Fundador da Blackwater está a bombardear na Líbia

Erik Prince defende parcerias público-privadas para estabilizar este país magrebino e mitigar a crise dos refugiados na UE.
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A ideia é simples. Com base em "muitos anos de experiência em questões militares e civis", Erik Prince, o fundador da Blackwater, tem uma "solução para restaurar a estabilidade na Líbia e mitigar a crise" dos refugiados: bombardear a costa marítima deste país magrebino para desencorajar a realização das viagens organizadas pelos traficantes de pessoas rumo à UE.

A iniciativa, descrita num artigo publicado no Financial Times (FT) no início deste ano, estaria já a ser posta em prática, revela uma notícia de uma publicação digital sobre informações estratégicas, o Intelligence Online (IO), que refere estarem as ações de Prince a serem financiadas num quadro de "operações especiais dos Emiratos Árabes Unidos [euroEAU]na Líbia".

No texto no FT, Prince defende "uma parceria público-privada para resolver a crise dos migrantes", com as "operações aéreas fornecidas por profissionais terceiros". O que poderia estar já a suceder, com o fundador da Blackwater a pagar pilotos, na maioria americanos, que operam a versão militar de aviões Air Tractor Ioxmax AT-802. O grupo estaria baseado em Al-Khadim, numa região no leste do país, em instalações sob controlo do marechal Khalifa Haftar, fiel ao governo de Fayez al-Sarraj, reconhecido pela comunidade internacional e apoiado pelos EAU. Em outubro de 2016, a Jane"s Defence Weekly (JDW)escrevia que, desde março do mesmo ano, novas infraestruturas começaram a ser edificadas: novos edifícios, mais zonas de estacionamento para aviões e o prolongamento da pista principal. Além dos AT-802, imagens de satélite de julho passado mostravam dois helicópteros Black Hawk, aviões de transporte Iliouchine e dois aviões não tripulados. Os primeiros aviões teriam sido detetados em 2015, sem quaisquer sinais de identificação, segundo o IO.

As milícias que não reconhecem o governo de Al-Sarraj divulgaram, em setembro, a informação de terem sido alvo de ataques de aviões idênticos aos operados pelos EAU, referia em outubro a JDW.

Prince, que se desfez da Blackwater em 2010, na sequência das guerras do Iraque e do Afeganistão, criou posteriormente a Reflex Responses, também na área da segurança e, posteriormente, a Frontier Services, que opera em diferentes setores, entre os quais o logístico, o aéreo e o da segurança. Entre os parceiros de Prince na Frontier estão personalidades alegadamente com ligações aos serviços secretos de Pequim.

Prince tem residência em Abu Dhabi, nos EAU, e em Middleburg, na Vírginia, sendo irmão de Betsy DeVos, a escolha de Donald Trump para a pasta da Educação. Prince e a irmã estiveram ativamente envolvidos na campanha do candidato republicano, contribuíram para o seu financiamento e o empresário e a mulher estavam com os Trump na noite de 8 de novembro. Segundo escrevia na passada terça-feira a publicação online The Intercept, o fundador da Blackwater estaria a aconselhar a equipa de Trump na área das informações e da defesa. O autor do texto, Jeremy Scahill, cita fontes da equipa de transição e é um profundo conhecedor do trajeto de Prince, tendo publicado um livro sobre aquela empresa em 2007.

No mesmo texto de The Intercept é referido que Prince colaborou com a CIA "num programa secreto de assassínios" após o 11 de setembro e defendeu, numa entrevista em julho, a aplicação da mesma solução aos "financiadores do terror islâmico".

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