Macron abre "nova página" de uma França no "coração da Europa"

Presidente eleito promete construir uma "maioria de mudança" nas legislativas de junho. Le Pen jura ser a líder da oposição.
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Menos de uma hora após o fecho das urnas, Emmanuel Macron dirigiu-se aos franceses para agradecer a todos os que votaram nele e prometer que se abriu "uma nova página na longa história" de França. Com 65,5% dos votos face aos 34,5% de Marine Le Pen, o novo presidente de França quer ser um líder de "esperança e da confiança reencontrada". E jurou: "Defenderei a Europa, é a nossa civilização que está em jogo, a nossa maneira de sermos livres." A verdade é que a vitória do candidato do En Marche! frente à rival da Frente Nacional deixou a Europa a respirar de alívio, com o chefe da diplomacia alemã, Sigmar Gabriel, a ser o primeiro a saudar uma decisão que deixa França "no coração da Europa".

Em tom solene, Macron dirigiu-se aos "concidadãos" prometendo uma "França na vanguarda na luta contra o terrorismo", uma França que lute contra "todas as formas de desigualdades, garantindo a vossa segurança e a união da nação". O novo presidente deixou uma "saudação republicana" à adversária e teve ainda uma palavra para o presidente François Hollande, de quem foi ministro da Economia, antes de deixar o governo após ter fundado o seu movimento En Marche!.

A noite foi de festa, com uma multidão de apoiantes reunidos junto à Pirâmide do Louvre para aplaudir Macron. Foi um presidente eleito mais descontraído o que subiu ao palco para garantir: "A França ganhou!" Num tom mais entusiasta e menos presidencial, Macron prometeu lançar-se à tarefa de construir "uma maioria de mudança". O trabalho começa já hoje. Uma das grandes dúvidas é quem vai escolher para primeiro-ministro. Fala-se do centrista François Bayrou, mas também de Ségolène Royal, ministra do Ambiente e candidata presidencial em 2007, e ainda de outras personalidades menos conhecidas como a ex-ministra do Comércio Anne-Marie Idrac.

Seja quem for, terá de ajudar Macron a preparar umas legislativas marcadas para 11 e 18 de junho que serão o seu primeiro grande teste. Sem um partido atrás dele, como é que o presidente vai garantir uma maioria de governo estável é a grande questão, tendo ele ainda a difícil tarefa de equilibrar novidade e experiência.

E apesar da derrota, Marine Le Pen já deixou claro que está na luta para as legislativas. Menos de um quarto de hora depois de conhecidas as projeções, a candidata da FN reagia. A partir do Bois de Boulogne, Le Pen afirmou que os franceses "escolheram um novo presidente e optaram pela continuidade". Longe do resultado que as sondagens lhe chegaram a dar, Le Pen conseguiu mesmo assim quase 11 milhões de votos, o dobro do que o pai, Jean-Marie, teve quando passou à segunda volta em 2002.

A candidata da extrema-direita deixou várias promessas para o futuro. Primeiro, que estará à frente da FN para as legislativas, depois de ter suspendido a sua liderança durante a campanha. E garante que a votação "histórica e maciça" que obteve faz da FN "a primeira força da oposição". Aproveitando o desaire do PS, mas também d"Os Republicanos, Le Pen explicou que "esta segunda volta organiza uma recomposição política entre patriotas e mundialistas". E será entre estas duas visões do mundo que os franceses terão de escolher nas legislativas. Para se preparar para essa batalha, Le Pen anunciou uma "renovação profunda" da Frente Nacional, de forma a estar "à altura desta oportunidade histórica". E o vice-presidente do partido, Florian Philippot, falou na TF1 numa mudança de nome da formação.

Fundador da FN, Jean-Marie Le Pen não tardou a reagir. Culpando pelo resultado "dececionante" da filha a sua insistência em temas como "o euro, a Europa e a reforma aos 60 anos", Le Pen, 88 anos, recordou que qualquer mudança no partido "depende do congresso. Não depende de Marine Le Pen nem de Florian Philippot, que devia manter-se discreto tendo em conta o fracasso da noite". Ainda na família, a deputada da FN Marion Maréchal-Le Pen, sobrinha de Marine, também considerou o resultado da tia "uma deceção", e sublinhou que é preciso "tirar lições" disto.

Mas se Marine Le Pen quer ser a nova líder da oposição, Jean-Luc Mélenchon promete disputar o lugar. O candidato da França Insubmissa, quarto na primeira volta e que nunca apelou claramente ao voto em Macron, distinguiu-se de outros dirigentes de esquerda e direita, que logo deram apoio ao novo presidente - como os ex-primeiros-ministros Manuel Valls e Dominique de Villepin -, preferindo atacar o "programa do novo monarca presidencial". E apelou aos sete milhões que votaram nele para irem às urnas em junho para "um voto positivo, a escolha de um futuro comum".

Macron votou de manhã em Touquet com a mulher, Brigitte. O novo presidente prometeu oficializar o papel de primeira-dama, até agora apenas informal em França.

Já Marine Le Pen votou no seu feudo de Hénin-Beaumont, onde ativistas do grupo Femen colocaram na igreja local um estandarte em que se lia "Marine ao poder, Marianne em desespero". Marianne é a figura feminina que representa a República Francesa.

A abstenção era uma das grandes preocupação na segunda volta. Feitas as contas, foi de 25,3% (12 milhões de pessoas), o recorde desde 1969 (31,1%), no duelo entre Georges Pompidou e Alain Poher. Ontem houve ainda 12% de votos brancos ou nulos - 4,2 milhões, o dobro de há cinco anos.

Ao início da noite, Sigmar Gabriel garantia que, com a vitória de Macron, a França fica "no coração da Europa". Pouco após o discurso da vitória, Macron esteve dez minutos ao telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel. Segundo a AFP que cita fonte da candidatura do centrista, a conversa foi "calorosa". Macron já dissera que o seu primeiro telefonema para um líder estrangeiro seria para Merkel. O novo presidente francês deve ir a Berlim em breve, mas a sua primeira visita ao estrangeiro será a tropas francesas.

Ainda em termos de reações europeias, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, sublinhou, também no Twitter, que os franceses escolheram "um futuro europeu". Já o presidente do Parlamento Europeu, Donald Tusk, deu os parabéns a Macron e aos "franceses por terem escolhido a liberdade, igualdade e fraternidade e dito não à tirania das notícias falsas".

A primeira-ministra britânica, Theresa May, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestaram ambos, no Twitter, o desejo de trabalhar com o novo líder francês no futuro.

Nesta segunda-feira, Macron vai estar ao lado de Hollande nas celebrações do fim da II Guerra Mundial na Europa. No dia 14 toma posse como oitavo presidente da V República. E o mais jovem, aos 39 anos.

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