraordinário que se celebrou a seguir, González voltou a assumir o cargo. A segunda foi na viragem do século, no ano 2000. O então líder socialista, Joaquín Almunia, viu-se batido nas urnas por José María Aznar e decidiu que era tempo de se afastar. A ele seguiu-se José Luis Zapatero.

Além de Javier Fernández, a comissão gestora é composta por mais nove membros. Para o próximo sábado está marcado um novo comité federal, que deverá discutir qual deverá ser a estratégia do partido numa eventual nova tentativa de investidura de Mariano Rajoy, líder do PP. No estado em que se encontra o PSOE não será fácil gerir uma abstenção. Mas votar contra significa terceiras eleições e o risco de implosão nas urnas é tremendo. O que parece certo é que a comissão gestora estará à frente do partido até à eleição do novo secretário-geral e à realização de um congresso extraordinário, o que só deverá acontecer depois de haver governo em Espanha.

São muitas as incógnitas em todo o processo, mas há duas fundamentais. Rajoy tentará nova investidura ou preferirá eleições? Nas futuras diretas, Pedro Sánchez procurará a ressurreição depois do funeral de sábado?

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