Netanyahu nos EUA à procura do apoio do novo presidente

Chefe do governo israelita precisa de ter um aliado na Casa Branca, o que não sucedeu durante a presidência de Obama. Mas há questões que podem dificultar este objetivo.
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Benjamin Netanyahu vai encontrar hoje, em Washington, um presidente norte-americano como ainda não encontrara desde que assumiu a chefia o governo israelita em 2009: alguém disposto a ouvi-lo, a concordar com ele e apoiá-lo em muitas circunstâncias.

Mas não todas. Como ficou claro pelo comunicado da Casa Branca de 2 de fevereiro, Donald Trump considera que "a construção de novos colonatos ou a expansão dos existentes para além dos atuais limites não será positivo" para a paz no Médio Oriente. Ainda sobre a questão palestiniana, numa entrevista a um diário israelita, o presidente dos EUA declarou que Israel devia atuar de forma "razoável" no processo de paz e, ele próprio, não achava impossível um "acordo final" a consagrar a existência de dois Estados. Outro exemplo: o congelamento da anunciada transferência da embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém, o que não deixaria de ter repercussões negativas para Washington em todo o Médio Oriente. Quarto caso: a Administração Trump já tornou claro que o acordo sobre o nuclear do Irão é para cumprir. Estes são os dados objetivos com que Netanyahu terá de ter presente no encontro com o novo presidente e que não deixarão de influenciar as discussões que irão decorrer na Casa Branca. Mas há sinais de que o primeiro-ministro israelita não vai ter um interlocutor hostil como foi Barack Obama. Netanyahu será recebido na Casa Branca com guarda de honra - o que nunca sucedeu com Obama - e Trump virá recebê-lo pessoalmente à chegada. Um diário israelita, The Times of Israel, ironizava ontem que ambos os dirigentes até poderão tentar bater o "recorde de 19 segundos do aperto de mão entre Trump e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe".

Humor à parte, as questões a tratar entre Trump e Netanyahu são delicadas para ambos os dirigentes e complexas no quadro da atual conjuntura no Médio Oriente. Sinal da importância do encontro na Casa Branca, o embaixador israelita em Washington, Ron Dermer, esteve reunido nos últimos dias com Netanyahu e os seus conselheiros para os informar do que é razoável esperar da presidência Trump. Para assessores de Netanyahu, o fundamental é que não haja "diferenças" entre Israel e os EUA. Ou surpresas, como sucedeu durante a presidência de Obama, que se distanciou deliberadamente de Israel numa tentativa de melhorar a imagem dos EUA entre árabes e muçulmanos.

Se é natural que o embaixador israelita informe o chefe do governo antes de uma visita com a dimensão da atual, The New York Times notava recentemente que Ron Dermer forjou uma relação de grande proximidade com Jared Kushner, genro de Trump, seu conselheiro especial e judeu ortodoxo. A amizade entre o israelita e o marido de Ivanka pode revelar-se importante para um relacionamento Trump-Netanyahu sem imprevistos.

A importância da visita pode ainda avaliar-se pela duração (três dias) e pelos encontros de Netanyahu que, além de Trump, irá reunir-se com o vice-presidente Mike Pence, o secretário de Estado Rex Tillerson, os dirigentes das bancadas republicana e democrata no Senado, Mitch McConnell e Chuck Schumer, e ainda com o presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan.

Netanyahu mostrou-se confiante. Trump "e eu estamos em sintonia sobre os perigos na região [do Médio Oriente], mas também sobre as oportunidades que se apresentam. Vamos discutir como reforçar as relações [bilaterais] em muitas, muitas áreas", disse à partida de Israel.

Citando fontes do gabinete de Netanyahu, The Times of Israel escrevia que os principais temas do encontro serão a guerra civil na Síria, o nuclear iraniano e a questão palestiniana. Este jornal refere que metade do encontro será dedicado à segunda questão, com o resto consagrado às outras.

A interrogação principal é qual será o patamar de entendimento possível entre os dois governantes nos três temas, surgindo, naturalmente, o Irão e os palestinianos como os mais contenciosos. Ainda assim, The Jerusalem Post escrevia ontem ser mais fácil para Trump e Netanyahu mostrarem "uma frente unida" sobre o Irão, interpretando de modo distinto o que cada um considera a "ameaça" colocada pelo regime de Teerão. Na questão palestiniana, a convergência pode ser mais difícil. O governo israelita tem argumentado que o conflito entre a OLP e o movimento radical do Hamas e aquilo que consideram falta de legitimidade dos dirigentes da Autoridade Palestiniana tornam impossível a existência de um Estado palestiniano nos próximos tempos. Por isso, muitos no Executivo de Israel advogam agora a anexação da Cisjordânia.

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