Obama pede em Hiroxima que a memória da bomba atómica não se desvaneça
O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, esteve esta sexta-feira em Hiroxima, a primeira cidade vítima da bomba atómica em 1945. Obama chegou à cidade a bordo de um helicóptero às 17:00 locais (09:00 em Lisboa), para participar numa cerimónia em que participam cinco sobreviventes do ataque norte-americano em solo japonês. A cidade de Hiroxima foi bombardeada a 6 de agosto de 1945, tendo o ataque a Nagasáqui acontecido três dias depois.
À chegada a Hiroxima, Obama depositou uma coroa de flores no memorial que recorda as vítimas da bomba atómica, refletindo de olhos fechados durante cerca de meio minuto - um momento solene da primeira visita de um chefe de Estado norte-americano à cidade atingida pelo primeiro ataque nuclear da história.
Num breve discurso, ao lado do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, Obama começou dizendo que "há 71 anos, a morte caiu do céu" em Hiroxima. "A humanidade mostrou ter meios para se destruir a si mesma", acrescentou. "Estamos aqui, no meio desta cidade, e forçamo-nos a imaginar o momento em que a bomba caiu. Meras palavras não conseguem dar voz a tal sofrimento. Um dia, as vozes deixarão de estar connosco para dar testemunho, mas a memória não pode nunca desvanecer. É essa memória que alimenta a nossa imaginação. Permite-nos mudar. Desde aquele dia trágico, fizemos escolhas que nos dão esperança", referiu Obama. Sobre as armas nucleares, o presidente dos EUA reforçou a necessidade de o mundo "ter a coragem de escapar à lógica do medo e procurar um mundo sem elas", considerando a visita a Hiroxima como "uma oportunidade para reafirmar o compromisso na procura da paz e a segurança de um mundo onde as armas nucleares não serão necessárias".
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Sem pedir desculpas pelo lançamento da bomba atómica - como, de resto, vinha dizendo nos últimos dias - o presidente dos EUA optou por recordar os horrores da Segunda Guerra Mundial, sublinhando a esperança de que a situação de Hiroxima possa levar a um "despertar moral". "Temos as responsabilidades partilhadas de olhar diretamente nos olhos da história. Temos de perguntar o que devemos fazer para conter este sofrimento uma outra vez".
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A assistir ao discurso de Obama estiveram cinco sobreviventes da bomba atómica, que o presidente cumprimentou no final. Chegou mesmo a abraçar um dos que assistiam, visivelmente emocionado. Conversou ainda com Sunao Tsuboi, de 91 anos, que dissera à imprensa que queria transmitir ao presidente dos EUA a gratidão pela visita a Hiroxima.
Depois de Obama, foi a vez de Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês, discursar: agradecendo a "coragem" de Obama pela visita "histórica", sublinhou que a presença em Hiroxima do presidente norte-americano é sinal de esperança para aqueles que gostariam de ver o mundo sem armas nucleares. Deixando uma palavra de gratidão para os que, nos EUA e Japão, trabalharam pela reconciliação das duas potências nos últimos 70 anos, o primeiro-ministro japonês assegurou que os dois países tornar-se-ão "uma luz de esperança".
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Antes de Barack Obama, só o presidente norte-americano Jimmy Carter tinha estado em Hiroxima, mas muitos anos depois de deixar a Casa Branca, já em 1984. Richard Nixon também esteve no local, em 1964, quando ainda não tinha sido eleito para a presidência dos EUA.