Narcos de saltos altos para contar o mundo da droga no feminino

Rainha do Sul é a história de uma mulher de origem mexicana que chefia o narcotráfico numa cidade dos EUA. A brasileira Alice Braga, sobrinha de Sônia Braga, e o português Joaquim de Almeida integram o elenco de atores
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Nas séries, e mesmo nos filmes, o tema do narcotráfico tornou-se presença habitual desde que Narcos trouxe a história do lendário Pablo Escobar às luzes da ribalta. Rainha do Sul, um enredo folhetinesco que se estreia hoje às 23.10 na Fox Life, transporta os espectadores para Miami, onde Teresa Mendoza (Alice Braga) chefia o tráfico de drogas.

A atriz brasileira, sobrinha da lendária Sônia Braga, identifica a história como sendo sobre girl power. "É divertido de ver, em quase todas as cenas, as várias mulheres poderosas da história a lutar pelas próprias vidas, ou mesmo só a conseguir sobreviver, neste ambiente masculino que são os cartéis da droga", descreve a protagonista em exclusivo ao DN.

A opção de criar uma versão norte-americana do livro homónimo de Arturo Pérez-Reverte acontece justamente por os produtores considerarem que "normalmente o mundo da droga é retratado do ponto de vista dos homens". Na verdade, a série é a segunda encarnação televisiva da história. Em 2011, a cadeia norte-americana Telemundo produziu uma telenovela, La Reina del Sur, baseada no mesmo livro. É a partir desta primeira produção televisiva que a USA Network inicia a adaptação da história de Rainha do Sul.

David T. Friendly, produtor executivo, detalha ao Deadline que, para ele, "o gancho é ver como é que ela sobrevive no mundo da droga", referindo como inspiração a história real de Griselda Blanco, lendária traficante de Miami que inspirou o documentário Cocaine Cowboys.

A protagonista Teresa chega aos Estados Unidos como refugiada e disposta a lutar por uma oportunidade. Substitui o namorado El Guero na liderança de um cartel, depois de este ter sido assassinado no México. Para conseguir ocupar este lugar, terá de fazer alianças improváveis com figuras provenientes do seu passado e defrontar outros criminosos, como Don Epifanio Vargas, a personagem de Joaquim de Almeida.

O português interpreta aqui um dos mais importantes chefes do narcotráfico, que Teresa quer ajudar a derrubar. Vargas é um criminoso de colarinho branco que, ao mesmo tempo que lucra com negócios ilícitos, alimenta ambições políticas. O ator destaca como sendo "bastante excitante ver as mulheres com este tipo de poder".

Embora o percurso de Teresa não seja o usual para a protagonista de uma série, Alice Braga espera que o público goste desta anti-heroína. "Ela quer muito sobreviver e é alguém que não quer magoar ninguém, está só a lutar pela vida dela, como fez desde sempre. Eu não gosto de personagens que são "simpáticas" e fáceis de gostar. Gosto de personagens que sejam humanas e reais. E é isso que estou a tentar fazer, torná-la realista e intensa, mais do que alguém que é só uma rapariga fácil de gostar".

Crítica positiva

A crítica parece ter sido a primeira a simpatizar com a personagem. Mary McNamara, jornalista do Los Angeles Times, descreve Braga como "ainda mais do que aquilo que a USA Network podia esperar" para fazer esta personagem.

Quando confrontada com as comparações com Pablo Escobar (de Narcos) e com Walter White (de Breaking Bad), Alice diz que, no presente, Teresa é mais Walter White, mas no futuro acabará por ser mais Pablo Escobar, o carismático narcotraficante colombiano que inspirou Narcos, um dos sucessos da Netflix. "Ao início, White faz tudo pela família. Teresa inicialmente também nunca pensa no poder, pensa só em salvar-se, não em tornar-se a Rainha do Sul", explica a atriz.

O elenco é constituído, em grande parte, por atores de origem latina, o que David Friendly destaca como um dos garantes de autenticidade desta história. "Todos são fluentes em espanhol e vários deles são do México", refere. "É muito, muito importante que não façamos isto como no passado, que era homogeneizando a história e escolhendo atores americanos para alcançar uma audiência maior. Sabíamos que havia muitos bons atores por aí, com legitimidade para fazer estes papéis, e nós encontrámo-los."

No entanto, a autenticidade não é vista como um mero acessório. A série tem como objetivo mostrar as reais consequências de fazer parte do mundo da droga. "Não há dúvida que ser um senhor da droga é dramático e poderoso, mas eles destroem vidas e famílias. Queremos mostrá-lo de forma realista", acrescenta o produtor, destacando que "o mais importante é nunca glamourizar, porque isso nunca é bom de se fazer", acrescenta.

Depois de uma primeira temporada com 13 episódios, que se revelou um sucesso para o canal que a transmitiu nos Estados Unidos, com quase 1,5 milhões de espectadores por semana, já está garantida uma segunda. Em 2017, Teresa continuará na senda de conquistar o domínio no submundo do crime.

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