Arábia Saudita cria coligação islâmica contra o terrorismo
A Arábia Saudita, que faz parte da coligação internacional liderada pelos EUA no combate ao Estado Islâmico, anunciou a criação de uma aliança militar islâmica paralela para lutar contra o terrorismo. A iniciativa, que envolve 34 países de África, Ásia e da Península Arábica, foi aplaudida pela comunidade internacional, apesar de contar com várias ausências de peso - não só o rival regional Irão, mas também o Iraque e a Síria - e poder intensificar mais a divisão entre sunitas e xiitas.
Os 34 países (entre eles Turquia, Paquistão, Jordânia, Egito ou Marrocos) "decidiram formar uma aliança militar liderada pela Arábia Saudita para lutar contra o terrorismo, com um centro conjunto operacional sedeado em Riade para coordenar e apoiar as operações militares", revelou a nova coligação num comunicado, publicado pela agência de notícias saudita, SPA.
Segundo o texto, a coligação baseia-se no Alcorão e na lei islâmica "que rejeita o terrorismo em todas as suas formas e manifestações porque é um crime hediondo e uma injustiça". O grupo é formado por países de maioria sunita, ficando de fora o Irão, rival regional de maioria xiita. "Isso converte a aliança numa empresa essencialmente sunita, o que corre o risco de agravar a fratura sectária que está subjacente à maioria dos conflitos no Médio Oriente", escreveu a correspondente do El País, Ángeles Espinosa.
Por outro lado, também ficaram de fora Iraque ou Síria, países onde está implantado o Estado Islâmico. "A coligação não se limitará a combater o Daesh [acrónimo em árabe do Estado Islâmico] mas qualquer grupo terrorista que nos faça frente", indicou o príncipe Mohamed Bin Salman, ministro da Defesa saudita, filho do rei e segundo na linha de sucessão ao trono.
O correspondente de segurança da BBC, Frank Gardner, alertou para o problema da definição de terrorismo, lembrando que para as autoridades sauditas esta se estende para além das ações violentas ou insurgências armadas. "Legislação recente rotulou ativistas pacifistas da oposição e reformadores como terroristas suspeitos e uma ameaça para o país", escreveu.
Em relação à Síria e ao Iraque, o príncipe saudita indicou que "haverá coordenação internacional com as grandes potências e organizações internacionais". Entretanto, o chefe da diplomacia da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, indicou que a possibilidade de serem enviadas forças especiais para a Síria, dentro da coligação liderada pelos EUA, não foi ainda posta de parte.
A comunidade internacional já reagiu. O secretário da Defesa norte-americano, Ashton Carter, disse que os EUA estão "ansiosos para saber mais sobre esta coligação" que, em geral, "parece estar em linha com algo que temos vindo a exigir há algum tempo, que é um maior envolvimento dos países árabes sunitas" contra o Estado Islâmico. O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, disse que esta era "a melhor resposta para aqueles que estão a tentar associar o terror ao Islão".
Kerry em Moscovo
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse ontem ao presidente russo, Vladimir Putin, que EUA e Rússia têm a "capacidade para fazer a diferença" e acabar com o conflito na Síria. Os dois países discordam do papel que o presidente sírio, Bashar al-Assad, deverá representar - Washington quer que ele se afaste, Moscovo defende que devem ser os sírios a decidir.
À saída de um encontro com Putin e o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, Kerry disse que foi possível encontrar "espaço de convergência comum" em relação à forma como grupos opositores sírios podem participar nas negociações de paz. A terceira ronda de negociações internacionais sobre a Síria começa sexta-feira em Nova Iorque.